Para que complicar?

Atingir o simples - sem ser simplista - é o objetivo perseguido pelo designer francês Ito Morabito

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Por Marcelo Lima
Atualização:
O designer francêsIto Morabito, responsável pelo estúdio Ora-Ito Foto: divulgação

Simplexity, para o designer francês Ito Morabito, é a arte de tornar simples coisas muitas vezes complicadas. Combinando duas palavras em inglês – simples e complexo –, consiste, basicamente, em perseguir o essencial até as últimas consequências, mas nunca de forma simplista. “O que, nem de longe, pode ser considerado algo fácil”, adverte.

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Filho de um joalheiro francês, Pascal Morabito, desde muito cedo ele teve a oportunidade de conviver com artistas, designers e arquitetos. “Nunca me interessei em saber quem estava conhecendo. Mas, sim, pelo estilo de cada um deles. A fôrma sempre me interessou mais que o bolo”, brinca o designer, que em 2000, ainda durante o curso de desenho industrial, abriu seu estúdio próprio. “Ninguém precisa adicionar mais complexidade à vida. Muito pelo contrário. Cabe a mim, enquanto designer, oferecer aos usuários de meus produtos o menor índice de complicação possível”, afirma Morabito, que tem se notabilizado pelo aspecto depurado, atemporal de suas criações, voltadas, sobretudo, para a produção em larga escala. 

Objetos que, avessos a excessos de toda ordem, mas igualmente a qualquer código de conduta minimalista, se pretendem, antes de mais nada, universais. “Quanto mais fácil de usar for um objeto, mais intuitiva e natural será a relação com o seu usuário”, defende o designer, citando como exemplo um de seus mais recentes trabalhos, o castiçal Árvore, feito de metal prateado. Uma peça de leitura imediata, com nada menos que 1,20 m de altura e múltiplas ramificações, que expõe duas de suas mais recorrentes inspirações: a natureza e a arquitetura. Além de ser uma das poucas produzidas em tiragem limitada que leva a assinatura do designer. Numerada e assinada, a produção, a cargo da Christofle, não ultrapassou os 20 exemplares.

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“Ocorre, no entanto, que nem sempre os objetos mais simples são os mais fáceis de se realizar do ponto de vista industrial. Em alguns casos, chego a trabalhar por mais de um ano apenas para encontrar uma solução minimamente satisfatória”, comenta o designer a propósito de um de seus mais bem-sucedidos projetos, a luminária One Line, desenvolvida para a marca italiana Artemide. O artefato direcionável, lançado no Salão do Móvel de Milão de 2014, do ponto de vista formal se resume a uma canaleta contínua que abriga uma faixa de LEDs. “O que não fica aparente é a complexidade interna do objeto. Em outras palavras, tudo o que tem de ser feito para se atingir tal simplicidade”, afirma Morabito, que considera o trabalho referencial na sua carreira.

“Além de explicitar meu trabalho aos olhos da crítica internacional (à convite da curadora de arte Marie-Laure Jousset, no ano seguinte ele fez sua primeira mostra individual, no Centro Cultural Francês em Milão), a One Line me abriu as portas do mercado internacional”, conta o designer, que desde então tem colaborado com frequência para marcas de peso, como as italianas Zanotta, Guzzini e Frighetto, além das francesas Roche Bobois e Christofle.

Anagrama derivado de Morabito, Ora-Ito é a expressão que hoje dá nome a seu estúdio e à sua marca própria, lançada em 2013, com uma coleção de fones de ouvido, alto-falantes e proteções para smartphones e tablets. 

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Reconhecido dentro e fora de seu país, o designer, que vai proferir conferência em São Paulo no próximo dia 1º, durante a Expo Revestir, foi condecorado em 2011 com a medalha Chevalier des Arts et des Lettres, por Frédéric Mitterrand, ministro francês da Cultura e Comunicação, e, no ano passado, recebeu nada menos que três prêmios iF Design Award, um dos mais concorridos no cenário internacional, considerado o Oscar do Design.

Em menos de duas décadas de atuação, seu portfólio nas áreas de arquitetura, instalações e interiores também não deixa nada a desejar. Com mais de mil realizações, sobretudo na região parisiense, seu estúdio é um dos mais requisitados da França, tendo realizado, apenas para citar os projetos mais recentes, a discoteca The Cab, o Hotel Odyssey e o restaurante Nano.

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