Com 'A Ciumenta', Renata Brás traz o tema para debate e psicólogo analisa

Personagem do humorístico 'A Praça É Nossa' caiu no gosto popular e acaba levando o assunto do ciúme a discussões

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Por Thaíse Ramos
Atualização:
Apolo (Davi Novaes) e a esposa ciumenta (Renata Brás) no humorístico 'A Praça É Nossa', do SBT. Foto: SBT/Lourival Ribeiro

Renata Brás, atriz do humorístico A Praça é Nossa, interpreta uma mulher bastante ciumenta há três anos no programa do SBT. O trabalho da artista caiu no gosto popular e com o grande sucesso, ela acabou se inspirando a escrever o monólogo A Ciumenta, que esteve há pouco tempo em cartaz no Teatro Itália, São Paulo, e deve seguir para outras cidades e estados do País em breve.

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Ao Estadão, Renata contou que é constantemente parada nas ruas por pessoas que se indentificam com a ciumenta da atração comandada por Carlos Alberto de Nóbrega. A atriz revelou, ainda, que chega a receber mensagens via Instagram de seguidores que confundem a vida pessoal da artista com a da personagem, pois eles se dispõem a dar conselhos a ela. "Teve o caso de uma mulher que escreveu no direct me dando dicas. Na cabeça dela, eu realmente sou ciumenta e sou casada com o ator que faz o quadro comigo (personagem Apolo de Davi Novaes)", relata.

"Ela disse: 'Se ele viaja a trabalho, Renata, você arruma as malas dele só com roupas claras, de preferência apenas claras. Ele não vai entender, mas fala que é para ele ficar mais bonito... Porque se ele abraçar alguma mulher que está com base, se ele ficar agarrando forte, vai voltar com base na roupa, perfume, batom, e você vai pegar no pulo. Eu perguntei: 'Você faz isso?'. E ela disse que é ela quem arruma a mala do marido sempre. Aí expliquei que eu era uma atriz. A mulher lamentou e disse que tinha muitas dicas para me passar (risos)", lembra Renata.

Renata Brás. Foto: Instagram/@renatabras1

Ela confessa que já foi parecida com sua personagem no passado e que sofreu bastante com isso. "Eu não era ciumenta quando novinha, era muito segura, achava que nunca aconteceria nada comigo, achava que era a última bolacha do pacote até que levei um chifre, fui traída com uma amiga amiga, foi uma dupla traição. Depois disso, fiquei muito pé atrás e me tornei uma ciumenta. Não acreditava em mais ninguém, em amizades, em namoro... Aí tive que ir à terapia. Foi muito difícil reconquistar a autoconfiança", lembra a artista. 

'Sofri. Fiz bastante terapia'

"Fui traída no meu próprio carro. Emprestava para o meu namorado viajar enquanto eu trabalhava. E ele ficava no meu carro com a minha melhor amiga. Hoje dou risada disso, conto essa história na minha peça, mas sofri. Fiz bastante terapia. Quando tive alta, achei que estava legal. Dois ou três meses depois, meu telefone toca e era o Carlos Alberto de Nóbrega. Ele me fez o convite para fazer uma personagem de cabeça de quadro. Perguntei como era a personagem e ele disse: 'Uma mulher extremamente ciumenta'. Pensei: 'Ferrou. Acabou a terapia, acabou tudo. Vou ter que usar toda minha experiência de ciumenta. Já era' (risos)", completa Renata.

O ciúme é algo recorrente na vida da maioria das pessoas e acaba sendo um assunto banalizado. Para Renata Brás, ser uma pessoa ciumenta não é nada saudável. "Aquele bem pouquinho, aquela pitadinha de ciúme, até acho bonitinho, sabe? Mas o ciúme em exagero, esse ciúme que faço, que interpreto, ele é doentio, faz a pessoa que está sentindo esse sentimento sofrer demais, não viver, só viver a vida do outro, fuçando o outro, investigando o outro, controlando o outro. E o outro sofre muito também porque ninguém aguenta essa pressão. É peso demais. Aí a relação vai por água abaixo, com certeza", destaca a atriz.

