Uma ode à arte da Tiffany

Mostra em Paris reúne 160 objetos – de joias aos famosos vitrais – da loja americana que virou até filme

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Por Redação
Atualização:

.Texto de Maria Ignez BarbosaProdução de Maria Gerina NotoliniFotos da Agence Observatore

 

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Tal pai tal filho. Charles Lewis fundou; Louis Comfort deu fama. A ambos, exímios criadores e artesãos, sobretudo do vidro, deve-se a Tiffany, hoje tão nossa conhecida. A grife da caixa turquesa e fita branca, marca registrada da loja americana que foi fundada em 1837 e só aportou no Brasil neste século, sempre foi sucesso e já até virou nome de filme, Breakfast at Tiffany’s (Bonequinha de Luxo), de 1961, com Audrey Hepburn.

 

Se hoje ganhou ares quase minimalistas, no século 19, a loja surgiu propondo a ornamentação suntuosa e de efeito espetacular, se inserindo em movimentos como o Arts&Crafts, o art nouveau, o estético americano, e fazendo incrível sucesso na Europa, então o grande berço da cultura e das artes ocidentais.

 

 

No dia 16 de setembro será inaugurada em Paris, no Museu de Luxemburgo, nos jardins do palácio que abriga o senado francês, a exposição "Couleurs et Lumière", uma ode ao trabalho de Louis Comfort Tiffany e à sua contribuição à indústria, à arte do vidro e à história das artes decorativas.

 

Vem de longe o interesse dos franceses pelos vitrais coloridos e pelos vasos de vidro favrile (do latim fabriles – feitos à mão), o vidro soprado iridescente de formas orgânicas, com reflexos marmorizados e decorados com elementos da natureza, como flores e plantas que podiam vir sobre pedestais ou suportes de prata, bronze ou chumbo trabalhados. Nas famosas exposições internacionais em Paris, tanto na de 1878 como na de 1889, tudo o que fosse by Tiffany causava sensação e ganhava medalhas e prêmios. O próprio Museu do Luxemburgo, em 1894 e 1901, adquiriu belos vasos favrile para seu acervo e, em 1919, ganhou mais dois do próprio designer.

 

 

PAIXÃO PELO EXOTISMOConsiderado um dos maiores criadores americanos de todos os tempos, Louis Comfort herdou do pai a paixão pelo exotismo e se debruçava sobre o vidro como um pintor envolvido com a cor e a composição. Nascido em 1848, de 1865 a 1869 estudou em Paris no ateliê de Leon Charles Bailly, onde aprendeu não só sobre o modo francês, como também sobre o inglês e o italiano, de manipular o vidro. De volta aos Estados Unidos, envolveu-se com a decoração de interiores, colocando vitrais em janelas e divisórias, pondo seus vasos e luminárias, mosaicos de vidro, cerâmica com desenhos superelaborados em lareiras e explorando todas as possibilidades de união desses materiais com diversos metais fundidos. Entre seus clientes, o escritor Mark Twain e o presidente Chester Arthur, que o convidou a fazer intervenções na Casa Branca.

 

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Graças ao marchand Siegfried Bing, dono da Galerie Art Nouveau, em Paris, começou a receber encomendas de vitrais baseados em desenhos de artistas franceses conhecidos na época, como Bonnard, Vuillard e Toulouse-Lautrec. Nos Estados Unidos e no Canadá, os vitrais eram usados não só em residências, mas também como elemento arquitetônico em igrejas e instituições culturais.

 

Além de homem viajado, dois casamentos, oito filhos, artista nato e de saber ter à sua volta outros grandes artesãos e criadores, Louis Comfort soube tirar partido das novas técnicas de eletricidade. Suas luminárias Tiffany ganharam enorme popularidade e passaram a ser fabricadas em série. Basta dizer que, na época, era possível escolher entre 300 modelos, em geral decorados com flores como magnólias e glicínias, tão típicas do estilo art nouveau. Louis Comfort mostrou-se também um bom gestor negócios. Em 1881 fez três registros técnicos sobre modos de dar opalescência e brilho especiais ao vidro. A C.Tiffany & Co expandia-se, sendo os vitrais uma de suas maiores fontes de renda. E fora a produção dos objetos de vidro, para suporte de seu trabalho na ambientação de interiores, partiu também para a fabricação de tecidos para forração de paredes e móveis.

 

 

Foi quando a Tiffany’s entrou no ramo das joias. São peças hoje de museu os broches de orquídeas com brilhantes, pedras preciosas e esmaltadas de Paulding Farnham, designer famoso que, além de joias, criava objetos de prata, ouro e vermeil e muitas vezes ornamentava com esses materiais os vasos de Louis Comfort. De Paulding, que ficou célebre aos 29 anos quando ganhou a medalha de ouro por seus desenhos para a Tiffany na Exposição Internacional de 1889, diz-se que Louis Comfort teria ciúmes. Em 1889, o New York Tribune escreveu que cada broche de Paulding Farnham "era tão perfeito à sua maneira quanto o produto da natureza". Louis, no entanto, o manteve na firma até 1908, quando Paulding decidiu se aposentar por iniciativa própria.

 

DE JOIAS A VITRAISA exposição em Paris, concebida por Rosalind Repall, curadora do Museu de Belas Artes de Montreal, e cuja cenografia ficou a cargo do artista neobarroco francês Hubert Le Gall – que já foi responsável pela montagem de uma exposição de joias de René Lalique no mesmo museu e da exposição "Picasso e Manet" no Musée D’Orsay – terá 160 objetos, de mosaicos, desenhos, aquarelas, vasos, joias e objetos decorativos aos famosos vitrais. Alguns desses vitrais foram trazidos do Museu de Montreal e, para essa viagem à Europa, foram desmontados, estudados e restaurados, uma proeza de técnica e de logística excepcionais.

 

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De mais perto, do Museu D’Orsay, veio o que faz parte do seu acervo, com desenhos baseados em Toulouse-Lautrec. Do Museu do Ermitage, em São Petersburgo, veio um grande que vitral que havia sido mostrado na exposição de 1900 em Paris. Outros museus, como o Metropolitan, o Chrysler Museum of Art, o Musée des Arts Decoratifs de Paris, o Virginia Museum of Fine Arts e o Petit Palais, e colecionadores privados também emprestaram peças para essa mostra que deverá permanecer em Paris até 17 de janeiro de 2010 e será depois montada em Montreal e, em seguida, na Virginia, nos Estados Unidos.

 

Reconhecido e muito celebrado em vida – em 1916, o Metropolitan Museum of Arts em Nova York fez um retrospectiva de seus trabalhos, quando o designer retribuiu com um almoço para 300 pessoas –, Louis Comfort Tiffany morreu milionário, de pneumonia, em 1933. (http://www.mariaignezbarbosa.com/).

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