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7 sinais de que seu cachorro sofre com ansiedade após fim do home office

Dois anos depois de decretada pandemia de covid-19, muitos estão deixando seus pets em casa e animais passam por angústia de separação; saiba como agir

Por Camila Tuchlinski
Atualização:
Andressa Santos Bofete e a cachorrinha Cacau, que moram na Zona Leste de São Paulo. Foto: Taba Benedicto

Há três meses, Andressa Santos Bofete, de 26 anos, ganhou uma integrante nova na família: a cachorrinha Cacau. Em meio a pandemia, a arquiteta e o namorado ficavam mais em casa e a pequenina cresceu convivendo dia a dia com os tutores. Agora que ambos precisam sair mais de casa, a situação está difícil. Isso porque Cacau é muito apegada à Andressa. “Fizemos todo o procedimento que a adestradora pediu: deixamos ela um dia todo sozinha, na parte da lavanderia que é menor, pra ela não se machucar. Cheguei em casa e ela fez cocô em tudo: nos brinquedos, na fraldinha, na água, na comida, tudo. Ela fez uma bagunça e chorou demais”, afirma.  O casal tem uma câmera na casa para monitorar o cotidiano da cachorra. “A gente ficou vendo e ouvindo ela chorando. Eu quase chorei junto. Aí, quando cheguei em casa pra dar um banho nela, ela passou o dia grudadinha comigo. É como se ela pensasse: ‘ah, você me deixou sozinha’. Dizem que é difícil, que o cachorro aprende, mas a gente sofre junto”, desabafa Andressa.

Cacau ficou sozinha por algumas horas em casa e, longe da tutora, demonstrou ansiedade. Foto: Arquivo pessoal

Andressa contratou uma adestradora para ensinar a cachorra a ficar na caminha dela. “A gente também tenta enriquecer o ambiente com toys, com ração no brinquedo pra ela procurar. Enquanto eu arrumo o espaço dela, o meu namorado fica com ela e, quando entra na sala, começa a procurar todos os petiscos. E a Cacau demora pra perceber que a gente saiu”, conta.  Porém, quando o casal fecha a porta, a ansiedade volta. “E ela é uma cachorra que não é apegada ao brinquedo. Então, esse enriquecimento do ambiente e ter bastante atividades pra ela fazer é complicado. Compro brinquedo, dá dois minutos, ela não quer brincar mais. Esses dias vi que ela estava muito com uma garrafa de plástico e fiz um brinquedo pra ela. Fico tentando perceber o que está atraindo para não ficar entediada, mas é bem complicado”, diz.

Andressa Santos Bofete e o namorado Lucas Franca tentam ajudar Cacau a conter a ansiedade diante do retorno ao trabalho presencial. Foto: Taba Benedicto

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Confira 7 sinais de que seu cachorro sofre com ansiedade

Muitas pessoas estão voltando ao trabalho presencial após dois anos de home office em decorrência da pandemia de covid-19 e deixam os pets em casa. A adestradora Carolina Jardim, que também é psicóloga, explica que cães e gatos têm demonstrado sinais de ansiedade muito parecidos com os dos humanos. “Ansiedade generalizada, que é um tipo de ansiedade que não é específica, o cachorro não consegue se acalmar, está sempre pedindo atenção, agitado, demonstrando sinais de estresse como tremor, ofegação, agitação motora, e eles desenvolvem também um transtorno chamado ansiedade de separação, que é não conseguir ficar sozinho”, afirma. A especialista ressalta que a pandemia fez com que tutores e pets dividissem uma vida juntos como nunca antes e, agora, essa convivência tem impactos no retorno ao trabalho presencial. “As pessoas ficaram grudadas com seus cães praticamente por dois anos. Com essa aproximação que nunca aconteceu antes, a volta à rotina acabou ficando algo extremamente traumático. Cachorros que nunca desenvolveram esse problema estão nessa situação agora”, avalia.  Em casos mais graves, o animal entra em estado de pânico quando está sozinho e começa a ter comportamentos de automutilação dentro de casa. Alguns tentam fugir para ir atrás dos tutores. “Porque o objetivo dele é ficar perto do dono e, como não consegue, tenta fazer buraco na porta e é um caso muito sério. Isso precisa ser tratado por profissionais gabaritados”, destaca Carolina Jardim. A adestradora e psicóloga elencou 7 sinais, fisiológicos e comportamentais, de que o pet está sofrendo com ansiedade:

