No meio da mata

Entremeada às árvores, esta casa em Ubatuba conseguiu integrar-se e bem conviver com o lugar

PUBLICIDADE

Por
Atualização:
A varanda vai de ponta a ponta e une os dois módulos da casa: o da área social, todo envidraçado, e o dos quartos, com painéis deslizantes coloridos Foto: Daniel Ducci/Divulgação

Quando o arquiteto Samuel Kruchin visitou pela primeira vez o terreno em Ubatuba, no litoral de São Paulo, onde construiria a casa de veraneio de sua família, só conseguiu pensar em uma coisa: “Não precisa de nada, está tudo pronto”. Quase toda a área de 10 mil m² é formada por mata preservada e a construção, de 370 m², fica cercada pelo verde, exatamente como o arquiteto queria. “Minha intenção era que o projeto provocasse a menor intervenção possível, que pousasse no terreno com leveza.”

PUBLICIDADE

Com desenho linear, a casa está cravada entre as árvores. Na planta de horizontalidade marcante, dois volumes aparecem separados por um vazio de onde se avista a encosta. De um lado, a área social, toda envidraçada, aberta para a paisagem. De outro, os quartos. No meio, um deck de madeira sem cobertura funciona como extensão do estar, com espreguiçadeiras, mesinha e guarda-sol. Por dentro, esses dois módulos são unidos por um corredor e, por fora, pela varanda.

É para ela que se abrem os quatro quartos, cada um com um grande painel de correr colorido, uma referência – ou homenagem – aos passarinhos que habitam a mata. Não à toa o imóvel é chamado de Casa das Saíras. “Quando você vê um ponto de cor no meio da mata, sabe que vai encontrar um pássaro bonito lá, uma saíra-sete-cores, um tiê-sangue. Era essa ideia de cor que queria passar, de um colorido entremeado na mata”, diz Kruchin.

Alcançado o objetivo de “integrar-se, de sentir a pulsação do ambiente”, era preciso resolver outra questão: como proteger a casa do ambiente e bem conviver com ele? Na região com chuvas frequentes e em um terreno com vegetação fechada, o imóvel corria o risco de sofrer com o excesso de umidade. O piso, de concreto, não toca o solo e só isso já evitaria boa parte da problema. Para completar, de uma ponta a outra, surge no teto um ripado de madeira que esconde um sistema de ventilação: do lado de fora, o trecho central da cobertura tem um desnível que permite a constante entrada e saída de ar.

“Não precisamos de ar-condicionado nem de ventilador de teto. Tudo é uma questão de entender os mecanismos da natureza e tirar proveito deles”, afirma o arquiteto. Além desse sistema, a casa tem muitas possibilidades de abertura – toda a área envidraçada pode ficar aberta, bem como as portas de correr dos quartos. Aliás, isso favorece que os dormitórios sejam usados também como espaços de estar, já que se voltam para a varanda comum a todos os dormitórios.

Com estrutura pré-fabricada, o imóvel foi erguido com vigas e pórticos de laminado de madeira reflorestada e não tem telhas na cobertura, mas um sistema que combina placas de MDF, isopor e uma manta impermeabilizante. “Fiz essa opção não só porque contribui para criar a leveza que eu desejava, mas também porque ajuda no conforto térmico”, conta Kruchin.

Com dez anos de construção, a casa já deu provas de que funciona muito bem: mesmo nos dias mais quentes, se mantém fresca; no frio, é aquecida pela lareira da sala; e, como convém a um imóvel de fim de semana, tem manutenção fácil, desde que garantidos os cuidados com o exuberante jardim. “A vegetação cresce muito e, vez ou outra, caem galhos e até arvores”, diz o arquiteto. Convenhamos, não é um preço alto para quem pode viver cercado pela mata atlântica. 

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.