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Projetada por Jean Prouvé, casa desmontável vira item de colecionador

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Por Redação
Atualização:

Nossa história tem início em 1939, quando, em meio aos preparativos para o esforço de guerra, o general Dumontier, chefe do 5.º exército de infantaria francês encomenda ao então metalúrgico Jean Prouvé um conjunto de 300 unidades habitacionais, com capacidade para abrigar de 4 a 12 soldados e que, essencialmente, pudessem ser montadas – e desmontadas – em tempo recorde.

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“Achamos que devemos destacar o preço atraente dessas pequenas casas que, após a guerra, podem atender a diversos tipos de uso. Elas são tão bem feitas que acredito que poderiam facilmente se transformar em acomodações permanentes”, salientou um modesto Prouvé no memorial de apresentação do projeto da 4X4.

Uma casa de campanha construída com base em um esqueleto metálico de aço curvo, uma técnica por ele posteriormente patenteada, que deveria ser preenchido com painéis de madeira, podendo ser, segundo seu criador, montada rapidamente, e sem maiores dificuldades, por dois homens.

Nascia, assim, um dos primeiros exemplares de casa pré-fabricada de que se tem notícia e, ao mesmo tempo, um edifício tecnicamente inovador e esteticamente atraente, que antecipava, em décadas, o conceito de modulação aplicado à construção civil.

Com o fim da guerra, a visão pragmática e a abordagem inovadora do designer vieram ao encontro das necessidades do governo francês que à época buscava soluções de habitação para os desabrigados do país, ensejando em Prouvé o desejo de perseverar em seus projetos.

Criada em 1944, a 6X6, outra de suas célebres casas desmontáveis, poderia ser erguida por três pessoas em apenas um dia. Já o modelo 8x8, seu projeto subsequente, que durante anos abrigou o ateliê do designer, foi construída inteiramente com chapas de aço dobradas, incluindo suas vigas.

Visionária sob todos os aspectos, a obra de Prouvé, aos olhos dos críticos de hoje, antecipou a ideia de uma arquitetura nômade que, à semelhança de um móvel, pudesse se movimentar livremente por diversos territórios

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“Para Prouvé, não havia diferença estrutural entre projetar um móvel ou um edifício. Autodidata, ele desenvolveu uma ‘filosofia de construção’, que se aplicava tanto aos móveis quanto à arquitetura”, afirma o galerista francês Patrick Seguin, proprietário da galeria de mesmo nome instalada no bairro da Bastilha, em Paris.

Apesar de contemporâneo da Bauhaus, o mobiliário produzido pelo designer dispensou estruturas de tubulação metálica. Nas suas mesas e cadeiras é a folha de metal, dobrada, comprimida ou soldada que é protagonista. Contando com a colaboração frequente de designers como Charlotte Perriand e Pierre Jeanneret, seus desenhos falam de uma dinâmica de trabalho que inclui um conhecimento aprofundado dos materiais, de um compromisso de colaboração permanente entre artistas e artesãos e de um olhar atento à evolução técnica.

Especializada em difundir a obra dos grandes nomes do design francês do século 20, a galeria de Seguin é célebre também por possuir a maior coleção de casas desmontáveis produzidas por Prouvé ao longo de sua carreira – em um total de 20 –, hoje consideradas itens de colecionador, a ponto de atingirem altas cotações em leilões internacionais.

No caso da 4X4 apresentada em Miami, trata-se do último exemplar remanescente do lote encomendado pelo Exército francês – que acabou arrematada por um colecionador europeu, em Miami, pela bagatela de US$ 2 milhões. Mais especificamente, de um modelo proveniente de uma indústria de Nancy, que logo após a guerra passou a ser utilizada como uma espécie de guarita.

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Até ser adquirida por Seguin para integrar o acervo de sua galeria. “A fábrica foi demolida em 1980, mas, felizmente, a cabana do vigilante sobreviveu”, conta Seguin que acaba de apresentar o projeto, in loco, e mobiliada com móveis também desenhados por Prouvé, apresentada na última edição do Design Miami, encerrada no domingo passado.

“Prouvé foi capaz de transferir a tecnologia de fabricação industrial para a arquitetura, sem perder de vista o fator estético”, afirma o galerista, para quem a obra do francês escapa a definições. “Suas habilidades não se limitaram a uma só disciplina. Durante sua carreira, ele esteve envolvido tanto em projetos arquitetônicos quanto de desenho industrial. Diria que, antes de mais nada, ele era um construtor. No exato sentido do termo”, sintetiza Seguin.

Marcelo Lima

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