Luz e cristal para ousar

Mostra em Milão exibe luminárias, produção impactante de designers a serviço da Swarovski

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Por Marcelo Lima
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Tome-se, de um lado, a elite do design: dez profissionais, de diversas partes do globo, que fazem de Milão um dos centros de atuação, e da Semana do Design, a principal vitrine internacional. De outro, a austríaca Swarovski, líder mundial no corte e na lapidação de cristais. Luminoso - e impactante - , o resultado não poderia ser outro: a exposição que se tornou um dos eventos mais concorridos da temporada, em abril último. Fiel à proposta da marca de expandir as fronteiras de utilização do cristal, a Crystal Palace apresentou luminárias e objetos luminosos inéditos a partir de diversos níveis de abordagem: da natureza -tomada em seu estado mais rudimentar - à alta tecnologia, vista como passaporte para experimentações de toda ordem, dialogando abertamente com o vocabulário das artes visuais. Tendo como sede um galpão desativado, na trendy Zona Tortona milanesa, a mostra surpreendeu pela propriedade de sua locação: em confronto com a amplitude do local, lustres e similares cresceram em expressão e volume. Para além do objeto, os designers se sentiram à vontade para alçar vôos ainda mais altos, invadindo os domínios da arte e da arquitetura. Caso, por exemplo, de Veil, painel do inglês Paul Cocksedge, que vem se especializando na criação de espetáculos visuais que cele-bram os avanços da luminotécnica contemporânea. No Crystal Palace não foi diferente: por meio de uma cortina de 4 m de altura, confeccionada com 1.440 unidades de cristais, Cocksedge encantou com incríveis efeitos de ilusão óptica. Vista através de um espelho, a enorme cortina em cristal revela a enigmática - e bem conhecida - imagem de uma jovem senhora. Porém, basta olhar diretamente para o objeto para a imagem se dissipar como em um passe de mágica. Ou melhor, como em uma "ilusão romântica", segundo o designer, estrela em ascensão no design de iluminação britânico. Objeto-escultura Redefinindo a natureza do lustre, a iraquiana Zaha Hadid introduz a idéia da fragmentação, cara aos projetos arquitetônicos, também nos domínios da iluminação. "Para mim, a fragmentação tem tudo a ver com a explosão cósmica. Trancados em uma espiral, a direção dos cristais é determinada pela força da explosão. Assim, ela interage com o ambiente de forma única", descreve a arquiteta, primeira mulher agraciada com o prêmio Pritzker, em 2004. Aclamado pela economia visual de seus interiores, nem mesmo o italiano Piero Lissoni ficou imune à exuberância dos cristais austríacos. Mestre na arte de construir com rigor, ele surpreendeu com a Cupola - esfera cristalina, de dimensões quase arquitetônicas, que explora a sensação de profundidade sugerida pelo intrincado jogo de luzes e sombras. Não menos expressivo - nem tampouco modesto - , o Globe, do Studio Job dos designers Job Smeets e Nynke Tynagel, da renomada Design Academy Eindhoven (Holanda), também lança mão do hiperdimensionamento para acentuar a aura poética do objeto - no caso, o globo terrestre com 175 cm de diâmetro e 500 mil cristais Swarovski. "Nossa criação homenageia a Terra, no seu esforço de se manter girando", diz Job. Destaque entre os objetos que têm na escultura a principal referência, o belga Arne Quinze apresentou a série "Ellipsis & Fragments", luminárias que funcionam como divisórias, sugerindo a paisagem doméstica repleta de cores e luzes. Procedimento adotado também pelos ingleses do estúdio Fredrikson Stallard, com a "Cavern Collection": objetos que, transcendendo definições, aparecem na forma de blocos de concreto, madeira e couro, com aberturas cavernosas, revestidas de cristais. Poética e intensa, Eternal, instalação do aclamado designer japonês Tokujin Yoshioka, conclui o segmento das instalações, com a série de blocos de acrílico, cada um com um cristal incrustrado - nas palavras do designer, "como se fosse uma estrela flutuante". Tudo para realçar a justaposição entre o acrílico e o vidro, e a unidade de cada objeto. Produzida em edição limitada, Eternal conta com 41 peças - únicas e insubstituíveis, como cada ano vivido por Yoshioka (marcelo.lima.antena@estadao.com.br).

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