PUBLICIDADE

Exagero no uso de filtro em selfies pode revelar fragilidade emocional

Doutor em Psicologia, Leonardo Goldberg alerta: ‘Perfeição atingível apenas através da imagem computadorizada’

Por Camila Tuchlinski
Atualização:
Uso exagerado de filtro em selfies pode revelar fragilidade social. Foto: Pixabay

Como resistir à tentação de usar filtro quando se faz uma selfie? Os recursos de alteração de imagem de uma fotografia são inúmeros. Trata-se de uma nova forma de maquiagem virtual, da qual muita gente não vive mais sem. Até que ponto o exagero no uso de filtros em imagens pode revelar a fragilidade emocional de um indivíduo?

PUBLICIDADE

Para desvendar o assunto, a reportagem do E+ entrevistou o psicanalista Leonardo Goldberg, doutor em Psicologia.  Ele lembra que as pessoas sempre sentiram vontade de realizar edições na própria imagem, como com a própria maquiagem, que data já do antigo Egito.

Essa necessidade, do ponto de vista estético, faz com que o sujeito tente se aproximar de uma imagem ideal, que varia de acordo com o tempo e a cultura. E é aí que mora o perigo, enfatiza o psicanalista: “Apesar de o conceito de imagem ideal ser inalcançável, o sujeito hoje é bombardeado por uma exigência estética computadorizada, editada através de filtros, Photoshop, cada vez mais acessíveis por qualquer usuário que consiga manejar um smartphone”. Para o especialista, essa necessidade de editar a própria imagem, sobretudo na selfie, faz com que o sujeito tenha a impressão - sempre passageira - de que diminuiu a distância entre a beleza que tem e aquela que gostaria de ter. “O engano é crer que a concepção do belo pode ser pautada pela supressão das marcas, das pequenas assimetrias, imperfeições, que às vezes destacam a beleza de cada um”, analisa.

O conceito de beleza pode ser pautado pelo fim das imperfeições? Foto: Pixabay

O uso exagerado de filtros em selfies também pode revelar uma espécie de disputa entre os internautas. “O que pauta a disputa nas redes é uma lógica do reconhecimento: aquele que é mais curtido torna-se uma influência digital. Os perfis com maior engajamento, das celebridades digitais, não ao acaso, são seguidos por milhões de pessoas e seguem pouquíssimas. Um exemplo claro desta disputa é o perfil que segue, é seguido de volta e depois deixa de seguir o usuário. É um circuito muito concreto de uso do outro enquanto espectador”, afirma Leonardo Goldberg.

Excesso de filtro pode provocar transtorno de imagem?

Uma pesquisa do Boston Medical Center, publicada noJAMA Facial Plastic Surgery Viewpoint, revela que o uso de filtros pode afetar a autoestima de uma pessoa e desencadear transtornos dismórficos corporais. “Selfies filtradas podem fazer com que as pessoas percam o contato com a realidade, criando a expectativa de que devemos estar perfeitamente preparados, bonitos, elegantes e desejáveis o tempo todo. Isso pode ser especialmente prejudicial para adolescentes e pessoas com Transtorno Dismórfico Corporal e é importante que os cirurgiões plásticos compreendam as implicações das mídias sociais na imagem corporal para melhor tratar e aconselhar os pacientes”, defende Ruben Penteado, integrante da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. O psicanalista Leonardo Goldberg acredita que associar uso de filtros ao transtorno de imagem é exagero. “É impossível corroborar com a tese. Seria mais prudente pensarmos que os filtros aparecem para suprir uma demanda e um sintoma da cultura - o que chamamos de estética - cada vez mais agressiva, que idealiza corpos e rostos de uma perfeição atingível apenas através da imagem computadorizada”, argumenta.  Para o doutor em Psicologia, os filtros são apenas um ‘possível’ nessa equação: “A medicina estética, através da nutrologia e da cirurgia plástica, por exemplo, fornecem ‘filtros’ que também editam os corpos através de prescrições hormonais, cortes e suturas na própria carne. O botox, os lábios inchados, os idosos com pele firme, são típicos fenômenos contemporâneos que revelam o quanto nossa concepção do belo tem a ver com a promessa de estancar o tempo".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.