Questão de estilo

O isolamento nos colocou frente a nossas necessidades, exigindo respostas rápidas, mas promovendo interessantes descobertas

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Por Marcelo Lima
Atualização:
O hall do Morgans Hotel em Nova York, projeto Andrée Putman Foto: Morgans Group

Como bem sabemos, nada será como antes após meses em quarentena. E o desenho de nossas casas não foge à regra. O isolamento forçado nos colocou frente a frente com nossas reais necessidades, muitas delas há tempos adiadas, exigindo respostas rápidas, mas promovendo, ao mesmo tempo, interessantes descobertas.  Para muitos, adaptar a casa ao trabalho doméstico, à recreação infantil e à prática de esportes se tornaram imperativos. Mas, durante o processo, acabamos por nos deparar com uma mesa de centro pequena demais, com um quadro em uma posição desarmônica, com o desejo (secreto) de finalmente montar um bar no canto da sala. Expectativas particulares e subjetivas, mas igualmente válidas quando o assunto é decoração.  Afinal, se aprimorar as condições de conforto é essencial para um morar satisfatório, o componente estético não fica atrás. Ninguém ignora o bem-estar provocado pela simples visita a uma bela casa, organizada de forma harmônica e em sintonia com a personalidade de seu morador. A novidade é que começamos a perceber que, ao contrário do que muitos acreditam, isso tem mais a ver com autenticidade do que com recursos financeiros. “É claro que estilo e dinheiro não têm nada a ver um com o outro. Um bom design é puro e simples”, reagia, com indignação, a grande dama do design francês, Andrée Putman – personagem de gosto tão inquestionável quanto o de Coco Chanel na moda –, sempre que questionada sobre o assunto. Para ela, autora, entre outros, dos interiores do Hotel Morgans, em Nova York, e do supersônico Concorde, “a menos que possua a percepção que coisas modestas podem ser tão bonitas quanto coisas caras, ninguém terá estilo”. Militante da democratização do design e ex-jornalista de decoração, Andrée acreditava no papel da informação no desenvolvimento do gosto pessoal e, ao longo de minha carreira, tem sido uma referência permanente. Como Putman, considero importante apresentar a todos, indistintamente, experiências bem-sucedidas na área do morar. Projetos dignos de nota, não por estar na “moda” ou por servir de cenário para a vida de um ilustre morador, mas por produzir encanto e inspirar. Por utilizar recursos de maneira racional e honesta, sem artifícios e excessos.  Como ocorre nas salas que ilustram esta página, produzidas por quatro talentosos profissionais, tendo como base um mesmo conjunto de móveis. Uma quase provocação para você arregaçar as mangas e, pouco a pouco, ir construindo o seu estilo de decorar. Especialmente em dias como os nossos, quando a beleza se faz tão necessária.

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