Em uma casa antiga na região central de São Paulo, Jejo Cornelsen e Paola Croso desenvolvem artesanalmente cores para levar calor e suavidade a paredes. Ali mesmo quase tudo foi pintado com as tintas à base de terra crua criada pela dupla, que em 2012 fundou o Studio Passalacqua. “Queremos mexer com as emoções por meio de nossas cores”, diz ela.
A designer e o artista multidisciplinar já trabalhavam com cor separadamente – ela na indústria têxtil, ele em projetos de interiores e cenários – e, juntos, passaram a catalogar as criações. “Adoramos ficar pensando nos nomes de cada uma”, conta Paola.
Enquanto misturam terra, água e pigmentos, em um cômodo cheio de baldes para testar tonalidades, ou conversando no escritório com uma mesa antiga de madeira maciça surgem nomes como Adriático, Rosso Milano, Verde Toscana – são lembranças de lugares, sensações que surgem a cada tom definido.
Mas outros podem ser criados conforme o lugar onde a tinta será aplicada, dependendo do que a dupla achar que cai melhor naquele espaço. Aplicada diretamente no cimento da parede – “temos horror a massa corrida, é muito fria” –, com desempenadeira ou broxa, a tinta tem uma textura leve. “Ela tem uma plasticidade que aquece o ambiente”, acredita a designer.
O gosto pelas tintas se transferiu para outra paixão da dupla: os ladrilhos hidráulicos. O estúdio esenvolveu uma linha exclusiva para a Ladrilar, resgatou moldes antigos que andavam meio esquecidos e levou para a fábrica 15 de suas cores.
No ano passado, quando mostravam suas tintas – emolduradas em painéis de madeira que por si só são encantadores – em um dos eventos da Semana de Design de Milão, conheceram os designers Emiliano Salci e Britt Moran, do Dimore Studio, e uma nova parceria foi firmada. O Dimore criou um desenho geométrico e o Passalcqua propôs uma combinação de cores. As peças, fabricadas pela Ladrilar, foram mandadas para a Itália e mostradas no Salão do Móvel milanês em abril passado. “O ladrilho é de origem italiana, de uma época em que não havia design autoral, se espalhou pelo Mediterrâneo e pelo mundo árabe, e voltou como algo contemporâneo em Milão”, diz Paola.
Na casa do estúdio, o piso de ladrilhos hidráulicos instalados há décadas é o mesmo. Jejo e Paola só trocaram algumas peças danificadas em uma pequena área externa. “Valorizamos o imperfeito, mas, claro, não se trata de gostar do defeito, e sim do que é feito à mão e não pela precisão de uma máquina”, diz Jejo.