Onde o dia demora a passar

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Por Redação
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A primeira razão que leva Maria Adelaide Amaral a atravessar São Paulo rumo à zona norte é a saudade do filho, da nora e da neta. Mas existem outras duas situações que a obrigam a se refugiar na serra: quando precisa se concentrar no trabalho ou quando programa reunir amigos, geralmente para almoços aos sábados. Ultimamente, ela tem ido mais por causa da quantidade de trabalho. Está escrevendo a microssérie

Dalva e Herivelto

, que vai ao ar na primeira semana de janeiro, na Globo; o roteiro do filme baseado na peça Acorda Brasil, do empresário Antonio Ermírio de Moraes, sobre a orquestra dos meninos da favela Heliópolis; e a sinopse de uma novela das 7, para o ano que vem, um remake que mistura duas novelas de Cassiano Gabus Mendes –

Plumas e Paetês

e

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Ti-Ti-Ti.

 

"Nos últimos meses, tenho ido para a serra mais para trabalhar. Lá, sinto que os dias demoram mais a passar. Como o telefone toca menos, minha tranquilidade é total. Tudo rende mais e melhor", afirma. Maria Adelaide costuma escrever no escritório e ler no terraço, muitas vezes à beira da piscina, e geralmente na cama, antes de dormir. Pela manhã, faz caminhadas e nada. "Os fins de tarde são fantásticos, com aquele sol se pondo lentamente. As árvores, boa parte plantada por mim, cresceram, mas não me tiraram a vista. À noite, vejo as luzes das cidades próximas: Caieiras, Várzea Paulista, e outras mais distantes. O horizonte me inspira."

 

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No caminho da Cantareira também está a perspectiva de passar mais tempo ao lado de animais, outra paixão da dramaturga. "Em São Paulo, tenho dois gatos. Na serra, uma cachorra vira-lata, que veio substituir outra queridíssima que morreu. O golden retriever do meu filho é infernal com as plantas e, por isso, minha amiga Graziella Marraccini, que é paisagista, passou a cuidar do jardim quando o meu tempo e a minha competência se expiraram. O jardim ganhou muito com isso e o terraço de cima também foi ideia dela. Tudo isso porque eu queria uma trepadeira de glicínias como as de minha infância em Portugal", conta Adelaide.

 

Boa parte dos quadros, os cartazes de filmes e a série de Tarsila Amaral foram presente do amigo Marco Antonio Guerra, professor de História da Arte e Cinema. Outros amigos contribuíram com vários objetos para a casa, inclusive o relógio da cozinha, que ela adora. "Desde menina gosto de cozinhar", confessa. "Meu forte são peixes e frutos do mar, principalmente lulas e polvo. Mas também faço cabrito, bacalhau, vitela e um bom molho de macarrão que aprendi com as italianas da Rua Coronel Bento Pires, na Mooca, onde vivi dos 12 aos 19 anos. Os meus almoços na Cantareira são muito parecidos com os daquela época: fartos e informais. E, como na Mooca, ninguém aparece de mãos vazias. Um traz o vinho, outro a sobremesa – porque o forte em minha casa nunca são os doces, mas os salgados."

 

Desde 1996, Maria Adelaide passa o réveillon na serra. No último, ela, Rodrigo e Carina receberam 25 pessoas. "Comemos cabrito, vitela e a lentilha que faço à moda italiana. Nos divertimos sem frescura. Requintadas são as nossas escolhas: dos livros, dos filmes, e sobretudo dos amigos – a maior parte deles de longa data. Gente que conheci na época que em que trabalhava na Editora Abril, outros do teatro e da vida, e há ainda aqueles que vieram pela mão de outros. Aqui são todos bem-vindos. Essa é a minha principal riqueza. Pena que alguns já tenham partido", emociona-se Adelaide.

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