A casa perfeita é aquela que é lar - independente do estilo, tamanho ou local. Para isso é preciso usá-la, senti-la e permitir que ali criem-se histórias. Ora, viver a casa foi o que mais fizemos nos últimos dois anos, em razão da pandemia. E justamente os aprendizados desse período, marcado pela busca por respostas e reconforto na natureza, no lar e na ancestralidade,foram o que inspiraram o tema da 34ª edição da Casacor São Paulo.
Como o nome de Casa Original, o evento sai, após dez anos, do Jockey Club para a zona oeste da capital paulista e abre as portas para o público na próxima terça, 21. Os legados da pandemia - privilegiar as áreas abertas, plantas e texturas, e o uso da tecnologia em favor do ser humano - foram revisitados em cada um dos 58 ambientes espalhados pelos 9.000 m² do Parque Mirante, no Allianz Parque.
"Começamos a olhar uma região na cidade que está pulsando, em termos de nova fronteira imobiliária. Ali tem a ver com a história de São Paulo. Temos a ferrovia, as torres da Casa das Caldeiras, símbolo remanescentes das Indústrias Matarazzo; você tem o Sesc Pompeia de Lina Bo Bardi - que justo foi laureado com Leão de Ouro em Veneza; você tem, bem ou mal, a primeira arena construída de maneira sustentável, que foi o Allianz Parque, um projeto do Edu Rocha. Então começamos a avaliar que seria um ambiente interessante para trazer uma Casacor”, explica Lívia Pedreira, diretora-superintendente do evento.
Quando surgiu, em 1987, a Casacor era um evento de 20 dias com apenas alguns profissionais da elite da decoração que ocupavam uma casa e faziam ambientações - uma atividade reservada para poucos. De lá para cá, tudo mudou. Hoje, o evento - de quase dois meses - conta com 15 franquias espalhadas pelo mundo, gera cerca de 50 mil empregos indiretos e, mais do que decoração, fala sobre a relação da casa com a cidade, das áreas comuns de convivência e expõe as várias maneiras de morar.
“No início, a Casacor era itinerante, como todas as franquias continuaram a ser, porque a gente entende isso como uma maneira de iluminarmos, jogar luz ou em alguma casa histórica ou algum bem que precisa ser olhado”, explica ela que, quando descobriu o rooftop do novo local decidiu: “É aqui”. A ideia é que o evento volte a ser itinerante pelos próximos cinco anos.
Para comunicar a mudança de endereço, o artista plástico Felipe Morozini criou a obra Eu Serei Outro Lugar na cobertura do Parque Mirante. E é ele também quem cria o primeiro espaço da mostra, ainda na calçada da Rua Padre Antônio Tomás, que se transforma em um túnel e permite a qualquer um imergir no mundo do artista. “Para mim a primeira grande coisa é que a pessoa vai sair do carro e entrar num túnel, escuro, totalmente apagado, onde só tem uma luz no final. Eu sempre imaginei materializar a sensação de esperança que a frase ‘luz no fim do túnel' traz. É esse sentimento de que nem tudo está perdido”, explica ele.
A instalação artística de mais de 20 metros de comprimento também será imersivano sentido de explorar o olfato, com cheiro de grama molhada; a audição, com som de pássaros; e o tato, com a bruma das florestas. “É uma provocação. Ao mesmo tempo que estou dando um abraço nesse túnel, coloco as pessoas a terem uma experiência com os grandes arquitetos da história da humanidade: abelhas, bicho-da-seda, cupim, joão-de-barro, bowerbirds. Será que essa luz do fim do túnel não é olhar para a simplicidade e complexidade das construções do reino animal?”, indaga. “Você reflete sobre o tempo não só com as tendências, mas com as emoções. O que eu estou fazendo, por exemplo, é falar do agora. E agora meu maior desejo é que todos tenham a emoção da luz do fim do túnel”, diz.
Fato é que se não fosse a inspiração na arte, o respiro com a natureza dentro de casa e o afago dos entes queridos,o isolamento seria ainda mais difícil na pandemia. E o tema Casa Original permite justamente essa leitura, um certo retorno às raízes. Enquanto Felipe traz a casa ancestral da natureza, Paco mostra a influência latina e dos povos originários e Gabriela explora nossas raízes africanas. "O espaço foi todo construído e pensado por mim conceitualmente, a partir de referências que eu me identifico sobre a arquitetura afro-brasileira e ameríndia. A questão da materialidade, dos materiais sustentáveis, da ligação com a natureza. Todas minhas escolhas tiveram esse recorte”, conta Gabriela.
