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Criança faz máscaras para ajudar deficientes auditivos na comunicação

Peça é feita com uma parte transparente na região da boca, o que permite a prática de leitura labial e facilita o entendimento de falas

Por João Pedro Malar
Atualização:
Maria Luisa costura desde os sete anos, e tem feito máscaras para distribuir para quem precisa Foto: Priscila Sanches de Almeida / Arquivo Pessoal

As máscaras caseiras são uma das ferramentas que ajudam a proteger as pessoas do contágio do novo coronavírus, mas o uso da peça acaba atrapalhando a comunicação para pessoas com deficiência auditiva. Para ajudar esse grupo, Maria Luisa Almeida Lopez, de dez anos, começou a fazer máscaras em casa com uma parte transparente na região da boca.

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Em entrevista para o E+ a mãe de Maria Luisa, Priscila Sanches de Almeida, explicou que a filha costura desde os sete anos, fazendo aulas particulares, e decidiu aprender a fazer máscaras para ajudar pessoas em situação de rua na cidade de Sorocaba, onde moram, doando as peças. “Ela aprendeu tudo sobre costurar as máscaras por vídeos no YouTube”, explica Priscila.

Priscila é fonoaudióloga, e auxilia deficientes auditivos no processo de reabilitação auditiva. Um antigo paciente dela, Caique, entrou em contato com ela e perguntou se Maria Luisa poderia fazer máscaras diferentes, com a transparência na região da boca, para ajudá-lo a se comunicar.

Maria Luisa com a mãe, Priscila, usando as máscaras com transparência feitas por ela Foto: Priscila Sanches de Almeida / Arquivo Pessoal

A menina atendeu ao pedido e fez uma máscara para ele e outra para a esposa. A peça é inclusiva pois ajuda a pessoa com deficiência a entender o que o outro fala por leitura labial e também que outra pessoa entenda melhor o que a pessoa com deficiência está falando. “É boa pra todo mundo, qualquer um poderia usar”, destaca a fonoaudióloga.

Em pouco tempo Maria Luisa recebeu novos pedidos de pessoas com interesse nas máscaras, e ela as produz no fim de semana, para não atrapalhar nos estudos. A jovem faz cinco máscaras por fim de semana, e as pessoas podem pagar o valor que conseguem ou acham justo. 

Máscara com parte transparente ajuda na comunicação de pessoas com deficiência auditiva Foto: Priscila Sanches de Almeida / Arquivo Pessoal

A máscara é mais difícil de ser feita, pois além de precisar ser dupla ainda é necessário fazer o recorte para o plástico, tudo isso sem deixar espaços ou buracos na peça.

A família arca com todos os custos de compra de materiais, mas estão aceitando doações, em especial de elásticos, para permitir que a produção continue e até se expanda. Hoje Maria Luisa tem uma conta no Instagram e no Facebook, e recentemente criou um canal no YouTube, para divulgar seus trabalhos de costura.

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“Ela gosta de fazer [as máscaras] pois permite que ela veja as pessoas sorrindo. Para ela, costurar desde cedo é normal, é um passatempo durante a quarentena, até para não ficar o tempo inteiro no computador ou na internet”, destaca Priscila.

‘Ainda existem barreiras que precisam ser derrubadas’

O casal que recebeu as primeiras máscaras acessíveis feitas por Maria Luisa foi Paula Bianco, intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e Caique Nunes de Moraes, almoxarife surdo. Caique foi quem fez o pedido para a criança, e se comunica por leitura labial, fala e Libras.

“Quando eu estava de máscara e precisava segurar o bebê, não podia falar em Libras ou fazer leitura labial. Vimos a necessidade de ter algo que nos ajudasse”, comentou Paula em entrevista para o E+. Após pesquisar e encontrar, na Europa, uma mulher que usava a máscara com visor, ele perguntou se Maria Luisa conseguiria fazer uma máscara parecida.

Paula Bianco e o marido, Caique, que possue deficiência auditiva, tiveram uma melhora na comunicação com o uso das máscaras com transparência Foto: Paula Bianco / Arquivo Pessoal

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“A comunicação ficou muito mais clara. Ele consegue enxergar a minha boca, e eu também a dele. A fala dele é complicada, às vezes é complexa de entender, então eu também faço leitura labial”, destaca Paula.

Apesar da melhora na comunicação entre o casal, Paula destaca que nem todos os problemas do marido foram resolvidos: “as barreiras sociais na comunicação com outras pessoas ainda existem. As pessoas [com máscaras sem a parte transparente na boca] precisam tirar a máscara para falar com ele, e aí a pessoa se coloca em risco. Existem barreiras que ainda precisam ser eliminadas”. 

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*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

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