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Madeira em versão urbana

Em Guarulhos, obra do Projeto Paulista de Arquitetura prioriza material de fácil montagem, mais usado no campo

Por Monica Nobrega
Atualização:

A localização, um bairro residencial de classe média, é comum; o terreno trapezoidal com 10 m de frente é um lote urbano espremido entre outros dois; e a única atração da vizinhança está na praça pequena e arborizada, em frente. Eis algumas características da casa em Guarulhos, que, desde 2005, chama a atenção de quem passa pela rua. Por trás do portão branco vazado ergue-se a construção em madeira, concreto e vidro, criação de Luis Mauro Freire, Henrique Fina e Maria do Carmo Vilariño, do escritório Projeto Paulista de Arquitetura (um projeto semelhante hoje custaria cerca de R$ 22 mil). Nesse trabalho, madeira é mais do que uma questão de estilo - afinal, toda a estrutura é de jatobá. "É uma solução mais usada em casas de campo", destaca Freire. A escolha faz sentido, se considerar os predicados do material: vigas e pilares de madeira duram tanto quanto a alvenaria, enquanto a montagem leva menos tempo (nesse caso, três semanas) - as peças vêm prontas de fábrica e os operários só precisam encaixá-las, à semelhança de um brinquedo Lego. Vantagens que amenizam o custo elevado: segundo o engenheiro Hélio Olga, da Ita Engenharia, o m² varia de R$ 300 a R$ 500. Estilo despojado As paredes são de alvenaria leve. Blocos de concreto estrutural (com 14 cm x 19 cm x 39 cm, R$ 1,96 cada peça, na Glasser) foram usados para erguer muros, arrimos e a parede da direita. Os blocos não têm revestimento para acentuar a linguagem da Projeto Paulista de Arquitetura. "Os elementos estruturais têm um potencial expressivo próprio. Ao deixá-los expostos, buscamos a ?verdade da construção?", diz Freire. A idéia vai ao encontro do estilo despojado do jovem casal, que mora ao lado dos pais do proprietário. Vista da rua, a construção de 290 m² se eleva a 8,5 m de altura, abrigando dois andares e garagem. O terreno foi escavado na frente para criar espaço e guardar os carros. A partir da garagem, duas escadas conduzem ao primeiro andar: a de serviços, que leva ao jardim e à cozinha, e a social, dentro de uma caixa de blocos de concreto, com função estrutural. A casa em si constitui-se de um bloco maior, transversal, onde ficam cozinha e sala de jantar no primeiro andar; e quartos e banheiros no segundo. Integrado à área de refeições, o living foi posicionado em um bloco menor, paralelo à rua - uma caixa de vidro laminado de 8 mm com portas de correr, que abrem completamente. "É uma sala-varanda, que permite ver a praça até por quem está no jardim", diz Freire. Enconstada ao muro à direita, e voltada para o sol e o jardim lateral - que tem, ao fundo, churrasqueira coberta -, a casa recebe muita luz. A planta é composta por módulos de 3,60 m (distância entre as vigas), o que resulta em similaridade entre os ambientes, especialmente no segundo andar. Na suíte, o dormitório ocupa o primeiro módulo; o segundo é dividido entre o closet e o banheiro. O conceito se repete no corredor de acesso a um banheiro, um closet e dois quartos. A cozinha ocupa dois módulos e tem janelas de correr, feitas sob medida com duas folhas de 1,80 m (preço sob consulta, na Marcenaria e Carpintaria MP). Recurso igual foi usado na suíte do casal, para dar passagem ao terraço construído sobre a laje do estar. Essa, aliás, é a única laje da casa. Entre o forro de MDF do térreo e o piso de réguas de grápia (R$ 69,90 o m², sem colocação, na Pau-Pau) do andar de cima há um enchimento de 8 cm de espessura (15 cm nos banheiros), composto por manta com argamassa de vermiculita (isolante acústico), por onde passam dutos dos sistemas hidráulico e elétrico. Com perfil tão conceitual, é natural que a morada tenha sofrido alterações depois que os moradores mudaram para lá. A parede de tijolos de concreto aparente, por exemplo, no limite com a casa à direita, foi pintada de branco no andar de cima. Intervenção feita porque a proprietária não se habituou à idéia de ter uma parede cor de cimento em seu quarto. Nada que comprometa a estética - uma casa não é apenas o que foi projetado e construído, mas também o que os moradores fazem dela.

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