Verde. No parque Solo Sagrado, em Parelheiros, o berçário de almeirão faz conjunto com as flores, também cultivadas de forma sustentável.
Enquanto os alimentos cultivados de maneira saudável, os orgânicos, não chegam à mesa de todos, uma alternativa é plantá-los em casa. Até 50 anos atrás, muita gente tinha a sua horta no quintal e a verdura para a salada ou o legume para sopa estavam sempre fresquinhos. Mas as cidades cresceram e a revolução que aumentou a produção no campo se estabeleceu. "E caiu a qualidade dos alimentos", constata o engenheiro agrônomo Marcelo Noronha, sócio da empresa Minha Horta, que dá consultoria e monta plantações orgânicas.
Segundo ele, a questão do espaço não deve desanimar quem tem vontade de cultivar alguma espécie no ambiente doméstico. É lógico que quem mora em apartamento não vai colher alfaces e pimentões, mas terá à mão temperos e folhas para infusões. Já quem tem um grande terraço pode cultivar até rúcula, alface e tomate cereja.
"Se a pessoa estiver disposta a cuidar bem do que planta, dá para fazer uma bela horta com vasos e jardineiras. O importante é escolher as espécies e seguir algumas regras", explica Noronha. "Primeiro mandamento: o lugar de plantio deve estar sempre voltado para o norte, a fim de garantir a incidência do sol. Também é importante escolher terra e sementes ou mudas de boa qualidade, ter cuidado na rega (o excesso de água estraga o plantio) e prevenir (ou tratar) pragas com métodos naturais. E nada de misturar muitas espécies no mesmo recipiente."
"Vasos pequenos comportam uma ou duas sementes, no máximo", ensina ele. "Nos redondos e com profundidade, plantam-se manjericão, alecrim, pimentas, capim-cidreira, louro. Nos mais rasos, tomilho, orégano, salsinha, cebolinha, coentro e hortelã, por exemplo." Com hortaliças, que exigem espaços maiores - como uma varanda extensa - é preciso ter paciência. "Se você colher um pé de alface hoje, tem de saber que vai ter de colocar outra semente para ter outro só depois de 40 dias. Já a maioria dos temperos é perene." Algumas frutíferas também vão bem em apartamentos, como limão, jabuticaba, romã e pitanga, que podem ser plantados em grandes vasos. "Mas a produção é condizente com o local de plantio", adverte Marcelo.
Pela natureza. O engenheiro agrônomo Marcelo Noronha, que dá cursos e monta hortas caseiras
Plantações caseiras. No caso de hortas em terreno de mais de 10 m² é outra história. Aí sim, pode-se plantar folhosas (todos os tipos de alface, rúcula, agrião, escarola, almeirão, catalonha, brócolis, couve, couve-flor) e leguminosas (cenoura, berinjela, pimentão, beterraba, abobrinha). Os cuidados, nesse caso, são um pouco maiores, segundo o agrônomo. "É preciso saber administrar o terreno, planejando o plantio. Deve-se fazer rodízios e deixar a terra descansar. E proteger o solo com a cobertura morta - restos de folhas, cascas de frutas e legumes, borra de café, casca de ovo, cinza de lareira ou de fogão a lenha. A rega também é importante."
Em vasos ou direto no solo, o controle de pragas é fundamental para a agricultura orgânica, que usa como preventivos pulverização com chás. Se a planta já estiver contaminada, Marcelo ensina que se deve arrancar as folhas comprometidas, diminuir a quantidade de água e pulverizar infusões naturais.
Chuchu. Considerado um fruto, pois tem sementes internas, vai bem em plantações caseiras
VOCÊ PRODUZ O QUE COME
Luminosidade: Escolha um lugar que receba muito sol
Preparo do vaso: Monte o vaso com camadas de argila expandida, manta bidim ou areia de construção e terra adubada com composto orgânico
Cuidados com a rega: Observe a quantidade de água. Se ela escorre rápido pelo fundo do vaso é porque há excesso. O ideal é regar a cada dois ou três dias. O sistema de gotejamento é o mais indicado
Controle de praga: Observe diariamente as folhas para ver se não há pragas. Faça trabalho preventivo com pulverização de chás naturais - como de alho ou de pimenta malagueta. Se a planta estiver contaminada, arranque as folhas doentes e pulverize com chá de fumo-de-corda, por exemplo
Rodízio no plantio: Não se cultiva a mesma espécie no mesmo lugar no plantio seguinte. É recomendado trocar a produção de folhosas por tubérculos ou leguminosas. Por exemplo: onde se plantou alface, da próxima vez, plante cenouras ou ervilhas
PARA ENTENDER
O fracasso da revolução verde
Tudo começou depois da 2ª Guerra Mundial, quando tomou corpo a ideia de que o fantasma da fome poderia ser afastado com a industrialização do campo. Venenos usados para matar soldados podiam também aniquilar pragas agrícolas e os tanques, então obsoletos, seriam convertidos em tratores.
Esses ideais se transformam na Revolução Verde, baseada na invenção e disseminação de sementes modificadas e técnicas que permitiriam aumento na produção nas décadas de 60 e 70. Mas o uso de fertilizantes e agrotóxicos, a mecanização do plantio, irrigação e colheita desaguaram no abuso das monoculturas e na degradação ambiental e cultural da agricultura tradicional. Cuba foi um dos países atingidos por esse fenômeno (há 40 anos, a ilha era uma grande exportadora de açúcar e fumo). Em 1989, com o colapso da URSS, o país perdeu mais de 80% do seu mercado. Para enfrentar a crise, pequenos lotes em Havana e arredores foram transformados em hortas comunitárias. Hoje, quase toda a produção desses locais é orgânica.