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Sob medida para Michigan

A arquiteta brasileira Rejane Beçak Leão projetou sua casa [br]explorando a funcionalidade

Por Monica Nobrega
Atualização:

Nos Grandes Lagos, ao norte dos Estados Unidos, a temperatura no verão chega a 35°C e, no inverno, a menos 20°C. Não raro, variam 15°C num só dia, afetando a vida de quem mora na região. Para construir, é indispensável prever situações como a dilatação e a retração dos materiais. "Aqui as casas se mexem", diz a arquiteta paulistana Rejane Beçak Leão, que reside há oito anos perto de Detroit, no estado de Michigan, com o marido e os filhos. A trajetória dessa família é comum à de muitos brasileiros que vivem no exterior. Formada pela Faculdade de Belas Artes, Rejane acompanhou o marido, Roberto Leão, consultor de informática, quando ele foi convidado para trabalhar em uma multinacional. O tempo passou, ela trabalhou como professora universitária por lá e o sucesso profissional do casal tornou definitiva a mudança para os Estados Unidos. Assim, o casal buscou um local para construir sua casa, erguida em 2005 no Franklin Village, subúrbio residencial de Detroit. A The Blue Box House, como foi batizada, a um só tempo sintetiza as idéias arquitetônicas de Rejane e os conhecimentos que ela adquiriu ao trabalhar em outro país com materiais diferentes dos empregados no Brasil. Um exemplo é o custo elevado do concreto, que praticamente inviabiliza seu uso em residências nos EUA. Por isso, as casas são feitas de madeira e depois revestidas. Rejane escolheu placas de cimento de 1,20 m x 2,40 m (James Hardie, a partir de US$ 32 cada placa; na Useplac, em São Paulo, placa semelhante custa R$ 61,80 ) arrematadas por perfis de vinil, que não podem ser pintados e criam listras horizontais nas fachadas. Embora os frisos não tenham agradado à arquiteta e ao seu marido - que acabou por redirecionar a carreira para o setor de construção civil -, eles ajudaram a destacar o conceito do projeto. "Nesta casa há um ponto de fuga que orienta o olhar e a partir do qual se abrem outras possibilidades de ver", diz Rejane. Essa orientação começa a partir da passarela de madeira que conduz à entrada principal e evita o contato dos pés com a neve (de grápia brasileira, com 15 cm de largura, R$ 67 o m², sem instalação, na Parquet União). Residência em "caixas" Antes de alcançá-la, o visitante atravessa um amplo jardim com solo ondulado para facilitar o escoamento da água da nevasca. No fundo do terreno de 7.800 m² fica a construção de 680 m² e três pavimentos. O principal está no nível da rua e sobre ele foi "encaixada" a Blue Box, que abriga o escritório da arquiteta. Outras "caixas" espalham-se pela residência, dando unidade visual ao projeto. Em uma das laterais da área externa, um bloco vermelho é ocupado pela churrasqueira. A mesma cor foi empregada na parede entre o living e a área íntima. A cozinha integrada ao estar tem um bloco azul que reúne armários desenhados por Rejane e o forno duplo GE Monogram (ainda não está à venda no Brasil, mas o modelo similar da linha Icon, da Electrolux, sai por R$ 12.999, no site da Fast Shop; nos EUA, o modelo Profile da GE custa cerca de US$ 3,6 mil, no site One Click Appliances). Todos os móveis privilegiam o uso e se harmonizam com os ambientes, graças ao design de linhas retas e às cores vermelho e azul. Os mesmos tons se repetem nos quartos dos filhos, decorados com peças da Ikea. O casal lançou mão de soluções tecnológicas e ambientalmente corretas para tornar a morada funcional, confortável e sobretudo econômica. O piso da área social, por exemplo, é de bambu (cerca de US$ 60 o m², na Mannington; em São Paulo, o m² instalado custa a partir de R$ 195 na Bamboo Look). "É o top da consciência ecológica", diz Roberto. Em uma rede de serpentinas sob o piso, circula água quente para aquecer o chão. Também em razão do inverno, quando a casa fechada poderia representar um desafio à renovação do ar interno, o sistema movido à pressão atmosférica é acionado. O aquecimento da água é a gás e o custo da instalação compensa: há uma economia de 1/3 com energia elétrica. Já para atenuar o calor, as janelas duplas preenchidas com gás argônio filtram 97% dos raios ultravioleta. No andar mais baixo, o walk out - porão aberto para a área externa - foi construído no declive natural da parte de trás do terreno. Dessa forma, a área de lazer, com home theater, salão de jogos e bar, está no mesmo nível do jardim, separada por portas envidraçadas de correr. Lá fora, a minifloresta de sassafrás, de folhas que mudam de cor a cada estação, também serve de barreira contra os ventos fortes da região. Um trilha aberta entre a vegetação ganhou o nome de Tijuca Path, homenagem à floresta carioca, e tornou-se o lugar preferido da criançada, que tem acesso livre ao terreno sem cerca ou muro. Exatamente como as casas que se vêem no cinema. Nisso, apenas nisso, a The Blue Box House é igual às casas da vizinhança.

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