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A mulher 'bela, recatada, e do lar' vista pelos políticos brasileiros

Professor avalia que discurso é, além de outros fatores, reflexo da falta de mulheres no primeiro escalão do governo

Por Luiza Pollo
Atualização:
Presidente Michel Temer e sua esposa Marcela Temer durante o desfile cívico de 7 de Setembro por ocasião ao Dia da Pátria. Foto: Beto Barata/PR

A falta de representatividade feminina na política não é novidade no Brasil. Apesar dos avanços no número de vereadoras e prefeitas entre 2008 e 2012, por exemplo, o primeiro escalão do governo federal tem apenas duas mulheres entre os 28 cargos

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E essa falta de mulheres em cargos próximos ao do presidente é prejudicial para o debate político, como defende Marco Antonio Teixeira, professor e vice-coordenador do curso de administração pública da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP). 

No Dia da Mulher, por exemplo, o presidente Michel Temer virou notícia ao dizer que a participação da mulher na economia se restringia às compras no supermercado. Alguns dias depois, o ministro da Saúde Ricardo Barros reforçou a visão de que a mulher tem a responsabilidade de cuidar dos filhos e ensiná-los a 'descascar os alimentos'. "Ouvir esse tipo de visão de autoridades que têm poder decisório gera desconfiança de que o governo tenha capacidade de levar adiante políticas que contemplem essa visão de mundo", pondera Teixeira. "Eles trazem para o ambiente institucional seu universo pessoal, que vem de uma construção social que naturalizou para eles esse tipo de relação. Mas não é o Michel Temer que está falando, e sim o presidente da República", completa.

O professor explica que a presença de mais mulheres em cargos do primeiro escalão poderia ajudar, pelo menos, a dar aquele 'cutucão' nos governantes homens que reproduzam o machismo em seus discursos, como os que você pode ler na galeria abaixo:

Apesar da repercussão negativa das falas entre boa parte da sociedade, as respostas dos políticos não foram tão efusivas. Como visto na galeria, a fala de Temer foi justificada por Meirelles e Fatima Pelaes. Já Oliveira disse que foi mal interpretado. "Não se sabe até que ponto isso tem efeito na rotina das autoridades", comenta Teixeira. "O governo entrou sob forte desconfiança nessa temática. O debate de políticas públicas para mulheres foi rebaixado ao terceiro escalão. Isso ajudou na desconfiança, e se soma às declarações recentes."

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