Mães de primeira viagem agora podem se achar através de um aplicativo

O Peanut funciona de forma semelhante ao Tinder

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Por Sophia Kercher
Atualização:
Michelle Kennedy, empresária de Londres que criou o aplicativo Peanut. Foto: Foto: Dan Wilton / The New York Times

No final do primeiro encontro, Jamie Kolnick, dona de uma empresa em Nova York, não queria que ele acabasse. Ela foi andando com sua nova companheira para casa para continuar a conversa. "Eu a convidaria para entrar, mas a casa está uma bagunça", disse a outra.

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Só que esse não era um encontro qualquer. A tarde foi o que Kolnick chama de "um encontro maternal" e de seus bebês de um ano de idade. Elas se conheceram através do Peanut, um aplicativo projetado para mães se conectarem.

No aplicativo, as usuárias podem arrastar a tela para cima para dar um "oi", e para baixo para ir para a próxima "mamãe". Se duas delas acenam, o par é formado.

Katie Cox, que tem dois filhos e trabalha em marketing em Dallas, disse que o estilo do aplicativo foi um dos motivos que a atraíram.

"Nunca tive a oportunidade de experimentar aqueles aplicativos de namoro divertidos, por isso quis conferir esse", disse ela.

Do mesmo modo que no Tinder, as usuárias do Peanut se cadastram com suas contas do Facebook e uma ferramenta de geolocalização permite que se conectem com as mães nas redondezas. O aplicativo gratuito usa um algoritmo para emparelhar quem tem interesses semelhantes – as usuárias podem escolher entre emblemas como "Inimiga do Fitness", "Hora do Vinho" e "A Música é meu Remédio" –, além de experiências, como ter um filho com necessidades especiais ou ser mãe solteira. Ele também se conecta ao calendário do smartphone para facilitar um agendamento de encontro.

"Acho legal porque não exige muito esforço mental. Posso sentar e dar uma olhada enquanto faço o almoço", disse Cox. Ela explicou que, embora tenha muitas amigas em Dallas, Texas, a maioria tem filhos mais velhos. O Peanut a ajudou a se conectar e a fazer amizade rapidamente com outras mães em seu bairro na mesma situação.

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O software foi criado por Michelle Kennedy, empresária de Londres que participou do início do aplicativo de namoro Bumble (foi ela que escolheu o nome), e por um ex-executivo do bem sucedido Badoo, versão europeia do OkCupid. Kennedy, de 34 anos, teve a ideia quando se tornou mãe e descobriu que não conseguia encontrar mulheres na mesma situação e interesses semelhantes com quem se conectar.

"Do ponto de vista emocional, me senti bastante isolada, e não acho que isso seja uma coisa simples de se dizer", confessou ela.

Decidiu resolver a questão criando um espaço digital onde as mulheres poderiam formar relacionamentos significativos, equilibrando seu novo – e muitas vezes transformador – perfil materno.

"Quando são duas da madrugada e você está amamentando o bebê que está acordado há uma hora, existem poucas pessoas que entendem como essa situação pode ser assustadora e solitária, mas uma mãe que esteja usando o Peanut na mesma hora, entende", disse Kennedy. Ela acrescentou que esse é o tipo de interação que não existe simplesmente fazendo amizade com uma vizinha, ou até mesmo com outra mãe da creche.

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O Peanut, é claro, não é um substituto para um encontro fora de um dispositivo, e Kennedy disse que o aplicativo foi criado para as pessoas se conhecerem na vida real, mas também mencionou que a sociedade mudou, que já não vivemos com a família e os amigos por perto.

"Dizem que é preciso uma aldeia. Ajudamos você a encontrar essa aldeia. O que pode dar errado nisso?", disse ela.

Bem, para Sherry Turkle, psicóloga e professora do MIT, aplicativos dedicados a pais geram imagens inquietantes. Turkle passou mais de 30 anos entrevistando centenas de crianças e pais (e escreveu dois livros muito elogiados) para pesquisar sobre a nossa relação com a tecnologia.

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"Não estou dizendo que ser mãe não tem alguns momentos solitários para os quais uma companhia adulta seria bem-vinda, mas a ideia agora não é encontrar companheirismo. Você tem um bebê", disse ela.

E descreveu cenas de mães enviando mensagens de texto enquanto empurravam o carrinho e outras ocupadas demais com seus telefones para perceber que o filho estava tentando lhe chamar a atenção. Turkle incentiva as mães a conferir se seus filhos não estão se sentindo isolados.

Yalda Uhls, pesquisadora de psicologia infantil e autora de Media Moms & Digital Dads, dá conselhos semelhantes.

"Você tem que deixar claro para as crianças que vai guardar o dispositivo e ficar com elas", disse Uhls.

Ela também questiona o fato de o Penaut ser apenas para as mães. E os pais? Cuidadores? Avós? "Parece um pouco sexista", disse.

A questão com os pais chegou até Meghan Springmeyer, que trabalha em marketing e é mãe de uma criança de dois anos de idade. Ela recentemente se mudou de Nova York para Raleigh, na Carolina do Norte, e usou o Peanut para encontrar uma nova comunidade em um lugar onde não "conhecia viva alma". Disse que o marido ficou com um pouco de ciúmes por ela estar fazendo novos amigos.

"Eu acho que ele está começando a se sentir um pouco abandonado. Poderia haver uma nova versão do aplicativo: Peanut para os rapazes."

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