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Marcelo Lima

Made in Africa

A produção de móveis e objetos na África vive um momento de expansão. O intercâmbio com o mercado internacional é intenso. Mas a ordem agora é outra: menos ênfase no artesanal e no étnico. Mais foco no design

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Por Marcelo Lima
Atualização:
Execução da poltrona Amaca, da Moroso, em Dakar, no Senegal Foto: Moroso

Modou é o nome que o designer israelense, radicado em Londres, Ron Arad escolheu para batizar um de seus mais novos projetos: uma poltrona criada para a fabricante italiana Moroso. Modou é também o nome do metalúrgico africano que desenvolveu o protótipo da peça em Dacar, no Senegal. Modou viabilizando as formas pouco convencionais de Ron. Ron dando a Modou a chance de entrar no mercado internacional.  Retrato de uma parceria bem-sucedida, engana-se quem pensa que o improvável encontro entre os dois profissionais não passe de um caso isolado. Impulsionada pelo aumento da renda, sobretudo na região subsaariana, a produção de móveis e objetos na África vive um momento de expansão. O intercâmbio com o mercado externo é intenso. Mas a ordem agora é outra: menos ênfase no artesanal e no étnico. Mais foco no design. “A originalidade das linguagens africanas enriquece a cultura global. Minha intenção na coleção de Ron foi mostrar as muitas possibilidades oferecidas pelo saber africano, para além dos estereótipos que apresentam a África como uma experiência trágica. Ou, na melhor das hipóteses, exótica”, conforme declarou Patrizia Moroso, diretora de arte da marca italiana, durante o lançamento de Modou. Um móvel produzido no Senegal – a partir de fios plásticos usados em redes de pesca, trançados, manualmente, sobre uma base metálica –, que demonstra bem a atual trajetória do móvel africano rumo à internacionalização. “Penso que vivemos sim uma onda criativa. Existe uma nova geração que está ajudando a África a desenvolver uma identidade mais consistente”, afirma a nigeriana Titi Ogufure, curadora da Design Week de Lagos, na Nigéria. Para ela, a coleção Överallt, criada por jovens designers para a sueca Ikea (bit.ly/africa-ikea), representa um bom caminho. Apesar de não serem poucos os obstáculos.  Na maior parte do continente a infraestrutura comercial ainda é bastante precária, o transporte é difícil e caro, a logística de exportação praticamente inexiste e ainda são poucas as escolas especializadas. “Nosso design oferece uma perspectiva cultural energética, opulenta, cheia de cor e vida. Nele, cultura e hábitos locais desempenham papel-chave, e isso é bom. Mas é fundamental que ele também procure solucionar questões de alcance global”, afirma a curadora.  Segundo Titi, um grande problema, comum a todo o continente, é que muitos profissionais ainda veem o design como uma forma de arte. “Não estou dizendo com isso que tenhamos de abrir mão de toda nossa expressividade, de nossa essência. Mas que, para conquistar espaço no cenário mundial, não faria mal nenhum se fôssemos só um pouco mais funcionais”, argumenta. 

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