Por uma arquitetura flexível
A arquiteta, urbanista e designer brasileira Elizabeth de Portzamparc, radicada na França, comenta sua carreira e obras

Fachada do edifício com inauguração prevista para o próximo dia 2 de junho. Foto: Serge Urvoy
Como arquiteta, o que a levou a ter uma atuação global tão destacada?
Em 1969 fui para Paris, e lá estudei economia e me especializei em sociologia urbana. Trabalhando em um ateliê de planejamento urbano da prefeitura, propus um passeio público entre Montparnasse e Massy, que existe até hoje. Curiosamente, em 2011, ganhei um concurso para construir um bairro, também em Massy. Nos anos 1980, quis me dedicar mais à minha família e voltei minha carreira para a arquitetura de interiores e o design, tendo criado de móveis a luminárias. Em 1998, finalmente, voltei ao urbanismo, desenhando estações e mobiliário urbano em Bordeaux e passando a participar de vários concursos internacionais. Na minha equipe, além dos arquitetos, eu tenho um núcleo multidisciplinar de estudos, que trata de sustentabilidade, antropologia, sociologia, urbanismo, história e ecologia. Creio que esta abordagem foi essencial para que eu pudesse vencer importantes concursos internacionais a partir de 2000, que acabaram por projetar meu nome globalmente.
Após ter trabalhado em tantos e diferentes países, existem questões que considera comuns a todos eles no atual momento histórico?
Creio que os grandes pontos comuns do mundo podem ser resumidos em um termo único: conexões. Meios de transportes públicos, mobilidade urbana e proximidade física são questões cruciais, pois a carência destes elementos leva ao isolamento e, no entanto, sabemos que as relações sociais são essenciais. Elas produzem a inteligência coletiva necessária para enfrentarmos nossas grandes crises, sejam elas econômicas, climáticas ou socioambientais.
A senhora já afirmou que a flexibilidade é uma questão fundamental para os arquitetos e urbanistas frente aos desafios do futuro. Explique como trabalha este conceito em seu trabalho.
Hoje não é possível pensarmos cidades, bairros ou qualquer empreendimento urbano sem considerar uma série de conceitos éticos, como o desenvolvimento sustentável, as conexões sociais, o respeito ao contexto local e a possibilidades de intervenções posteriores. Há 40 anos vivemos a cultura do presente, que, no meu entender, é oposto da essência da arquitetura. Precisamos retomar o tema da reversibilidade, assim como os fundamentos da boa arquitetura: seu uso e sua adequação aos contextos edificado, paisagístico e climático. Por isso, qualquer que seja a inserção feita, ela deve contemplar o futuro. Assim como as construções precisam abrigar, desde seu início, possíveis invenções que possam ocorrer no futuro.

A arquiteta Elizabeth de Portzamparc, vencedora do concurso internacional promovido pela prefeitura de Nîmes, em 2012 Foto: Steve Murex