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Especialistas discutem o uso de dados pessoais de menores de idade pelo poder público

Pesquisadores e ativistas analisam a tensão entre os conceitos da transparência e da proteção dos direitos de crianças e adolescentes

Por Pedro Prata
Atualização:
Quantidades exorbitantes de dados são geradas e usadas pelos grandes órgãos governamentais Foto: Pixabay/@jamesosborne_

Dados coletados em larga escala por órgãos governamentais são de grande importância para a criação de políticas públicas. No entanto, especialistas afirmam que a legislação brasileira sobre a conduta com relação a esses dados ainda não é clara e que direitos fundamentais de crianças e adolescentes podem ser violados nesse processo.

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A pesquisadora Yasodara Córdova, da Digital Harvard Kennedy School, contou que muito se avançou nas políticas de transparência e no uso de dados em prol da sociedade, porém acredita que excessos foram cometidos nessa evolução e é preciso remediá-los.

“Vivemos um momento em que analisamos essas táticas [de transparência de dados], vimos que ofendemos a privacidade de grupos vulneráveis e estamos procurando soluções para prevenir que não façamos isso de novo no futuro”, disse ao E+.

Para Bárbara Paes, assessora de projetos de acesso à informação da ONG Artigo 19, a tensão entre a demanda por transparência e o direito à proteção dos dados pessoais é o centro da questão.

“Precisamos procurar o equilíbrio entre fornecer informações de interesse público como dados fornecidos sobre serviços, dados demográficos, dados sobre saúde e educação, entre outros, e a proteção da privacidade das pessoas. É importante entender que os dados pessoais podem ser sensíveis, por isso é preciso levar isso em conta na hora de pensar políticas públicas de dados abertos”, falou Bárbara ao E+.

Nos dias de hoje, quantidades exorbitantes de dados são usadas para produzir produtos, direcionar políticas públicas ou para fins mais escusos como, por exemplo, o escândalo sobre o uso de dados obtidos junto ao Facebook pela empresa Cambridge Analytica com o intuito de influenciar a campanha presidencial dos Estados Unidos.

“Hoje, toda a economia de dados e esse universo do big data estão presentes no nosso cotidiano, seja acessando um aplicativo nos meios digitais ou, até mesmo, acessando serviços e espaços públicos. Em tudo isso há um tratamento dos dados fornecidos. Assim, é urgente que a sociedade, as famílias e o poder público possam tratar esse assunto de forma séria, responsável e consciente para que a gente possa desenvolver o que chamamos de cidadania digital”, defendeu Pedro, coordenador do programa Prioridade Absoluta do Instituto Alana, voltado à proteção dos direitos das crianças e adolescentes.

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Ele acredita que os dados pessoais são parte da personalidade de alguém e que, por isso, merecem ser protegidos. Além disso, defende que dados de menores de idade precisam receber atenção especial por se tratar de pessoas mais vulneráveis na sociedade.

“Crianças e adolescentes ainda estão em processo inconcluso de desenvolvimento. A disponibilização de seus dados de maneira irrestrita ou temerária pode trazer consequências graves para o seu desenvolvimento”, disse Pedro ao E+.

Ele fala do direito ao livre desenvolvimento da personalidade: “Crianças e adolescentes têm esse direito de se desenvolver de forma livre sem pressões que violem a integridade física, psíquica e moral desses indivíduos”.

Yasodara acredita que o uso indevido dos bancos de dados pode sim violar esse direito porque “cria um registro permanente de coisas que sejam negativas para essas pessoas no futuro”.

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Nesse sentido, os especialistas concordam que é importante tomar medidas na divulgação de dados pessoais de crianças e adolescentes, para que os indivíduos não possam ser identificados, principalmente quando se fala de pessoas em situação vulnerável.

“O ideal é que os dados sejam anonimizados, isto é, sem elementos que permitam a identificação. É preciso pensar estratégias de modo a conseguir esse tipo de informação no nível mais macro para fazer análises e estudos para entender o tema de interesse de proteção das crianças, mas ao mesmo tempo é preciso pensar individualmente na proteção e na privacidade de cada uma delas”, disse Bárbara.

Os especialistas que colaboraram com esta matéria e suas instituições farão parte de um debate online no YouTube do Instituto Alana (clique aqui) na próxima terça-feira, 19, às 19h, sobre a formulação de políticas de dados abertos e a proteção de dados de crianças e adolescentes.

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*Estagiário sob supervisão de Hyndara Freitas

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