Como dizer 'estou me divorciando' e evitar manifestações de compaixão

A maneira que falamos sobre nossa situação influencia o feedback que recebemos; emoções são contagiosas

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Por Wendy Paris
Atualização:
Em cada divórcio há momentos em que o novo caminho na vida parece ascendente e brilhante Foto: Pixabay

Um mês depois que meu marido e eu decidimos nos separar, tirei alguns dias de férias e fui para Cozumel, na costa do México. Foi minha primeira viagem como uma mulher quase solteira e estava empolgada em viajar sozinha.

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Estava um pouco nervosa. Eu havia falado apenas com alguns amigos sobre meu divórcio, mas não para todos. Como os outros responderiam a mim, uma mulher quase divorciada com um filho? Como eu me sentiria, ao ver a notícia refletida em seus olhos? Como os homens reagiriam?

Estava feliz por ter a possibilidade de fazer um teste como uma mulher divorciada em férias, longe da rotina. Férias proporcionam uma certa leveza, uma pausa de toda a logística ligada a um divórcio.

Enquanto aguardava o ferryboat para Cozumel, não notei pessoas viajando sozinhas. Havia americanos bronzeados, de camiseta e boné; senhoras idosas sentadas no chão com cestas de abacates e cebolas; meninas com vestidos de babados rindo e correndo uma atrás da outra.

Um jovem de bermuda sorriu para mim e meneou a cabeça. "Cansada?", perguntou-me em meio à multidão.

"Meu avião partiu muito cedo", respondi.

No ferryboat nos sentamos próximos. "Quanto tempo vai ficar em Cozumel?", ele perguntou.

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"Apenas duas noites", respondi.

"Só duas noites? Por que?

"Bem..., estou me divorciando e minha mãe achou que eu precisava de uns dias de férias. Assim, deixei meu filho de quatro anos com ela e vim visitar minha irmã que está em Cozumel para mergulhar. Mas ver-me de novo solteira, com 45 anos, me deixa um pouco inquieta.

"É complicado", disse ele.

"Mas tudo bem. Parece que é a coisa certa a fazer".

"É complicado quando você amou alguém e depois tudo acaba". Ele colocou sua mão no meu joelho". "Sinto muito".

Sorri. Ele sentia. Além disso, estava certa de que ele queria dormir comigo, o que achei algo lisonjeiro, embora não estivesse à procura disto. O que desejava era me assegurar de que ficaria bem, de que a minha nova situação não faria as pessoas fugirem de mim. 

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"Gostaria de dançar?", ele perguntou quando um grupo de salsa começou a tocar.

Claro! Isto é o que você não pode fazer quando está casada e viajando com a família, pensei. Dançar com um estranho em um ferryboat atravessando as águas do Caribe.

Nós nos separamos em Cozumel. Na manhã seguinte, o feedback positivo em relação ao meu divórcio continuou. Em uma joalheria próxima do hotel, o proprietário perguntou se eu era casada.

Eu examinava um par de brincos de prata. "Estou me divorciando", respondi.

"Toca aqui!" E levantou sua mão para nos congratularmos. "25% de desconto em tudo o que estiver na loja!"

Então ele se aproximou e disse: "você tem de examinar sua carteira".

Em uma loja de cosméticos disse à vendedora que precisava de uma novo batom para minha nova vida de solteira. Ela afagou minha mão "Desejo-lhe boa sorte. Sinto que coisas boas vão acontecer com você. Acredito de verdade nisto".

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Adorei este apoio entusiasmado de estrangeiros. Lembrei-me de uma outra época em minha vida - quando fiquei noiva. Como futura esposa, senti-me a rainha da festa. As pessoas que não conhecia agiam como se minha mera existência fosse motivo de comemoração. 

Uma alegria contagiosa similar se verificou quando fiquei grávida. As outras mulheres me traziam água, cediam sua cadeira, compartilhavam detalhes do seu próprio parto. Adorava como esses ritos de passagem me ligavam aos outros. As novas mamães falavam sussurrando como ter um filho lhe dá entrada exclusiva num novo clube. O divórcio também.

Como eu, muitas pessoas ficam inquietas quando comunicam seu divórcio. Ficam nervosas, prevendo uma reação negativa ou sendo suscetíveis a conselhos destrutivos de estranhos. Esta vulnerabilidade tem sentido. Equivale a arrancar o piso da casa. De pé, sobre a argamassa, não sabemos bem qual será o resultado. Entramos em uma nova condição, que não é a de "a de esposa feliz", mas também não é a de "ainda solteira".

Não tenho intenção de ficar para sempre no clube dos divorciados. Mas descobri que falar sobre o divórcio reforça uma verdade importante: que não estamos sós. Anualmente um milhão de divórcios ocorre nos Estados Unidos e o número aumenta cada vez mais em todo o mundo. Em torno de três quartos dos americanos são tocados por um divórcio, ou deles próprios, ou tendo um pai, um filho ou parceiro que se divorciou.

No México a notícia da minha separação foi recebida de modo muito positivo, não só porque estava em uma cidade turística conversando com vendedores entusiasmados para me acolher calorosamente e me convencer a gastar o máximo possível, mas também porque estava de férias, livre das preocupações habituais. Estava otimista e minha vida parecia repleta de possibilidades. Outros sentiram minha animação e isto repercutia em mim.

Ao voltar para casa meu entusiasmo com o fim do casamento não continuou da mesma maneira, alimentado por piñas coladas em Cozumel. A vida real envolve preocupações reais que debilitam qualquer esperança.

Mas a maneira que falamos sobre nossa situação influencia o feedback que recebemos. Emoções são contagiosas. O que eu precisava, descobri, era um roteiro preparado sobre o meu divórcio, algo que conseguisse decorar e repetir sempre que questionada por alguém que não conhecesse muito bem. Isto me permitiu falar sobre a minha separação - ela é amigável; achamos que é o melhor para nós; nosso filho parece mais feliz por passar tanto tempo com cada um de nós - sem ter de evocar emoções mais profundas a cada conversa.

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Em cada divórcio há momentos em que o novo caminho na vida parece ascendente e brilhante. Descobri que é importante criar uma reserva de momentos positivos e lembranças encorajadoras, que nos tire dos dias sombrios e nossa vida se torne mais iluminada. 

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