As escolas estão prontas para aceitar alunos trans?

Na rede pública estadual de São Paulo há mais de 300 alunos com nome social

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Por Anita Efraim
Atualização:
Inflação da educação é o triplo do índice geral de preços Foto: Wokandapix/ Pixabay

As pessoas trans estão cada vez mais presentes na sociedade. Por isso, mais que nunca, é essencial que haja espaço para eles na educação. Para garantir que os trans sejam bem acolhidos, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, por exemplo, passa por um longo processo de inclusão. Hoje, há mais de 300 alunos trans na rede pública estadual.

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Para Thiago Sabatine, professor do Núcleo de Inclusão Educacional, responsável pela articulação de políticas de gênero e sexualidade e diversidade sexual, as escolas de São Paulo seguem um caminho de normas pedagógicas voltadas a inclusão, como, por exemplo, o uso de nome social.

“A partir do momento em que a Secretaria implantou a norma, teve adequações do sistema para uso do nome social nos documentos de circulação interna, como lista de chamada, carteirinha de estudante, boletim. A Secretaria faz um acompanhamento e um monitoramento dessa inclusão”, explica Sabatine. Ele acrescenta que todos os envolvidos nos recursos humanos das escolas, como funcionários e professores, são capacitados para receber esses alunos.

Na opinião de Tânia Medeiros, coordenadora do Sistema MAXI de Ensino, o problema da inclusão é que a comunidade escolar como um todo, entre professores, gestores e alunos, têm preconceito mesmo antes de entender quais são as necessidades de uma pessoa trans.

Tânia explica que é muito importante que se desenvolva um trabalho com todos os que estão dentro da comunidade escolar, desde alunos e professores até funcionários da cantina. "É uma conscientização macro", define.

O professor da rede estadual concorda: “O primeiro desafio é a mudança de concepções de educadores, familiares, estudantes, da sociedade em geral. Uma das iniciativas que está em curso é a formação dos educadores”.

De acordo com números da Secretaria de Educação, 77% dos alunos trans são mulheres, enquanto 23%, homens. Além disso, 66% deles participam da Educação para Jovens e Adultos. “As pessoas estão voltando à escola”, destaca Sabatine.

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Em 2015, eram 44 alunos trans na rede de ensino, hoje, com as mudanças de normas pedagógicas e adoção do nome social, são mais de 300.

Tânia acredita que há uma melhora na aceitação de pessoas trans na sociedade como um todo. "É um trabalho de formiguinha, mas essa semente reflexiva já está sendo plantada.”

Sabatine afirma que, embora haja resistência, para tentar incluir ainda mais os alunos trans, os temas de sexualidade e gênero estão no currículo das escolas estaduais em São Paulo. “Existe resistência, sem dúvida alguma, mas o que nós estamos fazendo de fato é reconhecer a importâncias das questões de gênero e sexualidade, porque elas revelam a desigualdade”, completa o professor.

Exemplo. Aos 52 anos, Maria Catharina está prestes a se formar no ensino médio. Ela é aluna da Escola Estadual Rodrigues Alves, considerada pela Secretaria como um modelo na inclusão de pessoas trans.

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Maria Catharina passou sua juventude se prostituindo na rua e depois engatou em um relacionamento. Quando acabou, se viu sozinha e sem nada, “veio uma oportunidade do Transcidadania e eu pensei ‘por que não me resgatar, me dar uma chance?”

O programa de reinserção social foi criado em 2015 pela prefeitura de São Paulo. “O Transcidadania foi uma experiência muito boa para mim. Como recebi uma bolsa, pude me dedicar”, explica.

“Essa experiência [de estudar] está mudando muito minha vida, para melhor. Fui muito bem acolhida pela escola, pelos alunos. Meu único arrependimento é não ter feito isso há tanto tempo”, opina a aluna.

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Na visão de Maria Catharina, ainda falta espaço para pessoas trans no mercado de trabalho, mas, na escola, ela sente que eles já têm seus espaço e são respeitados.

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