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"Aprendo muito com ela (a personagem ciumenta). Aprendo o que eu não quero ser, aprendo que não quero nunca mais ser essa mulher. Não cheguei a ser exatamente essa mulher que interpreto, mas ela me ensina que aquilo é ficção, que não quero para a minha vida. E aí me divirto muito mais porque sei que aquilo ali é como se fosse realmente algo que estou vivendo apenas em cena", emenda.

 

O ciúme sob a ótica do especialista

Para entrar com mais profundidade neste assunto, conversamos com o psicólogo e escritor Alexander Bez, especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM). Ele destacou que o ciúme nada mais é do um sentimento aliado a uma situação relacionada ao medo de perder a pessoa amada. "Psicologicamente falando, envolve preocupação, incômodo e tensão. O ciúme se agrava principalmente para quem teve experiência de traição no passado, pelas associações que se perfazem através do aparelho mental inconsciente", diz.

"No entanto, não há como estigmatizar negativamente o ciúme. A carência dele exibe a falta de sentimentos. Apenas o ciúme tem que ser normal sem causar prejuízos a pessoa, como também não ser patológico. O ciúme nada mais é do que um sentimento presente em qualquer relação de conotações “amorosas passionais”, indicando um real sentimento à pessoa, mas não a tolhendo em seu pragmatismo diário", completa.

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Quando falamos em ciúme, temos que analisar impreterivelmente três pontos: o ciúme normal, o patológico e o caráter do companheiro, segundo o especialista.

"O ciúme normal é uma reação psicoemocional que vem à tona quando a pessoa amada é tida como interessante a uma terceira pessoa, denotando uma ameaça na relação a dois já constituída. Não se trata de controle ou manipulação da amado, nem de posse, como acontece no ciúmes patológico, mas sim em cuidar dessa relação e do sentimento que mutualmente foi construído. Ainda há situações em que o ciúme se torna patológico, quando há ou houve indícios de que a pessoa amada não apresenta um caráter idôneo. Nesse caso, a minha dica é se abster dessa união, assim acabando com esse conflito que foi externamente perpetrado pela pessoa que não inspira confiança", explica Bez. 

Ciúme causa sofrimento. Foto: Kat Smith/Pexels

Ciúme patológico

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De acordo com o psicólogo, o ciúme patológico pode ser adquirido por demonstrações de não confianças constatadas (não delírios), que se não souber separar as experiências antigas da atual criará um transtorno de estresse pós-traumático, especificamente na versão conjugal. 

"Quando não há condições externas que elencaram esse ciúmes a própria personalidade da pessoa é a responsável. Aí temos, como já falei, o ciúmes patológico dado por controle, posse e dominação. Transtornos de delírio, de perseguição, traição também fazem desse quadro. Se a pessoa tiver (usualmente tem) a violência registrada em seu caráter teremos uma bomba atômica psicológica, que se reporta nos milhões de casos de homens que matam mulheres. Porém, também há a necessidade de se ter uma classificação mental psicótica para se dar esse quadro. A neurose, enquanto personalidade, não têm esse poder de destruição", destaca Bez.

Duas perguntas são bastante recorrentes quando se fala em ciúme. Todo mundo quer saber: Tem tratamento? Tem cura? O psicólogo e escritor garante que se a pessoa tiver uma personalidade ciumenta independentemente de qualquer característica externa, não. "Não há mudanças. A problemática é quequando se tem esse tipo de ciúme (o patológico), sempre vem em um desagradável combo: Posse, violência e controle. Quando é ciúme motivado por alguma relação anterior, o tratamento é viável, basta a psicoterapia psicanalítica pra pessoa não fazer, a nível inconsciente, associações com o ex".

Alexander Bez aconselha: "É preciso adquirir a consciência de que cada relação é única. E ações transferências nunca são positivas. Então deixe os traumas no passado, adquira a própria confiança através da psicoterapia psicanalítica e esteja sempre com pessoas que são confiáveis, não pelas palavras, mas sim pelas ações".

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