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Uma viagem pelo Brasil

O designer Renato Imbroisi percorre o País e ajuda na produção e divulgação do artesanato brasileiro

Por Marcelo Lima
Atualização:

Rendas e porcelanas na coleção do holandês Marcel Wanders. Papel-arroz em delicadas luminárias esculpidas por Kouichi Okamoto. Madeira em camadas, estruturando a Favela - poltrona de Fernando e Humberto Campana para a Edra, feita no Sul do Brasil e exportada para a Europa. Rico manancial de formas e "fazeres" próprios de cada cultura, a retomada de técnicas artesanais tem sido um dos principais vetores a orientar a atual produção de móveis e objetos ao redor do mundo. Revelar o potencial escondido do artesanato brasileiro - e fazer dele um veículo efetivo de inclusão social - tem sido o foco do trabalho do designer Renato Imbroisi, com 30 anos de atuação junto a comunidades de artesãos de todo o País. Graças ao seu olhar atento e curioso, a diversidade artesanal do Brasil, um saber espontâneo, transmitido de geração a geração, começa finalmente a ter seu alcance ampliado. Autodidata, Imbroisi trabalha com design têxtil há mais de 20 anos, tendo se interessado por técnicas de tecelagem e costura ainda criança, acompanhando o trabalho da avó costureira. Começou a cursar design na universidade, mas preferiu aprimorar seus conhecimentos por conta própria. Mais especificamente junto às artesãs que conheceu em viagens pelo interior do Brasil. "São segredos e truques passados de mãe para filha. Percebi que criar condições para viabilizar essa produção era a única forma de preservar esse conhecimento vivo", afirma o designer, que há oito anos desenvolve projetos de qualificação junto a comunidades de norte a sul. Entre eles, Flores do Cerrado, em Brasília; tecelagem manual e crochê, no sul mineiro; costura e bordado, no Rio Grande do Sul; e renda renascença, na Paraíba. "Procuro descobrir o que cada artesã pode fazer de melhor, interferindo o mínimo possível na criação. Sugiro formas e cores, introduzo materiais compatíveis aos trabalhos e me preocupo em aprimorar o acabamento para ampliar o potencial de comercialização dos produtos", diz. Resultado: objetos genuínos, capazes de se converter em fonte de renda e libertos da repetição excessiva. Tema, a comida brasileira Como ilustra, por exemplo, a coleção "Café Igaraí", a primeira incursão do designer junto a comunidades do Estado de São Paulo, lançamento da Rendas e Fricotes. Um trabalho delicado, desenvolvido junto a bordadeiras e artesãs de Igaraí, distrito de Mococa. Grupo formado por senhoras e adolescentes, que, além do trabalho com o café, têm outra característica em comum: a habilidade artesanal, conhecimento herdado e praticado com prazer. Mulheres que, de maio a setembro, trabalham na colheita, mas nos outros meses tornaram rentável uma atividade criativa, sob a orientação de Imbroisi. São xícaras pintadas à mão, serviços de mesa, toalhas decoradas com temas do café, tudo tingido pelas cores da vegetação nativa. Coincidência ou não, o mais recente projeto de Imbroisi também contempla a culinária, dessa vez segundo a ótica de artesãs de comunidades do Distrito Federal, encarregadas de dar cor e forma a uma linha de copa e cozinha que homenageia a comida brasileira e tem como inspiração pratos elaborados por chefes como Alex Atala, Flávia Mariotto e Salvatore Loi. "Na linha dos chefs", uma parceria do designer com o Sebrae, tem lançamento previsto para março na Paralela Gift, em São Paulo. Além de serviços de mesa, a coleção traz acessórios (descanso de talheres e porta-guardanapos), obtidos com a técnica do biscuit. "Essas mulheres têm tanto talento! Apenas não sabiam como entrar no mercado...", orgulha-se o designer.

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