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Eu campano, Tu campanas...

Os irmãos Humberto e Fernando Campana subverteram o uso de materiais e hoje seu trabalho inspira um novo verbo

Por Beto Abolafio
Atualização:

A o visitar o estúdio de Fernando e Humberto Campana, em Santa Cecília, no centro de São Paulo, fica fácil conceber um neologismo: "campanar". O novo verbo poderia ser sinônimo do ato ou efeito de transformar, à moda brasileira, o simples no belo. É bonita a história dos dois irmãos paulistas que começaram fazendo cestos de vime e viraram a principal referência do design contemporâneo brasileiro.A transposição do uso de materiais caracteriza o trabalho de ambos. Para eles, é mais do que isso: "É subversão", opina Fernando, o mais falante e racional. Faz 20 anos que, em busca de uma nova expressão, eles produziram a célebre coleção de cadeiras escultóricas de ferro chamada Des-Confortáveis. Foi exposta na Nucleon 8, badalada empresa paulistana de design da época. "O ciclo dos cestos se esgotou", lembra Humberto, mais introspectivo e sensível. Foi o primeiro passo num caminho contrário ao mainstream e o ponto de mutação que, segundo os próprios, os tornou legítimos designers. Na cronologia acima, observam-se os exemplares das cadeiras Positivo e Negativo. Dá até para ver nelas uma metáfora dos dois criadores, cada qual com seu jeito oposto e complementar.A exposição "Antibodies - Fernando & Humberto Campana 1989-2009" - recém-inaugurada no Vitra Design Museum, respeitada entidade do segmento, em Weil am Rhein, Alemanha - faz uma retrospectiva da dupla. São criações que abusam do manual e de materiais corriqueiros, como se traduzissem a inventividade e certa improvisação da gente daqui. O evento estende-se até 28 de fevereiro de 2010.No livro Cartas a um Jovem Designer (Ed. Campus), os irmãos Campana contam as agruras e delícias da carreira, que, a partir das Des-Confortáveis, mergulhou numa experimentação de materiais como arames de alumínio, barbante de algodão, ripas de madeira, papelão ondulado. Mas essa estética, muito artesanal e inovadora, não causava empatia na indústria nacional, voltada a um desenho racionalista. Estavam quase desistindo quando surgiu outro rito de passagem. Foi em 1998 que Massimo Morozzi, diretor de arte da empresa italiana Edra, telefonou para eles. Estava interessado em produzir a cadeira Vermelha, um móvel em que o assento é feito de um emaranhado de cordas. No mesmo ano, o MoMA, de Nova York, os chamaria para participar de uma exposição. Pronto. Desde então, a lida da dupla ganhou notoriedade internacional cada vez maior, a contaminar uma nova geração de designers com o seu campanar. Vindos de Brotas, no interior de São Paulo, os irmãos nasceram numa família de classe média, bem informada, e curtiram a adolescência assistindo a filmes-cabeça no cinema da cidade, além dos shows das Fenit, uma espécie de São Paulo Fashion Week daquele tempo. Os rapazes que queriam fazer intercâmbio mas não tinham lá muitas condições hoje viajam para diferentes parte do mundo quase que mês sim, mês não. Na entrevista publicada a seguir, eles falam da profissão e de outros aspectos da vida.

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