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Um fogão no paraíso

Em sua casa de campo, em Valinhos, o gourmet Jairo Saddi une a paixão por culinária à paisagem exuberante

Por Olivia Fraga
Atualização:

O paraíso do advogado Jairo Saddi é composto de quatro paredes, duas bancadas e um fogão de seis bocas. Uma das paredes, na realidade, é de vidro. Dela, Jairo espia na linha do olhar, por cima dos óculos, a montanha verde que protege o município de Valinhos, região de Campinas. Vontade de escapar voando por aquela paisagem ele não tem - entre paisagem e paraíso vai uma diferença grande, e ele prefere o último. Por isso, sempre que pode, Jairo escapa de São Paulo e visita sua cozinha no interior. "Visitar" é mesmo o verbo apropriado. É a razão de ser da casa construída em um dos condomínios da cidade, tendo sido feita antes de todos os outros cômodos, num bloco isolado, na parte mais baixa do terreno - a residência mesmo só ficou pronta há seis meses, em "conseqüência" dos vários almoços promovidos pelo gourmet. Fez-se necessário hospedar os comensais e a família durante os finais de semana para que aproveitassem tudo o que Jairo oferece, feliz, em sua mesa. "Estou pensando em emendar as sextas e as segundas para ficar aqui", diz o dedicado gourmet, com una doma impecavelmente branca e calça xadrez. Ante os comentários sobre sua elegância, Jairo pondera: "A doma até imita o do Salvatore (Salvatore Loi, chef do Fasano), mas a calça prova que ainda sou aprendiz". Aos 42 anos, bom-prato e amante de viagens, o advogado que atua no setor bancário lembra o dia em que participou de um leilão de móveis, nos anos 90, no restaurante Bice, na Rua Groenlândia, um de seus preferidos na cidade, que estava prestes a baixar as portas. Na ocasião, Jairo comprou um bar de quase 16 metros de comprimento a preço de banana. Ficou tão entusiasmado que deixou para pensar depois onde colocar o móvel - com o tempo, porém, a peça se deteriorou e foi queimada. Fugindo do 'fish'n'chips' Do pretexto de arrumar lugar para o bar até as aulas de culinária com grandes chefs foi um passo. Ter morado 18 meses na Inglaterra, no início dos anos 90, serviu de lição para Jairo. "Comia-se muito mal ali, e a Inglaterra não é um país pobre", comenta ele. Para fugir do fish?n?chips (peixe e fritas, prato popular britânico), o advogado tinha de se virar na cozinha, mas nada que o assustasse. Afinal, "as mulheres costumam adorar homens que cozinham". A família libanesa, afeita a grandes reuniões e saraus (a mãe dele é pianista), apóia sua incursão nas artes gastronômicas, especialmente Fabiana, sua mulher, que anda preocupada com as generosas refeições preparadas por Jairo. "Tenho medo de engordar. Quando a gente vem para cá é o dia inteiro comendo e vendo TV", brinca Fabiana, que confessa ser um desastre na cozinha. Para o gourmet, o ofício deve ser levado a sério. Ele ainda não se atreve a fazer churrascos, embora tenha feito um gazebo no jardim com forno a lenha e churrasqueira. Preferiu se especializar em frutos do mar. Abrir um restaurante também não está nos planos, pelo menos por enquanto. "Aquilo que faço é para os amigos, as pessoas de que gosto." Jairo capitaneou sozinho as obras da cozinha. Sabedor de suas necessidades, fez tudo com calma e esmero. Cada acabamento foi escolhido pelo casal. A cozinha não disputa atenções nem mesmo com a mesa de jantar; as pessoas se sentam à frente do cozinheiro (cadeiras vermelhas de aço cromado e couro sintético, por R$ 450, na Etna) na longa bancada de granito café imperial (com 2 cm de espessura, R$ 300 o m², na Marmoraria Valinhos). Há mais uma bancada de trabalho, entre o fogão de seis bocas e o freezer (modelo Clean 280 da Brastemp, R$ 2.599, no Magazine Luiza), onde ficam as especiarias (curry de 500 g, da Bombay Food Service, por R$ 12; açafrão, R$ 7,50, idem), sais, temperos, azeites especiais (Quinta das Marvalhas Premium, 250 ml, R$ 34,35, no Emporium São Paulo; e de castanha-do-pará Ouro Verde, por R$ 51, no Pão de Açúcar), e a barra de aço inox com ganchos para o porta-papel-toalha e outros acessórios. Armários horizontais (projeto da Elgin, preço sob consulta) guardam todos os apetrechos que o gourmet utiliza (espátulas de silicone, R$ 28, na Spicy), dispensando os módulos de parede. Uma das paredes, aliás, deu vazão a um sonho: dotar a cozinha de arte, com um mosaico. "Ele tem algo de Tomie Ohtake, pelas cores e curvas. O trabalho ficou ótimo", aponta ele (executado pela mosaicista Gisele Kovacs, que cobra de R$ 65 a R$ 250 o m² pela mão-de-obra).

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