Representações sobre o novo morar guiam a CasaCor São Paulo 2021

Com foco nos cuidado com a saúde - mental e física -, arquitetos e designers falam sobre encontrar a beleza em coisas simples

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Por Ana Lourenço
Atualização:
Ambiente de Nildo José valoriza a cerâmica brasileira Foto: MCA ESTÚDIO

A casa perfeita é aquela que é lar - independente do estilo, tamanho ou local. Para isso é preciso usá-la, senti-la e permitir que ali criem-se histórias. Ora, viver a casa foi o que mais fizemos nos últimos dois anos, em razão da pandemia. E justamente os aprendizados desse período, marcado pela busca por respostas e reconforto na natureza, no lar e na ancestralidade,foram o que inspiraram o tema da 34ª edição da Casacor São Paulo.

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Como o nome de Casa Original, o evento sai, após dez anos, do Jockey Club para a zona oeste da capital paulista e abre as portas para o público na próxima terça, 21. Os legados da pandemia - privilegiar as áreas abertas, plantas e texturas, e o uso da tecnologia em favor do ser humano - foram revisitados em cada um dos 58 ambientes espalhados pelos 9.000 m² do Parque Mirante, no Allianz Parque. 

"Começamos a olhar uma região na cidade que está pulsando, em termos de nova fronteira imobiliária. Ali tem a ver com a história de São Paulo. Temos a ferrovia, as torres da Casa das Caldeiras, símbolo remanescentes das Indústrias Matarazzo; você tem o Sesc Pompeia de Lina Bo Bardi - que justo foi laureado com Leão de Ouro em Veneza; você tem, bem ou mal, a primeira arena construída de maneira sustentável, que foi o Allianz Parque, um projeto do Edu Rocha. Então começamos a avaliar que seria um ambiente interessante para trazer uma Casacor”, explica Lívia Pedreira, diretora-superintendente do evento.

Quando surgiu, em 1987, a Casacor era um evento de 20 dias com apenas alguns profissionais da elite da decoração que ocupavam uma casa e faziam ambientações - uma atividade reservada para poucos. De lá para cá, tudo mudou. Hoje, o evento - de quase dois meses - conta com 15 franquias espalhadas pelo mundo, gera cerca de 50 mil empregos indiretos e, mais do que decoração, fala sobre a relação da casa com a cidade, das áreas comuns de convivência e expõe as várias maneiras de morar.

“No início, a Casacor era itinerante, como todas as franquias continuaram a ser, porque a gente entende isso como uma maneira de iluminarmos, jogar luz ou em alguma casa histórica ou algum bem que precisa ser olhado”, explica ela que, quando descobriu o rooftop do novo local decidiu: “É aqui”. A ideia é que o evento volte a ser itinerante pelos próximos cinco anos.

Para comunicar a mudança de endereço, o artista plástico Felipe Morozini criou a obra Eu Serei Outro Lugar na cobertura do Parque Mirante. E é ele também quem cria o primeiro espaço da mostra, ainda na calçada da Rua Padre Antônio Tomás, que se transforma em um túnel e permite a qualquer um imergir no mundo do artista. “Para mim a primeira grande coisa é que a pessoa vai sair do carro e entrar num túnel, escuro, totalmente apagado, onde só tem uma luz no final. Eu sempre imaginei materializar a sensação de esperança que a frase ‘luz no fim do túnel' traz. É esse sentimento de que nem tudo está perdido”, explica ele.

A instalação artística de mais de 20 metros de comprimento também será imersivano sentido de explorar o olfato, com cheiro de grama molhada; a audição, com som de pássaros; e o tato, com a bruma das florestas. “É uma provocação. Ao mesmo tempo que estou dando um abraço nesse túnel, coloco as pessoas a terem uma experiência com os grandes arquitetos da história da humanidade: abelhas, bicho-da-seda, cupim, joão-de-barro, bowerbirds. Será que essa luz do fim do túnel não é olhar para a simplicidade e complexidade das construções do reino animal?”, indaga. “Você reflete sobre o tempo não só com as tendências, mas com as emoções. O que eu estou fazendo, por exemplo, é falar do agora. E agora meu maior desejo é que todos tenham a emoção da luz do fim do túnel”, diz.

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Fato é que se não fosse a inspiração na arte, o respiro com a natureza dentro de casa e o afago dos entes queridos,o isolamento seria ainda mais difícil na pandemia. E o tema Casa Original permite justamente essa leitura, um certo retorno às raízes. Enquanto Felipe traz a casa ancestral da natureza, Paco mostra a influência latina e dos povos originários e Gabriela explora nossas raízes africanas. "O espaço foi todo construído e pensado por mim conceitualmente, a partir de referências que eu me identifico sobre a arquitetura afro-brasileira e ameríndia. A questão da materialidade, dos materiais sustentáveis, da ligação com a natureza. Todas minhas escolhas tiveram esse recorte”, conta Gabriela. 

