Luminosidade e frescor – duas características raramente associadas aos interiores de um antiquário – reinam soberanos nos dois endereços do antiquário e restaurador carioca Arnaldo Danemberg: o tradicional, na Avenida Atlântica, no Rio, e o atual, em São Paulo, recém-aberto na Rua da Consolação. “Trabalho com móveis europeus dos séculos 17 a 19, sobretudo de procedência campesina, sempre de madeira clara, em tom de mel, que adoro”, relata ele, que nos últimos 30 anos tem se encarregado de garimpar seu acervo in loco, em países como França, Bélgica, Inglaterra, Espanha e Portugal. Além de coordenar dois depósitos em Bordeaux e um centro de restauração no Rio. “No móvel campesino existe um requinte singelo que não pesa na decoração. Daí, por certo, toda essa sensação de leveza”, como explicou Danemberg nesta entrevista ao Casa.
O que é e (o que não) é permitido em uma restauração para preservar a integridade de um móvel?
A restauração é um processo que exige respeito. Jamais devemos tirar a originalidade de uma peça. Um puxador pode ser substituído, pois é muito comum perdê-lo. Uma gaveta, por vezes, tem sua madeira interna danificada e pode ser reparada. Espelhos de fechadura também. Mas tudo tem um limite. O registro do tempo deve ser sempre preservado e é aí que entra a expertise de cada restaurador.
O que atrai o seu olhar em suas andanças pelo mundo à caça de novidades para seu acervo? Fundamentalmente, a curiosidade e o sonho. Meu objetivo é sempre encontrar um móvel que ainda não comprei. Me interessa o que ainda está por vir. Acho que minha formação como pesquisador e professor me impulsiona nesse sentido. Por isso, acho que me sinto tão atraído por objetos de uso cotidiano, como caixas e bancadas de trabalho, por testemunhos de ofícios – peças no passado utilizadas, por exemplo, nas oficinas de ourives – e também por peças provenientes de instituições como conventos, colégios, fazendas, bibliotecas, farmácias.
Qual a peça mais inusitada que já comercializou e de que forma ela acabou sendo empregada? A mais inusitada até agora foi uma farmácia portuguesa neogótica, do século 19, que, em novembro passado, se transformou na base da decoração da sala de bolo do casamento de minha filha, Paloma. Foi mais um sonho realizado. Nunca havia visto, nem feito, nada igual.
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