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Família faz rifa beneficente para criança de três anos e vencedora devolve o prêmio

Cabeleireira comprou algumas das 360 rifas vendidas, mas disse que não poderia aceitar o carro ofertado

Por Sara Abdo
Atualização:
Akkon, de 3 anos. Foto: www.facebook.com/Todos-pelo-Akonn

Uma família de cinco pessoas foi positivamente surpreendida por uma cabeleireira após ela ser sorteada e não aceitar o carro, de modelo Uno Fire 2006, no valor de R$ 7 mil, entregue como prêmio de uma rifa beneficente. A rifa serviria para ajudar no tratamento de Akonn, um garotinho de três anos com uma rara e grave doença oftalmológica. “Não tenho nem palavras. Já agradeci demais”, disse em entrevista ao E+ Jéssica Verdugo, mãe da criança.

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Toda a história começou em novembro de 2017, quando os pais e os dois irmãos mais velhos de Akonn notaram que ele estava caindo e batendo em todos os lugares, como se não soubesse onde estava. Uma consulta pediátrica estava agendada para o dia 30 daquele mês, mas, às vésperas, a mãe notou que o olho esquerdo estava absolutamente branco. 

A consulta pediátrica precisou ser substituída por uma oftalmológica de urgência. O médico identificou que uma catarata congênita, alteração que dificulta a focalizar a luz que vem de fora,já havia provocado perda da maior parte da visão do olho esquerdo e 1,5 grau no direito.Também foi diagnosticada a leucocoria total, reflexo pupilar anormal branco  ou amarelo esbranquiçado e Persistência Vitral Primária Hiperclásica (PVPH). Uma cirurgia precisava ser feita antes que o olho direito fosse muito danificado, mas o custo alto, de R$ 20 mil, exigiu da família esforços extras.

A mãe tentou vender o carro e conseguir pelo menos R$ 10 mil para dar entrada na cirurgia, que seria feita de qualquer forma. Porém, as concessionárias não ofertavam mais de R$ 7 mil. Para agravar o cenário, o veículo é ferramenta essencial do trabalho de Eduardo Verdugo, pai de Akonn, que vende roupa de cama de porta em porta em São José do Vale do Rio Preto e na região serrana do Rio de Janeiro. A mãe é dona de casa.

Então, por sugestão de um amigo, no final de novembro a família imprimiu rifas que foram vendidas por R$ 50. Quem tivesse o bilhete sorteado, receberia o veículo. Logo no início de dezembro, no dia 8, a cirurgia foi realizada. No dia 10, um almoço beneficente também serviu para arrecadar dinheiro e comemorar o aniversário de três anos de Akonn. 

Um dos interessados em ajudar foi a cabelereira Isabel Soares, que comprou algumas rifas e ajudou a vender outras no salão de beleza em que trabalha. No dia 31 de janeiro, um dos bilhetes que ela comprou foi o sorteado na loteria federal. Ao ser comunicada de que ganharia o carro, ela agradeceu e disse: “mas tem um probleminha, eu não vou querer o carro”, lembrou Jéssica. 

As famílias se conheciam porque Isabel é cliente de Verdugo. “Mas não havia uma amizade consolidada. A gente realmente não esperava essa atitude dela”, relatou Jéssica. Há menos de um ano, Isabel perdeu o filho após ele, motociclista, ser atropelado por um carro que saia da garagem em alta velocidade. O E+ está em contato com a cabelereira e aguarda retorno.

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História bem encaminhada. As rifas foram vendidas durante dois meses e a família arrecadou R$ 18 mil apenas nos bilhetes - 360 ao todo. Algumas doações em dinheiro foram recebidas e, no final, a família conseguiu quase R$ 26 mil.Com o valor, foi possível pagar a cirurgia, nove consultas e exames. Sobrou R$ 1600, que serão destinados a um óculos especial, tampão no olho direito para forçar o esquerdo a exercitar a visão e tratamentos que serão feitos até Akonn completar oito anos. 

Jéssica contou que vendeu rifas até pela internet. A família criou a página Todos pelo Akonn e por ali conseguiu arrecadar dinheiro também. “Os interessados mandavam comprovantes de transferência e eu tirava foto do número do bilhete”, disse.  Os outros filhos do casal foram submetidos a exames e não têm a mesma doença de Akonn. Na manhã do Natal, o garotinho acordou com um pouco da visão do olho esquerdo recuperada.

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