O Mix que faz o estilo

William Pahlmann, a partir dos anos 30, fez história na decoração ao misturar formas e cores destoantes

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Por Maria Ignez Barbosa
Atualização:

Paredes cinza com molduras brancas. Sofás muito longos em estilo Chesterfield modernizado e forrados de veludo cinza. Poltronas Luís XVI com a estrutura prateada e revestimento de couro cinza-metálico. Verde-esmeralda, azul-real e amarelo-crisântemo nas almofadas, assim como nas costas das cadeiras. Pequenas mesas baixas como nos palácios islâmicos, como apoio diante dos sofás. Tudo sob iluminação estudada e escondida. Foi assim, com ares de cenário de palco, e na linha de causar surpresa, como faz hoje Philippe Starck, que Bill Pahlmann decorou o lobby de um hotel em Indianápolis, nos anos 50. Sem medo de usar cores conflitantes e estilos entre si destoantes, era um luxo descontraído, ousado e desinibido o desse americano nascido no Texas em 1900 e que foi um dos mais conhecidos e influentes decoradores do século 20 em seu país. Menos preocupado em trabalhar para os então chamados killer chics e por meio de sua coluna sindicalizada, A Matter of Taste, e dos ambientes que criava para a loja Lord&Taylor, onde entrou em 1936 para ser o chefe do Departamento de Decoração, Bill Pahlmann foi confortavelmente criando fama e sendo uma decisiva influência na maneira de ser e parecer uma casa americana. Apesar de ter cursado a Parson?s School em Nova York, e de ter passado um ano em Paris, nos anos 30, aproveitando mais da efervescência criativa que a cidade vivia do que sorvendo do passado europeu, o que de fato deslanchou sua carreira foi ter feito o apartamento da primeira mulher do milionário William Paley, Dorothy, ao regressar e abrir sua primeira loja em Nova York, em 1931. Apesar da estranheza que causou a cabeceira de cama amarela no quarto da cliente, seu futuro estava traçado. Se fazia arranjos de flores para a hospedaria da sua mãe, no Texas, quando menino, nos primeiros anos em Nova York, para se manter, Pahlmann dançava em musicais da Broadway. Alto e bonito, participava dos chorus lines. Deixou-se influenciar pelo efeito cenário e o décor eclético dos palcos. Costumava dizer que não havia melhor maneira de trazer dramaticidade e vibração à vida das pessoas do que exagerando na cor e em suas variantes. Na Lord&Taylor, criou ambientes com tendas de listras e inspiração napoleônica. Em 1938, trouxe para a loja o estilo sueco moderno, com móveis de madeira clara. Ali, nos cantos e vitrines que decorava, divertia-se contrapondo cores como o cuzco blue, o amarelo sulfuroso, o laranja, o limão, o fúcsia, o verde-garrafa, o cipreste desbotado e o terracota. Justapunha o móvel moderno ao antigo, o tecido luxuoso ao rústico. Adorava encher paredes com pratos e grande quantidade de gravuras. Rádios, toca-fitas e TV Seu estilo personificava a negação do clássico e a libertação em relação aos movimentos modernistas da primeira parte do século 20. Usava elementos inesperados, como, por exemplo, portões e grades no lugar de cabeceiras de cama e um braseiro antigo com efeito de escultura. Não tinha medo de vinil no chão, de papéis laváveis nas paredes e de dar ênfase a rádios, toca-fitas e à recém-nascida TV. Fez sucesso no pós-guerra ao deixar para trás tudo o que lembrasse o passado e a depressão econômica. Viajava para se inspirar e catar elementos de efeito. Países latinos, como o México e o Peru, foram boas fontes, mas não cairia no regional nem no étnico. Tornou os americanos conscientes da importância de ter um estilo próprio e assim tirou a batuta da mão daquelas conhecidas senhoras de boa família que desde o começo do século decoravam absolutas, mas sempre seguindo os ditames europeus. Em 1946, criou a William Pahlmann Associates e partiu para o décor de hotéis, lojas como a Tiffany?s e as de departamentos como a Bonwit Teller e restaurantes - Fórum dos 12 Césares e Four Seasons. Não achava que o cliente tivesse sempre razão. Não gostava de gatos e muito menos de crianças. Seu fim de festa deu-se nos anos 70. Foi morar no México. De um lado, o high-tech vinha forte na nova linguagem dos decoradores. De outro, Sister Parish se firmava entre os velhos ricos trazendo de volta o look country house de luxo. E, no embalo desses tempos de prosperidade, instalava-se um novo estilo, por meio do olhar e da habilidade de figuras como Denning & Fourcade, Renzo Mongiardino e Geoffrey Bennison, que já foram assunto nestas páginas.

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