1 - O animal para de comer;

2 - Urinar e defecar em lugares diferentes: “O cachorro que já tem um treinamento sanitário, faz tudo certinho e passa a fazer errado a partir do momento que está sozinho. Já é um sinal de alerta”, acrescenta Carolina;

3 - Beber menos água ou muita água;

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4 - Dormir menos, relaxar menos com ou sem a presença do tutor: “Esses são sinais que até mesmo a parte de saúde está sendo afetada, pois o mínimo é conseguir dormir e comer. Alguns estão sujeitos a desenvolverem doenças que estão relacionadas à imunidade”, afirma;

5 - Seguir mais o tutor quando está se preparando para sair de casa;

6 - Os vizinhos comentam que o cachorro está uivando, latindo ou chorando quando está sozinho;

7 - Destruição de objetos da casa, como sofás, almofadas e controle remoto da TV: “Inclusive muita gente acha que isso é por vingança, por ter ficado sozinho, mas na verdade ele está em sofrimento e a destruição vem como um alívio do medo e da frustração que está sentindo. É como uma ‘válvula de escape’. Muitas pessoas acabam brigando com esse cão e piora a situação, porque o que ele mais queria era a volta do dono, que está furioso. O cachorro vai ficando com um sofrimento crônico”, enfatiza a adestradora.

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Para o retorno ao trabalho presencial, os tutores devem procurar ajuda profissional para fazer um trabalho preventivo antes mesmo de os animais apresentarem os sintomas relatados.  Em casos mais graves, quando a ansiedade já é diagnosticada, é necessário um tratamento com médico veterinário, incluindo medicação, para ajudar o pet a conseguir se equilibrar. 

Adestramento positivo como uma opção para tratar ansiedade nos pets

Não basta só dar comida, água, uma cama e um afago eventual para que o seu pet se sinta bem. É necessário oferecer uma série de cuidados para que cães tenham uma vida digna e saudável, passando longe da ansiedade, sobretudo no retorno ao trabalho presencial. Algumas famílias conseguiram contar com a ajuda do adestramento em meio à pandemia e estão mais preparadas para esse momento, como relata o adestrador comportamentalista Thiago Barbieri: “O período de isolamento mais rígido foi uma excelente oportunidade para trabalhar a prevenção de problemas como ansiedade por separação, já que as pessoas estavam em casa o tempo todo. Foi possível criar uma rotina de independência dos cães onde eles só ficariam sozinhos quando estavam treinando, e apenas no tempo que ficavam relaxados, começando com poucos segundos, e evoluindo gradativamente para minutos e horas”. 

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O adestrador comportamentalista Thiago Barbieri ressalta que mesmo cães que dormem o dia inteiro ou ficam esperando o retorno dos tutores na porta podem estar em sofrimento emocional. Foto: Arquivo pessoal

Além dos sinais de ansiedade já apontados por Carolina Jardim, Barbieri acrescenta que outros comportamentos podem demonstrar sofrimento: “Alguns cães ficam em vigilância na porta o dia todo ou acabam dormindo o dia inteiro. Isso não quer dizer que não estejam em sofrimento, mas podem ter entrado em desamparo aprendido. Aí é preciso observar as mudanças de comportamento no dia a dia”.  Por isso é importante a ajuda de um profissional comportamental para identificar essas mudanças. “Antes de tudo, quero ressaltar que os cães são animais extremamente sociáveis, então, nenhum deles gosta de ficar sozinho por 8h, 9h ou mais horas, como infelizmente acontece em alguns casos”, enfatiza. O adestrador enumerou algumas atividades que são realizadas com os pets para prepará-los para esse momento:

- Atividades que auxiliam cães a estarem sozinhos: “Os treinos mais efetivos são os que criam uma gradualidade bem leve no tempo em que o cão fica sozinho, começando com segundos e aumentando aos poucos”, acrescenta Barbieri;

- Treinos gradativos: “Por exemplo, se um cachorro consegue ficar 15 minutos sozinho, iniciamos o treino com 10 minutos e aí vai aumentando. Nunca colocamos o cão numa situação em que vai entrar em sofrimento. À medida que o "metaverso" vai crescendo, o cachorro vai ficando cada vez mais tranquilo, porque criamos uma previsibilidade do que vai acontecer”, explica;

- Uso de sinalização olfativa, visual, auditiva, atividades de Enriquecimento Ambiental, brinquedos recheáveis, ossos, etc.

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