PUBLICIDADE

Três formas de adotar o estilo industrial

Conforto, cor ou elegância. Basta escolher o seu viés favorito para o uso na decoração

Foto do author Ana Lourenço
Por Ana Lourenço
Atualização:

O estilo industrial é conhecido por trazer o charme urbano para dentro de casa. O rústico é sua característica mais marcante: os projetos costumam abusar de itens de madeira, metal aparente e também da falta de revestimentos. As paredes são expostas “nuas”, de modo que mantêm seu material original à vista: concreto, cimento, tijolinhos.

A arquiteta Virgínia Lopes contrapõe paleta de cores claras com rusticidade do concreto Foto: Fran Parente

PUBLICIDADE

O estilo surgiu em Nova York, nos Estados Unidos, durante o século 20, quando a cidade teve um grande crescimento populacional e seus habitantes passaram a morar em lofts – apartamentos bem amplos que, anteriormente, abrigavam fábricas e velhos galpões.

No entanto, ao contrário do que se pode imaginar, o estilo mais bruto não necessariamente tira o aconchego da casa. Em Perdizes, um apartamento de 93 m² explica muito bem o conceito. A linha condutora do projeto foi a coluna central entre a cozinha e a sala, que não poderia ser removida. “Ela foi descascada e deixamos sua estrutura original de concreto armado totalmente ‘nua’”, conta a arquiteta Virgínia Lopes, do escritório Nildo José Arquitetura (nildojose.com.br), que também é a moradora da casa. 

Tanto ela quanto o marido vieram do interior de São Paulo para estudar na capital e acabaram ficando na cidade. “Queríamos trazer a noção do interior para dentro; o piso de lajota, o tijolinho cerâmico, a natureza, a madeira”, explica. 

Por ser arquiteta e ter a chance de planejar sua própria casa, a reforma do apartamento foi imaginada muito antes da compra do imóvel. “Fazer o projeto do meu apartamento era um sonho de muito tempo. Pude me colocar, pela primeira vez, no papel do cliente, e acho que foi um processo muito rico, que me ajudou a entender as inseguranças e os dilemas que surgem ao longo do processo.”

A idade do edifício (com mais de 50 anos) dificultou o acesso às informações sobre a estrutura do imóvel e, consequentemente, os planos de reforma. “Uma das dificuldades foi que não havia passagem para tubulação de ar-condicionado, assim, tivemos de criar soluções em drywall que escondessem essas tubulações”, exemplifica. 

Por isso mesmo, a iluminação do apartamento foi feita com rebaixamento de forro de gesso e spots de luz, o que, de certa forma, contribuiu para a delicadeza do projeto – outro ponto em que o apartamento chama atenção, uma vez que associa o “bruto” do industrial com a delicadeza criada pelos detalhes dos ambientes. 

Publicidade

As texturas naturais, especialmente do sofá de linho cru, produzem uma paleta de cores claras, o que transmite suavidade e dá ao apartamento um clima convidativo e elegante. Ao mesmo tempo, a integração do living e da cozinha propõe interação entre os ambientes, fugindo do conceito de cozinha americana. A mesa de jantar parte da coluna central – e, dela, segue todo o contexto restante do layout. “São Paulo é frenética e pede descanso, e aqui acabou se tornando nosso porto seguro”, completa.

Brutalidade na medida certa

Por outro lado, o projeto da arquiteta Vanessa Ribeiro, da Quattrino Arquitetura (quattrinoarquitetura.com.br), tem uma gama de cores mais fortes, ainda que siga o mesmo estilo do primeiro projeto. As portas de tonalidade roxo-beterraba contrastam com a parede de tijolos rústicos vermelhos e, ainda, com uma grande estante de ferro. 

No apartamento de 97 m² localizado na cidade de Guarulhos, o ferro, o concreto e o projeto luminotécnico com trilhos aparentes chamam a atenção – todas características muito presentes no estilo industrial.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

“O maior desafio foi harmonizar a viga que dividia o terraço da sala de estar. A estante, projetada pelo designer Rapha Preto, da Black Iron, soluciona isso, a partir do momento em que ela acompanha toda extensão dessa grande área social”, ressalta Vanessa. Além disso, a estante se adapta aos ambientes, com uma utilização diferente em cada espaço, como escritório e bar. A peça serve ainda como local para armazenar instrumentos musicais. 

Para a casa se tornar um lar, é preciso que as preferências do morador, seu estilo e sua forma de se sentir confortável sejam levadas em conta no projeto. Ponto esse que foi muito considerado por Vanessa, uma vez que os grandes amores da família são música e culinária. Assim, a estante ganhou destaque na sala e a reforma priorizou a cozinha. 

“Quebramos a alvenaria que dividia parte da cozinha e criamos uma bancada de concreto, moldada in loco, formando um L com a bancada da cuba, ao fundo da cozinha”, detalha a arquiteta. O posicionamento do ambiente foi pensado como uma ilha central, de forma que o cozinheiro pudesse ficar de frente para as visitas enquanto prepara os banquetes.

Publicidade

Toque apurado

Versátil, o estilo industrial consegue se encaixar bem em propostas delicadas, coloridas, monocromáticas, joviais e também em projetos mais elegantes. Como no caso da residência de 150 m² projetada pelo arquiteto Júnior Piacesi (piacesi.com), em Belo Horizonte. “O tijolinho foi escolhido como forma de trazer cores mais vivas e quentes para dentro do apartamento. Para não ficar pesado, somente algumas paredes receberam o revestimento”, pontua Piacesi. 

Em alta
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

Ao mesmo tempo, o cinza do concreto utilizado no piso e nas paredes se contrapõe à rusticidade do tijolo e confere unidade ao espaço, além de auxiliar na sensação de amplitude do ambiente. 

A elegância do projeto é finalizada com a iluminação, feita por meio de spots de luz e luminárias. O preto do industrial continua presente, mas, em vez de trilhos expostos, ele ganha forma no couro e no granito preto da bancada da cozinha. A marcenaria não é um destaque do projeto – no entanto, merece ser citada pelas linhas elegantes e retilíneas. Segundo o arquiteto, o acabamento escolhido foi a microtextura, que é uma pintura aplicada sobre o MDF. Já as portas ganharam vidro acidato grigio, obtido pelo tratamento com ácido que tem efeito opaco e textura aveludada.

A ideia de olhar para os detalhes remete muito ao estilo minimalista, também presente no projeto, de forma que o excesso é substituído pela escolha cuidadosa de cada objeto do ambiente, sempre avaliando sua funcionalidade. “Apesar do minimalismo ser muito associado a cores frias, como branco, cinza e preto, mantivemos em mente que, para os clientes, era importante a questão da visita e a sensação de aconchego. Por isso, as cores e texturas precisaram ser trabalhadas”, explica o autor do projeto.

Assim como sua grande metrópole de origem, o estilo industrial se adapta ao tempo, ganhando versões mais contemporâneas e funcionais. Hoje, o estilo já conquistou muitos adeptos em outra grande cidade, São Paulo. E, assim como a capital, que aparenta ser fria, com seu excesso de cinza e sua brutalidade, a decoração também pode surpreender, criando espaços de acolhimento e bem-estar para quem se atreve a conhecê-los.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.