Novo luxo se revela em Milão 2008

Transparências e projeções. Materiais alternativos, primazia do couro. Cores neutras. Para Milão, os recursos decorativos em alta dispensam exageros

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Por Marcelo Lima
Atualização:

Na contramão a qualquer excesso -principalmente os de consumo -, o novo luxo se revela, em Milão 2008, em ambientes que propõem uma atitude mais relaxada, mas que também determinam atenção a todos os detalhes do projeto. Propondo reflexão e poesia, móveis e acessórios decorativos revisitam materiais alternativos, como resíduos de vegetais, tecidos rústicos, vidro reciclado e sobretudo couro - que, em tonalidades praticamente cruas, reassume papel de destaque na decoração. O étnico e o artesanal, entendidos pelos criadores como signo do que é permanente, se impõem com vigor nos interiores. Em todos os percursos da capital do design, referências ao Oriente aparecem com força, sobretudo na forma de cortinas, almofadas e revestimentos que destacam tecidos com fios e volumes ressaltados, como a seda e o algodão, ou com o brilho pouco acentuado, caso do adamascado. Sinal dos tempos, a preocupação com a ecologia se transforma em preocupação central para os designers. Como resultado, a natureza volta a integrar os interiores da casa, seja por meio da presença física de plantas e flores em vasos ou paredes - ou mesmo em desenhos que reverenciam o mundo vegetal em todas as suas formas: folhas, pétalas, raízes e flores. Não raro por meio de sobreposições e transparências. Pufes e bancos leves Apelo tátil e tons esmaecidos. A atmosfera de distinção de Milão 2008 deixa de lado brilhos e reflexos intensos das edições passadas, e investe pesado na cor, não apenas como contraponto em mesas, cerâmicas e vasos, mas também em cadeiras, sofás, poltronas e camas - móveis-chave, onde ela aparece como recurso para reforçar a singularidade das formas. A atitude descompromissada dos tempos do pufe Sacco, ícone dos anos 60, está de novo na ordem do dia, em sintonia com o desejo de flexibilizar ao máximo o uso dos ambientes domésticos. Não por acaso, Milão acaba de apresentar uma safra de pufes e bancos - leves no peso e no visual, e fáceis de transportar e de empilhar. A ausência de regras pré-estabelecidas também atingiu o projeto das cozinhas, que, em sua mostra oficial, surgiu aberta e multifuncional, valorizando as áreas de preparação de alimentos e abrindo espaço para o consumo e para a socialização. Nos armários, a madeira crua lidera as preferências entre os produtos voltados para o consumidor mais velho - ao contrário do cliente jovem, para o qual o vermelho e a impressão de imagens ganham força entre as soluções em laminados plásticos. Quanto ao espaço do banheiro, os lançamentos apontam para equipamentos em formas cada vez mais orgânicas e sedutoras. Preservado como um bem precioso, o ato de banhar-se é reverenciado pelos designers como algo sagrado, digno de banheiras que são em si uma atração à parte, tanto pela beleza do desenho como pelos recursos disponíveis.

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