Esses ambientes têm visitação gratuita, ou seja: só depois dessa imersão histórica e artística é que o visitante deve apresentar o ingresso ou adquiri-lo para subir ao sexto e sétimo andares do complexo. A iniciativa faz parte do desejo da superintendente de democratizar o evento e, assim, conquistar e atrair novos clientes. O mesmo pensamento também guiou o projeto Janelas, no ano passado, que espalhou vitrines por todo o País, dentro de contêineres, com ambientes inspirados na era pós-pandemia.
Barro, madeira, pedra e cerâmica ganham destaque
O outro lado da "origem" vem dos materiais. Barro, madeira, pedra, cerâmica. Elementos que trazem a noção do simples e do rústico. O arquiteto Nildo José, por exemplo, foca nas antigas olarias do País e na importância do trabalho artesanal na arquitetura brasileira. O revestimento em madeira do teto tem formas semelhantes aos telhados das olarias tradicionais, enquanto o piso de cerâmica valoriza a beleza do imperfeito. Em mais de 200 m² de moradia não há paredes, mas sim obstáculos que representam o encerramento de um ambiente para o começo de outro. Abolidas as fronteiras entre os interiores, é possível pensar em funções fluídas.
“Eu acho que isso já é um reflexo da pandemia. E é um tema que deve ter muito a ver com o tema do ano que vem, que é essa casa dividida não em termos de ambientes, mas em termos de verbos: comer, trabalhar, estudar, se divertir, dormir. Você explode a configuração convencional”, reflete Lívia. Outro reflexo são móveis ou espaços para eventuais descontaminações - desde um Récamier ou lounge chair para apoiar casacos e roupas usadas até uma mesa de apoio para máscaras, chaves e bolsas.
Ambos estão presentes, por exemplo, no ambiente da arquiteta Kika Tiengo que assina o Hall Abluo. Já no primeiro ambiente do último pavimento, assinado pelo arquiteto Arthur Guimarães, a mesa de centro traz um espaço para sal grosso, pensando na descontaminação das energias.
É interessante notar que as características citadas - além de trazidas pela Casacor foram eleitas tendências durante a pandemia -, têm base na filosofia japonesa. O minimalismo pensado, ou seja, mobiliários e peças que tenham significado para o morador; a energia dos espaços; a importância da contemplação e da natureza dentro de casa; a fluidez; e a valorização do manual são alguns dos exemplos. Um dos termos que acho que resume bem essa tendência do morar é o Wabi Sabi, que fala sobre encontrar a beleza na simplicidade, como um colo de mãe - expressão usada pela própria Lívia para sintetizar a Casa Original.
Pandemia, sustentabilidade e acesso para vacinados
“O tema foi escolhido porque a gente entendia que era o momento de fazer essa reflexão sobre voltar às origens. Então de que maneira a gente pode fazer esse resgate da nossa identidade cultural para compor um ambiente que seja reconfortante, que nos ajude a acalmar?”, explica. A partir daí as interpretações foram livres e diversas, mas sempre com um traço que as conecta. Além disso, o evento instituiu uma política de sustentabilidade para o evento, com certificação de carbono e lixo zero, além de certificação HBC e proibição de construções com alvenaria para reduzir o entulho de obra.
Outra preocupação se refere à pandemia. Por isso, pela primeira vez, o evento terá visita programada e com duração máxima de 2h30. Na compra do ingresso é necessário escolher o horário de preferência, disponível de 30 a 30 minutos, com lotação de 150 pessoas por horário. Para acessar a edição, o visitante também deve apresentar a comprovação de vacinação com pelo menos uma dose e respeitar o uso obrigatório de máscara durante todo o percurso, exceto nos bares e restaurantes.
Haverá medição de temperatura na entrada do evento e o circuito de visitação oferecerá diversos pontos de higienização, seja com álcool em gel, com pias montadas em pontos estratégicos ou nos quatro banheiros funcionais, totalmente equipados.
CasaCor 34ª edição - A Casa Original
De 21 de setembro a 15 de novembro
Funcionamento de terça a domingo, das 12h às 22h
Ingresso: R$ 80 (inteira), de terça a quinta; R$ 100 nos fins de semana e feriados
Rua Padre Antônio Tomás, 72