Um homem que cria moooi

A palavra significa muita beleza em holandês e traduz a tarefa de Marcel Wanders para sua empresa de design

PUBLICIDADE

Por Marcelo Lima
Atualização:

Com pouco menos de dois metros de altura, sua figura esguia, realçada pelo terno de bom corte e por um bem calculado colar de pérolas, dificilmente passaria desapercebida. Nem em meio à agitação reinante no Super Studio Più, na zona Tortona milanesa - o endereço da vanguarda durante a Semana do Design. O mesmo pode se dizer do impactante espaço da Moooi (o equivalente a beleza em holandês, acrescida de um "o" para denotar beleza extra). Lustres com imensas cúpulas, papéis de parede exibindo desenhos de época em tonalidades fluorescentes, mesas híbridas, com animais domésticos incorporados à composição. Uma das coleções mais enigmáticas - mas, sem dúvida, uma das mais coesas - apresentadas na última temporada do design, em abril. Construída na exata medida do talento de seu criador, o holandês Marcel Wanders, um dos mais influentes designers da atualidade. "Com minhas criações procuro evidenciar que vivemos em um mundo que é, em si, superfantástico", defende Wanders. Um outsider assumido quando o assunto é confinar o desenho aos limites estreitos do funcionalismo. "O design pode se constituir em um novo sopro criativo, onde a arte possa ter perdido significado e proposta. Uma ferramenta capaz de conectar as pessoas de forma pessoal", explica. Elaboradas, segundo ele, para agradar aos olhos e à alma, suas criações decididamente preferem navegar outros mares. Algumas, de forma abertamente alegórica; outras, como a realização física de um ideário de beleza, factível ou não. Com a devoção de um poeta romântico, porém, em todas elas Wanders parece estar sempre perseguindo um ideal de harmonia - a combinação exata, capaz de sugerir uma linha narrativa para seus trabalhos. O artesanato - em peças que retém todos os traços de sua manufatura, caso da Crochet Chair - e um olhar menos preconceituoso sobre as artes decorativas são temas recorrentes em sua obra. "O design se tornou muito tecnológico. Parece que simplesmente resolvemos esquecer tudo o que nos foi ensinado nos últimos 100 anos. Quero olhar para o futuro, sim, mas também para o passado", avisa o designer. O vanguardista Droog Design Nascido em Boxtel, Holanda, em 1963, Marcel Wanders percorreu uma trajetória de excelência no mundo acadêmico. Formado pela Academia de Eindhoven, nos anos 80 travou contato com Richard Hutten, Jurgen Bey e Hella Jongerius, designers com os quais veio a formar o vanguardista Droog Design - grupo aclamado como a "Memphis dos anos 90", responsável por enterrar os últimos ecos do minimalismo, no início da última década. Situado à beira de um canal, o estúdio do designer em Amsterdã - anexo ao apartamento onde vive com a mulher e a filha de 10 anos -, conta hoje com 25 colaboradores trabalhando em ritmo intenso. Além de desenvolver projetos para a própria companhia (ele é sócio-proprietário da Moooi), Wanders colabora regularmente com empresas italianas do primeiro time (entre elas, Flos, B&B, Bisazza, Moroso, Boffi e Cappellini). Na trilha do francês Philippe Starck (do qual é admirador confesso), nos últimos anos Wanders ampliou o leque de projetos, desenhando desde objetos exclusivos (as porcelanas, pintadas à mão, para a Royal Delft holandesa) a produtos de largo consumo (as bolsas, para a Puma). Sem esquecer, claro, de imprimir sua marca a emblemáticos hotéis, como o Luite, instalado em uma casa do século 17, na capital holandesa, e o Mondrian South Beach, em Miami. Das origens no Droog, Marcel conserva o desejo de democratizar o acesso ao design. O que, segundo ele, pode ser obtido por meio do emprego de formas universalmente bem aceitas - que ele chama de arquétipos - temperadas por variações de materiais, luminosidade, escala e cor. Caso, por exemplo, da Chubby, reedição de sua poltrona Crochet Chair, de 2006, que acaba de ganhar versão em plástico, da Slide Design. Ou ainda de Bacchus, contêiner destinado a acomodar até 40 garrafas de vinho: um objeto empilhável, de uso cotidiano, mas com feições escultóricas, que introduz o desenho de forma acessível para os amantes de Baco. "Esse é um dos grandes equívocos do design: a obsessão em fazer as coisas mais simples. Eu acho essa idéia terrível. Todos merecemos o melhor. E o melhor nem sempre está no mais simples", pontua. (marcelo.lima.antena@estadao.com.br)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.