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Feita para a arte

Casa de Elena Mahfuz foi planejada para abrigar acervo reunido em 50 anos

Por Marisa Folgato
Atualização:

Todas as semanas, um seleto grupo de 20 mulheres reúne-se na casa de Elena Kalil Mahfuz, no Jardim América, para estudar história da arte. Preciosidades espalhadas pelo mundo são ali "visitadas" muitas vezes com o apoio de vídeos exibidos na sala de jantar, com mesa de mogno e duas dúzias de cadeiras brancas com detalhes dourados e onde se destaca o lustre de cristal de rocha (a Passado Composto Clássico monta modelos exclusivos como esse).Com certeza, Marco Antonio Guerra, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, poderia dar aulas ao grupo simplesmente percorrendo os interiores do imóvel. "Esta casa foi construída e planejada especialmente para abrigar minhas peças de arte", conta Elena. Isso foi há 12 anos, embora algumas peças estejam com ela há mais de 50.Uma das aulas mais interessantes foca o biombo Coromandel chinês do século 17, que toma quase a parede inteira do fundo da "sala vermelha", no térreo. Em dez folhas de laca negra com pinturas minuciosas, é a peça mais importante do acervo, segundo Elena, de 75 anos. Um detalhe curioso: Coco Chanel também teve seu Coromandel; aliás, mais de um. Embora seja chinês, esse modelo recebeu o nome da costa indiana, ponto de saída dos barcos que levavam peças para serem vendidas na Europa (na Clássica & Moderna, modelos com preços sob consulta).Mas o que empresta nome à sala, com vista para o gramado do pátio interno, é o tom vermelho-profundo dos vasos, potes e abajures sangue-de-boi, também chineses, distribuídos principalmente sobre aparadores. "Tenho uma boa coleção", diz Elena (na Clássica & Moderna, um abajur sangue-de-boi do século 18 custa cerca de R$ 20 mil). A cor vem do uso do cobre para produzir a porcelana.No mesmo cômodo, rouba a cena a dupla de esculturas de madeira delicadamente entalhada, quase em tamanho natural, valorizada por nichos e iluminação dirigida. Sem data definida, foram adquiridas em um antiquário argentino. "São Angkor Vat", explica Elena, referindo-se à região onde hoje fica o Camboja que abrigou a antiga civilização khmer. A referência ao Oriente também está na escrivaninha inglesa do século 17, decorada com chinoiserie, um modismo da época. Nesse móvel, uma coleção de coroas douradas e com pedras de santos russos mostra outro interesse de Elena (uma cristaleira abriga mais coroas, dessa vez de prata, e de santos brasileiros, no corredor que dá acesso ao lavabo).Também no térreo da casa de 1.000 m², construída em terreno de 1.500 m², outro xodó da matriarca, que tem três filhos, 10 netos e duas bisnetas. Na "sala azul", a primeira à esquerda a partir da porta de entrada, ladeada por leões brancos, o destaque é a tapeçaria Verdure, francesa, do século 17, que comprou em Londres em 1950. "A bordure (margem) de flores me encantou", conta Elena.BRIDGEAlém da tapeçaria (na Clássica & Moderna, uma peça do século 18 tem preço sob consulta), porcelanas chinesas em branco e azul, adquiridas na Europa, nos Estados Unidos e em antiquários brasileiros ao longo de 30 anos, além de livros de arte, ajudam a compor um dos ambientes preferidos da dona da casa. É ali que ela se entrega a uma paixão recente, o bridge. Elena treina bastante: há dois anos tem aula em casa uma vez por semana e vai a outras duas num clube especializado para jogar, nunca a dinheiro. "Ainda sou principiante", reconhece. Formada em história, fluente em cinco idiomas, ela reserva pelo menos um dia na semana para visitar exposições, ir ao cinema ou concertos. Um dia também é dedicado a estudar atualidades na casa de uma prima, no Morumbi. "São Paulo oferece muitas oportunidades para quem gosta de arte", diz a paulistana, integrante de uma das mais tradicionais famílias libanesas na cidade, os Kalil.Quando solteira, morava num casarão na Rua Martiniano de Carvalho, no Paraíso. Depois de casada com Aziz Mahfuz, mudou-se para o Jardim Paulistano. "Meu sogro, Jorge Mahfuz, era dono de toda a área do bairro e chegou a doar o terreno para ser construída a Escola Britânica de São Paulo, a St. Paul?s School", conta ela. Há 12 anos, Elena entendeu que era hora de abrigar melhor suas obras de arte e encomendou um projeto que valorizasse o acervo. "O designer de interiores foi Gil Donnat", diz, referindo-se ao mesmo profissional que assina a decoração do antigo restaurante Fasano, na Haddock Lobo."Depois, Germano Mariutti (decorador, falecido em 2007) foi quem arrumou especificamente as peças", diz. A "sala vermelha" está até no livro de Mariutti, Criador de Universos.

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