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Sem medo de riscos

Zaha Hadid, arquiteta iraquiana que fez carreira em Londres, tem retrospectiva de sua obra no Design Museum

Por Marcelo Lima
Atualização:

Londres vivia tempos de depressão quando Zaha Hadid chegou à cidade, no início dos anos 70. Reunindo pensadores radicais - e aberta a questionamentos de toda ordem -, a Architectural Association, escola onde concluiria sua formação, cedo se converteu em um autêntico refúgio para a jovem estudante iraquiana, confrontada com um cenário marcado pela falta de novos projetos e de perspectivas. Londres 2007. No ritmo da cidade que escolheu para viver, o escritório Zaha Hadid trabalha a pleno vapor: operando em escala global, conta com projetos em Cingapura e Istambul. Supervisiona a construção de um teatro na China e de um complexo voltado para a arte contemporânea - o primeiro da cidade - em Roma. Sem descuidar ainda de um arranha-céu em Dubai, de um novo sofá a ser lançado em Milão e do salto de um futurístico sapato desenhado para a Melissa brasileira. Referencial na vida e obra da arquiteta, a metrópole britânica continua a ocupar lugar de honra na disputada agenda de Mrs. Hadid. Além do Centro Aquático - conjunto desportivo com inauguração prevista para a Olimpíada de 2012 -, Londres acaba de abrigar a mais ambiciosa retrospectiva já dedicada à profissional iraquiana: dezenas de pinturas, esboços, maquetes, projetos, móveis e objetos inéditos. Um acervo raro, distribuído por dois pavimentos do Design Museum, nas "docklands", bem às margens do rio Tâmisa. Tendo como ponto de partida o monumental Swarm (lustre com cristais Swarovski para a inglesa Established & Sons) a Zaha Hadid - Architecture and Design propõe um percurso pouco convencional pelo universo da arquiteta. Apresentados por meio de projeções, muitos dos projetos praticamente incorporam o visitante a seus interiores. Sem falar na inédita coletânea de peças de mobiliário e design, especialmente selecionados para a mostra, possibilitando ao público conferir o trabalho de Zaha em dimensão mais ampla. Influência do suprematismo Com passagens pelas principais universidades americanas, como Harvard e Columbia, sua consagrada carreira acadêmica aparece bem representada. Sobretudo pelos estudos, esboços e pinturas de sua fase estudantil, que remetem ao suprematismo do russo Malevitch. Influência declarada na trajetória da arquiteta, segundo ela, definitiva para demarcar e sedimentar seu estilo. Abrindo mão de uma abordagem cronológica, a exposição parte de uma seleção de seus projetos mais recentes e concluídos: entre eles, o Centro Rosenthal de Arte Contemporânea, em Cincinnati, EUA; o Centro Científico Phaeno, em Wolfsburg, e a sede da BMW em Leipzig, ambas na Alemanha. Referencial na carreira de Zaha, o ano de 2004 é apresentado como um divisor de águas: a arquiteta se torna a primeira mulher a receber o Prêmio Pritzker - o equivalente ao Nobel da arquitetura - pelo conjunto de sua obra. Uma distinção que a coloca na galeria de mestres como Frank Gehry, Renzo Piano e Oscar Niemeyer. Com virtuosismo comparável, sua gama de produtos destinados ao ambiente doméstico não pára de crescer, despertando curiosidade e admiração em centros como Milão e Londres. Cidades onde a arquiteta é, hoje, figura carimbada nos catálogos de empresas de primeiro time, como B&B Itália e Estabilished & Sons - com seus objetos de visual intrigante produzidos em tiragens limitadas, construídos com o mesmo rigor que ela imprime a seus projetos arquitetônicos. Admirada pela nova geração de arquitetos, suas conferências e aparições públicas são quase sempre motivo de excitação. Clientes, jornalistas e profissionais ficam fascinados pelas formas dinâmicas, angulosas e cheias de audácia que caracterizam sua obra. Um traço inconfundível, depurado em anos de estudos e competições internacionais. "Zaha não se sente incomodada em introduzir complexidade aos projetos", observou o crítico americano Herbert Muschamp. Admirador confesso, foi ele que arriscou uma tese original a respeito do ímpeto da arquiteta em subverter o espaço. "Suas construções são puro movimento, energia, desejo erótico. Ela não teme correr riscos", conclui.

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