Quando o jardim desenha a casa

Construção em East Hampton só começou depois que o paisagismo, com lago e pontes, ficou pronto

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Por CHRISTOPHER MASON
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    Há 12 anos, quando Christopher H. Browne comprou uma propriedade de 7,2 hectares de frente para o mar, em Further Lane, East Hampton, achou que sabia o que queria fazer com ela. Apaixonado por jardinagem, planejava derrubar a construção pré-existente, dos anos 50, e construir uma casa de campo inglesa no centro do terreno, rodeada por um formal jardim inglês, apenas remotamente conectado ao mar. Mas, principalmente graças a um arranjo feito com a proprietária anterior, pelo qual ela poderia ficar na casa mais algum tempo, Browne passou a focar suas energias no jardim. Como resultado, a casa, cuja construção começou no ano passado - uma caixa de vidro projetada com Andrew Gordon, um arquiteto modernista e seu companheiro há oito anos -, foi formatada em função do jardim. Um pouco por acaso, Browne, diretor administrativo da Tweedy, Browne Company, uma companhia de investimentos de Nova York, tropeçou numa proposta de construção que vem sendo defendida há décadas por importantes arquitetos paisagistas de alto a baixo da Costa Leste: deve-se passar algum tempo com o terreno que rodeia uma casa antes de construí-la. Embora Browne e Gordon tenham feito exatamente isso, em parte por necessidade, ambos passaram a apreciar a ideia. "Uma porção de gente não percebe isso. Muitos viviam nos perguntando por que não começávamos a construir", diz Gordon, de 46 anos. "Não há nada pior que pessoas derrubando árvores e erguendo uma casa com um punhado de plantas em volta e considerando tudo pronto", afirma. "Procuramos transformar a casa em parte da paisagem." Browne, que cresceu fazendo jardinagem em New Jersey - "minha mãe era uma jardineira ávida e fez todos os seus filhos ajudá-la" -, já tinha alguma experiência com esse tipo de proposta. Comprou sua última propriedade em East Hampton, em Middle Lane, em 1990, e passou seis anos criando o jardim, enquanto permanecia numa casa a 1,5 quilômetro de distância. "Na época em que construí a casa de Middle Lane, ela estava assentada em uma paisagem amadurecida." Em 1997 ele comprou a propriedade de frente para o mar por US$ 13 milhões, dois anos antes de conhecer Gordon por meio de amigos comuns. Em poucos meses, os dois já conversavam constantemente sobre como seu projeto deveria ser. Browne discutia com Gordon a ideia de cultivar um jardim íntimo junto à casa, deixando o resto do terreno parecer um parque. "E foi isso que acabamos fazendo", diz Gordon. Outras possibilidades igualmente românticas, como criar galinhas em liberdade no terreno para garantir ovos frescos, foram abandonadas. "Descobrimos que as raposas podem nadar", explica Gordon. Sensação romântica Eles perceberam que queriam uma casa conectada com o mar e com o jardim, ao norte, e decidiram abandonar os planos de construir no centro do terreno. Em vez disso, a nova casa foi erguida no exato lugar da velha, mas com mais terra sobreposta para criar uma ligeira elevação no terreno. E, desde o início, concordaram que queriam um lago com lírios d?água, um prado com flores silvestres e um pomar com centenas de espécies. "Árvores interessantes dão uma sensação romântica de história", diz Gordon, "e a água enfatiza mudanças e reflete a luz mais profundamente do que qualquer outra coisa." Para adornar o lago, que foi escavado em 2002, Gordon projetou um par de pequenas pontes arcadas, de madeira, ligando uma ilha no meio do lago. Durante seus frequentes passeios ao redor do jardim, nos meses que se seguiram, os dois ficavam fascinados pelo jogo faiscante da luz sob a ponte. Esperando recriar esse efeito dentro de casa, Gordon projetou três espelhos d?água retangulares estendendo-se perpendicularmente à casa e adjacentes às paredes de vidro do living. Nos tanques, lírios d?água azuis e roxos, ecoando os do lago em frente. "A ideia é levar essa sensação de água e luz para a residência, com um suave movimento que bruxuleia pela casa quando a luz atravessa o teto", explica Gordon. Isso acontecerá também à noite, com os espelhos iluminados. "A combinação do vento e do movimento da água mantêm seus olhos entretidos." A casa térrea, de 830 m², tem quatro quartos e duas suítes de hóspedes. É ligeiramente menor que a estrutura anterior e não chega a ser grande "para os padrões de East Hampton", afirma Browne ("não precisamos de oito quartos e de 12 banheiros como algumas pessoas daqui"). O exterior do imóvel tem grandes painéis de vidro entre os planos inclinados do chão e do teto em estuque escuro, feito para se mimetizar com a natureza.

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