Após acusações de racismo, Bombril retira esponja 'Krespinha' de site

Nome que surgiu em produto de 1952 faz alusão ao cabelo crespo e teve teor racista apontado em estudos acadêmicos

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Por João Pedro Malar
Atualização:
A empresa Bombril foi criticada por relançar um produto de 1952 que faz referência ao cabelo crespo Foto: Bombril / Divulgação I Reprodução

Atualizada em 17/06/2020, às 16h33

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A marca de produtos de limpeza Bombril foi criticada nas redes sociais nesta quarta-feira, 17, após relançar uma palha de aço que possui o nome Krespinha. A associação do cabelo crespo com o produto gerou diversas acusações de racismo, já apontadas em estudos acadêmicos baseados no produto original, de 1952.

Pouco tempo após o lançamento do produto no site da Bombril, uma propaganda do produto da década de 1950 que mostra uma boneca negra com cabelo crespo ao lado da palha de aço começou a circular no Twitter. Clique aqui para conferir um anúncio da marca veiculado em outubro de 1952.

Por volta das 11h desta quarta-feira, era possível conferir o produto no site da Bombril, mas, após as críticas, a marca retirou a Krespinha da página.

O teor racista da associação entre o cabelo crespo, mais comum em pessoas negras, e a palha de aço já havia sido apontado em ao menos duas produções acadêmicas: o artigo Racismo e Propaganda no Brasil, de 2017, publicado por Dayane Augusta Silva e Jonas Brito e no Trabalho de Conclusão de Curso Cabelo Ruim? A Representação do Cabelo Crespo na Publicidade Brasileira, feito por Juliana de Melo Balhego, aluna da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2016.

“Nas  propagandas  dos  séculos  19  e  20,  é  comum  encontrarmos  anúncios  que  associam  o  cabelo  crespo  ao  ‘bombril’,  como  a  “krespinha  –  esponja  de  aço”  (1952)”, comenta o artigo de Dayane e Jonas, ambos com mestrado em História, que também destacam que “no  que  se  refere  às  denúncias  motivadas  por  campanhas  publicitárias de teor racista, verifica-se que são comerciais que não foram pensados sob a ótica de quem sofre racismo”.

Já em seu TCC, Juliana destaca que a representação negativa que o cabelo crespo recebe, sendo associado a um produto de limpeza, faz com que “a utilização de produtos químicos para se adequar ao padrão eurocêntrico [de cabelo liso] seja algo comum na vida de mulheres negras”.

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O E+ entrou em contato com a Bombril mas não recebeu resposta até a publicação da matéria. A empresa publicou uma nota no Twitter às 16h da quarta-feira, em que afirmou que a Krespinha será retirada do portfólio de produtos da marca. O produto fazia parte desse portfólio há 70 anos mas estava sem publicidade nos últimos anos, e a empresa negou que estivesse lançando ele novamente. 

"Cada vez mais, em todo o mundo, as pessoas corretamente cobram das empresas e instituições a respeito da valorização da diversidade. Não há mais espaço para manifestações de preconceitos, sejam elas explícitas ou implícitas. A Bombril compartilha desses valores", disse a Bombril, se comprometendo a identificar ações que gerem compromissos com a diversidade.

No Twitter a hashtag #BombrilRacista chegou aos assuntos mais comentados da rede social, com diversas críticas por parte dos usuários, incluindo o ator Bruno Gagliasso. Confira alguns comentários:

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

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