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Estátua de mulher 'sensual' gera debate sobre sexismo na Itália

Alvo de críticas e pedidos de remoção por parte de diversas políticas italianas, a escultura retrata uma mulher com um vestido transparente com um braço sobre os seios

Por Agências
Atualização:
Um artista está defendendo sua escultura de uma camponesa do século 19 contra acusações de sexismo depois que sua recente revelação gerou indignação entre legisladores italianos e críticos de arte que diziam que ela parecia mais uma estrela do que uma camponesa. Foto: Valentino Palermo via AP

A inauguração de uma estátua de bronze de uma mulher seminua em homenagem a um poema do século 19 gerou polêmica na cidade de Sapri, no sul da Itália, e reacendeu o debate sobre sexismo no país. 

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Alvo de críticas e pedidos de remoção por parte de diversas políticas italianas, a escultura, que celebra o poema La Spigolatrice di Sapri, escrito por Luigi Mercantini em 1857, retrata uma mulher com um vestido transparente com um braço sobre os seios. 

A obra foi criada pelo artista Emanuele Stifano e representa um símbolo patriótico do Risorgimento Italiano e faz referência ao texto de Mercantini, escrito do ponto de vista de uma mulher, que narra a história de uma trágica expedição de Sapri de Carlo Pisacane contra o reino de Nápoles. 

A polêmica surgiu pelo fato de a estátua representar uma mulher "sexy" e que, segundo os críticos, não traduz o estilo das trabalhadoras do século 19. A respigadora é alguém que coleta grãos deixados nos campos pelos colhedores. 

Em suas redes sociais, a deputada de centro-esquerda Laura Boldrini afirmou que a estátua é "uma ofensa às mulheres e à história que ela deveria celebrar". 

"Como as instituições podem aceitar a representação das mulheres como um corpo sexualizado? O chauvinismo masculino é um dos males da Itália", disse Boldrini, que é integrante da Câmara dos Deputados pelo Partido Democrático (PD), no Twitter. 

Além da crítica de Boldrini, um grupo de mulheres políticas do PD em Palermo pediu a remoção e demolição da estátua. "Mais uma vez, temos que sofrer a humilhação de nos ver representadas sob a forma de um corpo sexualizado, sem alma e sem qualquer conexão com as questões sociais e políticas da história", diz a nota. 

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De acordo com a senadora Monica Cirinnà, a obra é "um tapa na cara da história e das mulheres que ainda são apenas corpos sexualizados". "Esta estátua nada diz sobre a autodeterminação da mulher que optou por não ir trabalhar para se levantar contra o opressor Bourbon", acrescentou ela no Twitter. 

O prefeito de Sapri, Antonio Gentile, por sua vez, defendeu a estátua e disse que "ninguém havia criticado ou distorcido a obra de arte", além de ressaltar que ela foi feita com "habilidade e interpretação impecável". 

Já Stifano publicou uma mensagem no Facebook na qual afirma estar "chocado" e "desanimado" com a reação do povo italiano à obra. 

"Quando faço uma escultura sempre tendo a cobrir o mínimo possível o corpo humano, independentemente do sexo. No caso da Spigolatrice, por estar posicionada à beira-mar, 'aproveitei' a brisa do mar que a atinge para dar movimento à saia longa, e assim realçar o corpo", explicou o artista. 

Segundo Stifano, a ideia é ressaltar a "anatomia que não deveria ter sido um retrato fiel de uma camponesa do século 19, mas sim representar um ideal de mulher, evocar o seu orgulho, o despertar de uma consciência, tudo num instante". 

A cerimônia de inauguração ocorreu no último fim de semana e contou com a presença de diversas autoridades italianas, incluindo o ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte

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