Esses ambientes têm visitação gratuita, ou seja: só depois dessa imersão histórica e artística é que o visitante deve apresentar o ingresso ou adquiri-lo para subir ao sexto e sétimo andares do complexo. A iniciativa faz parte do desejo da superintendente de democratizar o evento e, assim, conquistar e atrair novos clientes. O mesmo pensamento também guiou o projeto Janelas, no ano passado, que espalhou vitrines por todo o País, dentro de contêineres, com ambientes inspirados na era pós-pandemia.

Barro, madeira, pedra e cerâmica ganham destaque

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O outro lado da "origem" vem dos materiais. Barro, madeira, pedra, cerâmica. Elementos que trazem a noção do simples e do rústico. O arquiteto Nildo José, por exemplo, foca nas antigas olarias do País e na importância do trabalho artesanal na arquitetura brasileira. O revestimento em madeira do teto tem formas semelhantes aos telhados das olarias tradicionais, enquanto o piso de cerâmica valoriza a beleza do imperfeito. Em mais de 200 m² de moradia não há paredes, mas sim obstáculos que representam o encerramento de um ambiente para o começo de outro. Abolidas as fronteiras entre os interiores, é possível pensar em funções fluídas.

“Eu acho que isso já é um reflexo da pandemia. E é um tema que deve ter muito a ver com o tema do ano que vem, que é essa casa dividida não em termos de ambientes, mas em termos de verbos: comer, trabalhar, estudar, se divertir, dormir. Você explode a configuração convencional”, reflete Lívia. Outro reflexo são móveis ou espaços para eventuais descontaminações - desde um Récamier ou lounge chair para apoiar casacos e roupas usadas até uma mesa de apoio para máscaras, chaves e bolsas.

Kika Tiengo cria um hall todo preparado para a descontaminação do morador Foto: Renato Navarro

Ambos estão presentes, por exemplo, no ambiente da arquiteta Kika Tiengo que assina o Hall Abluo. Já no primeiro ambiente do último pavimento, assinado pelo arquiteto Arthur Guimarães, a mesa de centro traz um espaço para sal grosso, pensando na descontaminação das energias. 

É interessante notar que as características citadas - além de trazidas pela Casacor foram eleitas tendências durante a pandemia -, têm base na filosofia japonesa. O minimalismo pensado, ou seja, mobiliários e peças que tenham significado para o morador; a energia dos espaços; a importância da contemplação e da natureza dentro de casa; a fluidez; e a valorização do manual são alguns dos exemplos. Um dos termos que acho que resume bem essa tendência do morar é o Wabi Sabi, que fala sobre encontrar a beleza na simplicidade, como um colo de mãe - expressão usada pela própria Lívia para sintetizar a Casa Original. 

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Pandemia, sustentabilidade e acesso para vacinados

“O tema foi escolhido porque a gente entendia que era o momento de fazer essa reflexão sobre voltar às origens. Então de que maneira a gente pode fazer esse resgate da nossa identidade cultural para compor um ambiente que seja reconfortante, que nos ajude a acalmar?”, explica. A partir daí as interpretações foram livres e diversas, mas sempre com um traço que as conecta. Além disso, o evento instituiu uma política de sustentabilidade para o evento, com certificação de carbono e lixo zero, além de certificação HBC e proibição de construções com alvenaria para reduzir o entulho de obra.

Outra preocupação se refere à pandemia. Por isso, pela primeira vez, o evento terá visita programada e com duração máxima de 2h30. Na compra do ingresso é necessário escolher o horário de preferência, disponível de 30 a 30 minutos, com lotação de 150 pessoas por horário. Para acessar a edição, o visitante também deve apresentar a comprovação de vacinação com pelo menos uma dose e respeitar o uso obrigatório de máscara durante todo o percurso, exceto nos bares e restaurantes.

Haverá medição de temperatura na entrada do evento e o circuito de visitação oferecerá diversos pontos de higienização, seja com álcool em gel, com pias montadas em pontos estratégicos  ou nos quatro banheiros funcionais, totalmente equipados.

Com madeira em destaque, ambiente de Érica Salguero, reflete puro aconchego Foto: Renato Navarro

CasaCor 34ª edição - A Casa Original

De 21 de setembro a 15 de novembro

Funcionamento de terça a domingo, das 12h às 22h

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Ingresso: R$ 80 (inteira), de terça a quinta; R$ 100 nos fins de semana e feriados

Rua Padre Antônio Tomás, 72

www.casacor.byinti.com

 

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