Um loft para jóias

O designer Fernando Siena transforma antiga fábrica de cordas em casa e ateliê

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Por Roberta de Lucca
Atualização:

Quem passa numa das pacatas ruas do bairro de Mirandópolis nem imagina que atrás do portão preto, entre uma oficina mecânica e uma sapataria, há um autêntico loft. Sim, loft daqueles feitos em galpões industriais, como dita a receita clássica desse tipo de moradia. Em vez de indústria, a construção abrigava uma cordoaria que ocupava 480 m² em dois pavimentos. Ali, o designer de jóias Fernando Siena encontrou espaço para morar e trabalhar no mesmo local. "Durante meses procurei um galpão e nada. Fui em busca de salas comerciais espaçosas, construídas em cima de padarias, farmácias; aquelas coisas bem de bairro", recorda. Numa dessas visitas, finalmente encontrou o imóvel. "Perguntei para um comerciante da rua se sabia de algum galpão para alugar e ele indicou esse", diz, contando que já na primeira visita visualizou como seria o novo endereço: ateliê no térreo e casa no andar de cima. Embora não seja arquiteto nem decorador, Fernando cuidou sozinho da reforma e ambientação, valendo-se do olhar e do senso estético apurados ao longo dos anos. Estudou artes plásticas e parou; depois cursou Direito porque queria ser diplomata e desistiu, até resolver estudar design na Faculdade de Belas Artes. Mas nem com o diploma na mão ele sossegou. "Adoro manusear materiais, criar, e resolvi trabalhar com prata e pedras brasileiras", diz. "Também pinto telas para desestressar; por isso, queria um lugar para viver e fazer o que gosto." Hoje, quem entra no ateliê com sofás déco, nem faz idéia de como o imóvel estava detonado. A reforma, que levou nove meses, "porque os pedreiros não entendiam o que eu queria e empurravam com a barriga", começou pelo telhado, com revisão do madeiramento e substituição das telhas quebradas por outras, compradas em loja de material de demolição. O galpão de 21,60 m de comprimento era escuro, tinha apenas um pequeno elemento vazado na parede lateral. Para garantir a farta entrada de luz, além de telhas de vidro, Fernando instalou janelas e uma porta de vidro na parede (tudo da JR Demolições). Próximo dali fica a cozinha, com bancada de 4,80 m de comprimento em forma de trapézio, reproduzindo o desenho do galpão. "Ela também serve de apoio quando dou festas", explica o morador, que comprou, na rua Santa Ifigênia, uma mesa de luz para criar os cenários das baladas. O tampo mão norteou boa parte da escolha dos móveis e objetos. "Gosto de peças antigas desde garoto. Eu me enfurnava na biblioteca do colégio na hora do recreio e lia livros de história e arte. Foi aí que despertei para esse universo." O reflexo disso fica evidente no home office com mesa de jacarandá estilo Império, comprada na rua Cardeal Arcoverde, acompanhada por cadeiras de madeira Biedermeier (do antiquário Fernando Motta) e reproduções de Charles Eames e Marcel Breuer. Só um quarto Quando morou em Londres, Fernando afinou ainda mais o faro por antiguidades. "Ganhei vaga num curso de design, mas, como não consegui pagar, aproveitei o tempo para conhecer mais sobre móveis e peças antigas", conta. Ao voltar para o Brasil, em 1998, trabalhou com compra e venda de itens de época e design gráfico, até seguir a carreira de criador de jóias. Entre as peças espalhadas pelo loft, destacam-se a cadeira de couro e inox, projeto do arquiteto Flávio de Carvalho, e a luminária escultura assinada pelo italiano Gaetano Pesce - estrategicamente colocada acima da lareira com frontão de madeira da JR Demolições. Em frente, o sofá com duas chaises de nobuck (R$ 2.925, na Ilustre) e, ao lado, a mesa de madeira e tampo de mármore que apóia o espelho com moldura dourada (da Juaperi, custa R$ 1.500). Se esse conjunto denota imponência, o único quarto causa a mesma impressão. À direita da entrada há uma parede arredondada que abriga, do outro lado, o closet. A decoração volta ao passado: cama mineira do século 18, reprodução de cadeiras Luís XVI e mesa de madeira do século 18. Ainda obedecendo à regra de morar num genuíno loft, o designer integrou quarto e banheiro, com hidromassagem de segunda perto da cama. "Gosto muito da minha casa, tanto que fico dias sem botar o pé na rua", revela.

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