Prova de amor pelo Brasil

Empresários americanos resgatam o trabalho dos mais famosos designers nacionais do século 20

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Por Marcelo Lima
Atualização:

Se for a Nova York, não se surpreenda se, ao passar pelo número 82 da Franklin Street, se deparar com algo familiar. Sim. Muito provavelmente você está diante de um Oscar Niemeyer, de um Sergio Rodrigues ou de um autêntico Joaquim Tenreiro ao observar a vitrine de um dos atuais templos do design em Manhattan: a R 20th Century, endereço obrigatório para os aficionados na produção internacional que vai da segunda metade do século 20 até hoje.

 

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Fundada em 1997, por Zesty Meyers e Evan Snyderman, com o objetivo de veicular o acervo do período, a galeria já se tornou ponto de referência para a comunidade local. "Nunca pensamos em apenas comercializar os móveis, mas também em preservar a história por meio de arquivos, biblioteca e exposições", diz Meyers, que em 2004 organizou a primeira retrospectiva do designer brasileiro Sergio Rodrigues em terras americanas.

 

"Desde então nos transformamos em uma espécie de embaixadores informais do design brasileiro. Não só por aqui, mas também na Europa e na Ásia", revela ele, satisfeito com comentários elogiosos que ainda diz receber por causa da exposição e também por, de alguma forma, ter ajudado a restabelecer o prestígio de Rodrigues no cenário internacional.

 

"Sergio Rodrigues é sinônimo de móvel moderno brasileiro", argumenta o empresário, para quem o fato de o profissional carioca ter desenvolvido produtos continuamente por mais de 50 anos é apenas uma comprovação de sua importância no mundo do design. Opinião compartilhada por Snyderman, com quem Meyers, além do negócio, divide o prazer de viajar mundo afora à caça de preciosidades. E também de novos talentos.

 

"No início da década passada, estávamos à procura de exemplares de mobiliário do século 20 que ainda não tivessem tido ampla exposição nos mercados americano e europeu. Foi quando, em nossa primeira viagem ao Brasil, tomamos contato com os móveis desenhados por Oscar Niemeyer, do qual tínhamos como referência apenas a arquitetura. Para nós, foi uma revelação. Sem Niemeyer, o resto não existiria", considera Snyderman.

 

Porta de entrada no universo do móvel moderno brasileiro, os trabalhos de Niemeyer incentivaram a dupla a tomar contato com a obra de outros designers do período, como Sergio Rodrigues, Joaquim Tenreiro e Zanine Caldas. "Desde o início, fiquei impressionado com a sensualidade das peças. Mas, mais ainda, pelo fato de que, passadas quatro décadas, elas permaneciam ainda desconhecidas no resto do mundo", conta Meyers.

 

 

Modernismo

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Fascinado pela produção brasileira do período – sobretudo pela maneira carinhosa, a partir da qual, segundo ele, a madeira aparece tratada nas criações –, Meyers desde então vem empreendendo ao menos duas viagens anuais ao Brasil, nas quais, além de expandir seu acervo, tem se dedicado a ampliar seus conhecimentos. "Esses designers recontextualizaram o modernismo em seus móveis. Fizeram o modernismo falar o idioma do país."

 

Sempre disposto a dissertar sobre os mestres que tanto admira, ele demonstra ter opiniões bem formadas sobre o papel de cada um dos artistas. De Tenreiro, para ele, o pai do design moderno brasileiro, o americano destaca a montagem das peças, que, no seu entender, evoca uma coexistência refinada entre os valores tradicionais e a estética moderna. Sobre Zanine Caldas se diz encantado por sua abordagem menos intelectualizada do móvel.

 

Também legítimos herdeiros da tradição artesanal brasileira no trato da madeira, Hugo França e Julia Krantz são, segundo o empresário, duas das referências brasileiras nos domínios do móvel contemporâneo. Sem esquecer, claro, da dupla Fernando e Humberto Campana. "O sucesso deles contribuiu muito para recolocar o design brasileiro em posição de destaque", afirma Meyers.

 

Sobre os planos futuros de intercâmbio com o país que tanto admiram, ele aponta a realização de algumas exposições conjuntas entre designers, além do incremento das pesquisas in loco. "A cada viagem, nos conectamos a novas pessoas e aprendemos ainda mais sobre os designers brasileiros. Nos sentimos felizes em dar a eles o reconhecimento que merecem também fora de seu país. É uma forma de preservar seu legado", acredita.

marcelo.lima.antena@estadao.com.br

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