'BBB 21' desperta raiva e preconceito no espectador, indica pesquisa
Ludimila Honorato - O Estado de S.Paulo
16/02/2021, 07:03
Quase 90% de quem acompanha o reality show já sentiu emoções negativas fortes, mas apenas 7% pensa em parar de assistir; psicanalista fala em identificação e quebra de uma expectativa positiva do entretenimento
Discussões sobre violência psicológica e cultura do cancelamento no 'BBB21' podem ter gerado emoções negativas fortes no telespectador. Foto: 'BBB 21' / TV Gobo / Reprodução
O BBB 21 estreou há três semanas e já levantou discussões sérias sobre temas como violência psicológica e cultura do cancelamento. A atenção do telespectador está voltada aos desdobramentos de cada 'treta' que ocorre na casa, mas esse interesse tem gerado sentimentos negativos que estão atrelados à saúde mental e emocional de quem assiste.
Uma pesquisa realizada pela Hibou, empresa de monitoramento de mercado e consumo, indica que os temas no reality show incomodam e despertam gatilhos.
Entre os brasileiros que estão acompanhando o programa (52% de 2.467 entrevistados), 86% afirmam que já sentiram emoções negativas fortes, sendo que raiva, tristeza, preconceito e humilhação têm maior expressividade. As respostas foram coletadas de forma virtual entre os dias 5 e 6 de fevereiro, em território nacional. A amostra contou com pessoas acima de 20 anos, englobando o público ABCD, sendo que 56% eram casadas e 58%, mulheres.
Com mais de 20 anos no ar, o Big Brother Brasil já faz parte da rotina de entretenimento sazonal da população. Nos três meses em que fica no ar, o programa pauta a imprensa, as conversas entre amigos e até mesmo quem não assiste tem opinião sobre a atração. O telespectador está ali para uma espécie de diversão, mas a quebra de uma expectativa positiva acaba provocando sensações contrárias.
"O público tem uma noção de que entretenimento é positividade e não mexe com questões que são negativas, como tragédias, discussões, desencontros e brigas. Mas, de alguma forma, [o programa] faz tanto sucesso justamente porque a ideia é desvelar, abrir para o grande público a espontaneidade e a vida privada das pessoas e isso lida também com coisas negativas, porque não tem como ter controle", comenta o psicanalista Leonardo Goldberg, doutor em psicologia pela Universidade de São Paulo.
Segundo o especialista, a diferença da edição atual do BBB para as anteriores é que, agora, as pessoas estão nomeando e descrevendo os próprios sentimentos quando veem uma situação que causa identificação, seja de alegria ou repulsa. E diferente de uma novela, em que, na maior parte, os vilões, os mocinhos e as zonas de tragédias são bem definidas, o reality show traz reviravoltas. Ao perceber que alguém, antes visto como 'bonzinho', se revela completamente diferente, o público sente o impacto de modo mais íntimo.
"É a quebra de que o entretenimento traria um apaziguamento das paixões, sem brigas nem discussões. Esse BBB está sendo um balde de água fria, uma quebra de ilusões. Tem um colapso nessas definições e o espectador fica bagunçado", diz Goldberg. E como produto cultural de consumo, a atração da TV Globo atrai interesse e desperta prazeres e repulsas, alegrias e tristezas, da mesma forma como quando nosso personagem favorito é assassinado de modo cruel na história de um livro ou o vilão tem vitórias sucessivas em uma série ou filme.
VEJA TAMBÉM: Participantes do BBB eliminados com as maiores rejeições
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Os mais rejeitados da história do 'BBB'
Lista atualizada com sucesso! Seja por sua baixa popularidade, ou por enfrentarem o temido Paredão com a 'pessoa errada' na 'hora errada', alguns participantes do 'Big Brother Brasil' ficaram marcados pela alta porcentagem de votos recebidos para serem eliminados. Confira a seguir os 16 participantes com as maiores rejeições da história do 'BBB'.
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18º - 87% - Giulliano Ciarelli (BBB 5)
Giulliano Ciarelli, também conhecido por sua carreira como goleiro de futebol em times menores, saiu do 'BBB 5' após enfrentar a cabeleireira Tati Pink e receber 87% dos votos para ser eliminado do programa.
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17ª - 87% - Jaqueline Khury (BBB 8)
Jaque Khury, que anos depois chegou a trabalhar em outros programas de TV, como o 'Legendários', da Record, teve a maior rejeição entre os primeiros eliminados de cada edição do 'BBB'. Na 1ª semana do 'Big Brother Brasil 8', ela enfrentou Gyselle, que seria finalista, e foi eliminada com 87% dos votos.
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13º - 88% - Breno (BBB 18)
Mesmo tendo chegado à reta final do 'Big Brother Brasil 18', o participante Breno foi eliminado com expressivos 88,34% dos votos diante de apenas 11,66% de Kaysar, que se tornaria vice-campeão daquela edição do 'BBB'.
Foto: Reprodução de 'Big Brother Brasil 18' (2018) / Globo
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11ª - 90% - Ana Paula (BBB 18)
Ana Paula saiu do 'BBB 18' no início da competição, na 3ª semana. Ela obteve 89,95% dos votos para ser eliminada em um Paredão triplo contra Ana Clara e Ayrton (que competiam como um único participante, representando a 'família Lima'), com 7,19% dos votos e Paula, com 2,96%.
