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Brasil tem 6 milhões de pessoas com deficiência visual, mas apenas 160 cães-guia

Instituto no interior de São Paulo quer treinar 60 cães por ano e doá-los a quem precisa

Por Hyndara Freitas
Atualização:
Brasil não tem cães-guias suficientes para atender total de deficientes visuais no País. Foto: Reprodução

Há 500 mil cegos no Brasil e ao menos 5,5 milhões de deficientes visuais no Brasil segundo o IBGE. Entretanto, ter um cão-guia, uma das formas de facilitar o cotidiano de um cego, ainda é um grande privilégio por aqui.

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Atualmente, há apenas 160 cães-guia treinados e prontos para auxiliar seus donos. Para efeitos de comparação, nos Estados Unidos, são treinados 260 novos animais todos os anos. O motivo é que não há muitos centros de treinamento no Brasil, o que torna conseguir um cão-guia algo raro e caro.

Para ajudar a mudar essa realidade, uma iniciativa de levar cães voluntariamente para quem precisa está sendo desenvolvida. O Instituto Magnus, que deve inaugurar em 2017, será o maior centro de treinamento de cães-guia na América Latina e promete entregar por ano 60 cachorros treinados.

"Um cão-guia é uma necessidade. Todas as instituições que trabalham sério com isso passam por enormes dificuldades no sentido de conseguir recursos para realizar seu trabalho. A intenção do Instituto Magnus é entregar cerca de 60 cães por ano. É uma nova iniciativa, com a estrutura mais sólida e maior que vai existir no Brasil, e sem dúvida vai ser uma estrutura maior para as pessoas terem seu cão-guia", contou o instrutor e psicólogo George Harrison ao E+.

Harrison é criador do instituto Cão Guia Brasil, e acompanha o projeto do Instituto Magnus desde o início. O centro será inaugurado em 2017 na cidade de Salto de Pirapora, próximo a Sorocaba (SP). No início do ano, teve início a primeira etapa: conseguir voluntários para socializar os cachorros a serem treinados.

"A primeira parte do treinamento se chama 'socialização'. O cachorro vai viver numa família, que vai doar seu tempo como voluntária e vai educar o cachorro a conviver dentro de uma sociedade. Vão levar a mercado, no restaurante, carro, ônibus, lidar com crianças, tudo isso com o suporte dos treinadores. Nessa fase, usam-se os comandos de educação básica, como sentar, ficar, deitar, não tem nada além disso. Quando termina a socialização, eles vão para nossos instrutores, e aí eles vão receber o treinamento para guiar", explica o treinador.

Filhotes do Instituto Magnus que receberão treinamento de cão-guia. Foto: Divulgação/Instituto Magnus

Mas há algumas restrições para a socialização desses cachorros: "Nos momentos que ele está sem guiar, ele é um cachorro normal, ele brinca, ele corre, tudo. Mas é lógico que há determinadas regras de educação e convívio, por exemplo, ele não pode subir na cama, ele não pode sentar no sofá, porque depois ele vai querer reproduzir esses comportamentos na sociedade e pode causar constrangimento para o deficiente visual", detalha Harrison.

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Após a fase da socialização, que dura cerca de um ano, eles voltam para o centro de treinamento. "Lá, os cachorros vão aprender a usar o equipamento, aquele 'peitoral' que fica no corpo do cachorro e que passa todas as mensagens para o cego. Isso leva pouco mais de cinco meses. Depois disso, é a fase final: a adaptação com o deficiente visual, que acontece na instituição e dura cerca de 30 dias", como explica o treinador.

A campanha para conseguir as famílias voluntárias deu certo: cinco filhotes de labrador foram entregues a cinco famílias da região de Sorocaba, com quem vão ficar até que completem um ano. Todos os filhotes nasceram nos últimos três meses. Ao final deste período, eles recebem o treinamento e podem exercer essa função por até 12 anos.

Apesar de Labrador e Golden Retriever serem as mais comuns, há 30 raças registradas no mundo como cães-guia, como o pastor alemão, schnauzer e o poodle standard. De forma geral, é indicado cães com porte médio a grande, já que eles precisam ter força para puxar seu dono. 

Depois que esses cães estiverem treinados, ou seja, pensarem 'por dois' e estiverem aptos a guiar em situações cotidianas e espaços públicos, serão doados a quem precisa. Sim, a ideia é justamente não ter custo algum para o deficiente visual, nem no treinamento nem para conseguir o cachorro, e "mudar a realidade dos deficientes visuais no Brasil", diz Harrison. Nos primeiros meses de funcionamento, o instituto pretende atuar apenas na região metropolitana e no interior de São Paulo.

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