Mediterrâneo irreverente

Na cobertura que já pertenceu a Darcy Penteado, casal reforma o 'corpo', mas mantêm a alma do artista

PUBLICIDADE

Por Bete Hoppe
Atualização:

No meio do caminho tinha um sarcófago. Que foi destruído, próximo da lareira de ferro, a marretadas. Mas a lareira ficou. E também a mesa de jantar redonda e a cartografia antiga, que mudou da sala de jantar para o hall de entrada. Reminiscências da decoração do antigo dono desta cobertura, o artista plástico paulista Darcy Penteado (1926-1987). De certa forma, os atuais proprietários têm um pouco da irreverência de Darcy. Seja na ousadia de levar a cabo uma reforma sem orientação especializada (contando apenas com a ajuda de um ?faz-tudo?), seja na decoração singular, com peças garimpadas sobretudo na Europa e no Oriente. Quando compraram o imóvel de 270 m² na região da Avenida Paulista, há 6 anos, Miguel e Fabiana Vizzani Reis queriam repetir ali a atmosfera mediterrânea do restaurante Chakras. Em fevereiro de 2002, após cinco meses de obras e quase nada do apê original, o casal brindou à concretização do sonho. Todos os ambientes sofreram alguma alteração e o novo layout priorizou espaços mais generosos, arejados. Paredes e portas convencionais deram lugar a painéis de vidro, que integram o interior ao terraço com três ambientes. Na saída da sala de estar, essa área ganhou tenda plástica forrada de tecido com abas laterais retráteis, enquanto almofadas espalham-se sobre os sofás apoiados no chão de pedriscos. "É um ambiente multiuso. No verão, é agradável para bater papo e jantar com os amigos", diz Fabiana. Para andar descalça No centro do terraço há um amplo deck descoberto, com acesso à sala de jantar. Num canto, fica o ofurô com cobertura de sapê, mosquiteiro e plantas, que protegem do vento - e dos olhares curiosos. Esse "cantinho da Fabiana" tem mesa acompanhada por coloridas cadeiras de acrílico sobre o piso de grama artificial. "Gosto de andar descalça e tomar o café da manhã aqui", confessa. Um pequeno toldo branco marca a entrada da cozinha, onde a proprietária pilota o fogão. "Usamos as dependências de empregada para aumentar a cozinha e a lavanderia, e ainda fazer um lavabo e uma despensa", conta. Mosaico de pedriscos (na cor branca, R$ 10 o saco de 40 kg, na Casa Franceza) desenha um sinuoso caminho no piso de cimento queimado, ligando a cozinha ao corredor de entrada - antes um paredão. Esse paredão recebeu um corte central, com as bordas superiores levemente abauladas, seguindo o estilo arqueado das aberturas dos ambientes. Uma delas ganhou cortinado de contas entre a sala de jantar e o corredor, permitindo que a luz natural chegue à despensa. Com exceção da colunata e da parede de tijolos aparentes, o amplo hall concentra revestimentos que se repetem na área social e em parte da ala íntima - piso de cimento queimado (R$ 47 o m² e R$ 43 o da mão-de-obra, na NS Brazil) e teto de tábuas largas; a exceção é a sala de jantar, que recebeu "massa louca", típica da Grécia. Essa é a atmosfera no ambiente que reúne salas de estar e de TV, onde a parede serve de telão para as imagens do projetor instalado acima do sofá de alvenaria. Ao lado dele, a lareira original. A poltrona de polipropileno branco da Micasa (fora de linha, mas a similar MT3, design de Ron Arad, custa R$ 10.306) parece destoar da decoração multiétnica, calcada no "diferente". Só para dar uma idéia, as salas agregam tronos indianos de madeira entalhada; luminárias marroquinas (a partir de R$ 212, na L?Oeil); enfeites de parede tailandeses; calendário maia e pufes estofados com patchwork de Portugal. Contígua ao estar está a ala íntima, onde o escritório dá acesso aos quartos. O local de trabalho ganhou cortinas rolô de madeira e o teto de alvenaria foi substituído por cobertura de policarbonato transparente, com faixas de pano bufantes embaixo - opção para levar luz natural à suíte principal sem janelas. Ali Fabiana preferiu o assoalho de madeira. Foi ela, aliás, que pintou o quadro pendurado no escritório e restaurou o mural de Darcy Penteado na escada entre o hall do elevador e a cobertura.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.