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10º - 91% - Airton (BBB 7)
Airton foi eliminado do 'BBB 7' no primeiro Paredão de sua edição, dois dias após a estreia, ao lado de Juliana. A dupla teve 56% dos votos diante de Allan Pierre e Flávia. Em nova votação com Juliana, desta vez para decidir quem voltaria à casa, Airton obteve 68% da preferência do público. Desta vez, ficou entre os cinco melhores colocados do programa, mas recebeu 91% dos votos para ser eliminado em um Paredão contra Diego Alemão, que seria campeão daquela edição.
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9º - 92% - Rogério (BBB 5)
Rogério Padovan, conhecido como 'Gê', foi eliminado da casa do 'BBB 5' em confronto com Sammy, um dos finalistas do programa, recebendo 92% dos votos para sair - à época, um recorde de rejeição.
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7ª - 92% - Nayara (BBB 18)
Acusada de ser "fofoqueira" por seus colegas de 'BBB 18', Nayara obteve 92,69% dos votos do público para ser eliminada diante de 4,03% de Mahmoud e 3,28% de Gleici, que viria a ser campeã, em um Paredão triplo.
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6º - 93% - Felipe Cobra (BBB 7)
Felipe Cobra (de óculos escuros na foto) entrou na casa do 'BBB 7' de última hora, após a expulsão de Fernando Orozco, que tinha um "laço de parentesco ou amizade" com um alto funcionário da Globo por ser amigo de infância do filho de Willy Haas. Felipe Cobra enfrentou Alberto, o 'Cowboy', que posteriormente sairia do programa com 85% dos votos. Levou a pior com 93% da escolha do público para sair.
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5ª - 94% - Patrícia (BBB 18)
Patrícia teve 94,26% em um Paredão triplo. Seu amigo Diego teve apenas 3,3% dos votos para sair, enquanto Caruso teve 2,44%. Detalhe para o fato de que seus concorrentes estavam longe de ser 'queridinhos' do público: Diego foi eliminado na semana seguinte, com 81% dos votos, e Caruso na posterior, também com 81%.
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4ª - 95% - Aline (BBB 5)
À época com 19 anos de idade, Aline entrou na casa do 'BBB 5' após o afastamento de Marielza, que foi sorteada para participar do 'Big Brother Brasil', mas acabou tendo problemas de saúde no confinamento. Em seu paredão, Aline enfrentou Grazi Massafera, uma das favoritas do público, que chegaria à final, perdendo apenas para Jean Wyllys. Até 2020, sua votação continua sendo a maior rejeição da história dos Paredões do 'BBB', com 95%.
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2º- 98,76%- Nego Di (BBB 21)
O comediante Nego Di saiu no terceiro Paredão da edição com 98,76% dos votos. Enquanto seus concorrentes, Fiuk e Sarah tiveram apenas 0,87% e 0,37% dos votos, respectivamente. Nego Di começou bem no jogo, vencendo as duas primeiras provas em dupla com Lucas Penteado - que também deixou a casa por desistência - e foi o primeiro líder da edição. No posto de 'rei' da casa o comediante vetou a participação de Lucas em uma prova do líder, o público não aprovou essa e outras atitudes de Nego Di. Foto: 1º- 98,76%- Nego Di (BBB 21)
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1º- 99,17% - Karol Conká (BBB 21)
A rapper Karol Conká quebrou o recorde de rejeição do 'Big Brother Brasil' na 21ª edição do reality show. A cantora se envolveu no cancelamento de Lucas Penteado dentro da casa, nas primeiras semanas do programa, e protagonizou diversas discussões que provocaram a fúria do público. Ela enfrentou o paredão triplo com Arthur, que teve 0,54% dos votos, e Gil, com 0,29%.
Foto: Reprodução /GloboPlay
Mas o curioso do ser humano é seguir consumindo justamente aquilo que lhe causa desprazer. A pesquisa da Hibou mostra que apenas 6,7% dos entrevistados estão pensando em parar de assistir ao Big Brother Brasil 21. Entre os motivos estão: ausência de um clima feliz (51,3%), conteúdo pesado (50,6%), muita discussão boba e pouca diversão (43,8%) e cansaço do assunto de cancelamento (36,9%). Por que, então, seguimos vidrados?
"O espectador está um pouco mais amadurecido em relação a conteúdo que é muito estático, em que ele já sabe o que vai acontecer no final. Muito do que a gente aclama é aquela velha máxima de: 'tudo o que achei que ia acontecer não aconteceu'. A graça do reality show são esses movimentos de reviravoltas", responde o psicanalista.
Para 51,4% dos entrevistados na pesquisa da Hibou, o que chama atenção no programa, de forma geral, é a possibilidade de bisbilhotar o comportamento das pessoas. Outros 49,4% disseram que gostam mesmo é dos conflitos por opiniões e atitudes distintas. Apenas um quarto deles afirma relaxar assistindo à atração e 19,9% dizem que acompanham o reality para ter assunto com os amigos.
Uma vez que, em grande parte, o BBB mostra a vida privada e cotidiana das pessoas como ela é, a sensação de pertencimento e identificação faz com que, mesmo sofrendo, o telespectador continue vigiando a casa. Afinal, ele sabe que também existem problemas e intrigas na vida real.
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