Esculturas funcionais

Magnus Pettersen, designer conceitual norueguês, comenta sua experiência de viver e trabalhar em São Paulo

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Por Marcelo Lima
Atualização:
O designer norueguêsMagnus Petterson Foto: Divulgação

Um dos mais celebrados designers conceituais de seu país, o norueguês Magnus Pettersen acaba de concluir uma temporada intensa em São Paulo. Visitante inaugural do programa Re.De.Sign, idealizado pelo designer Bruno Simões, Petterson visitou ateliês, partilhou experiências, mas também colocou a mão na massa: sua mais recente coleção de objetos, produzida no Brasil, fica em exibição até 16 de abril no ateliê de Simões, nos Jardins. “Creio que a experiência aqui produziu um nítido efeito no meu trabalho. O minimalismo escandinavo deu lugar a uma abordagem mais orgânica”, dissse ele nesta entrevista ao Casa.

Quais seus interesses como designer? Sou formado em artes plásticas pela The Royal Danish Academy of Fine Arts. Me dediquei, no início, à pintura, mas foi no campo escultórico que acabei encontrando meu lugar. O uso do concreto surgiu meio ao acaso, pois um parente meu tinha uma empresa do ramo e me mandava excedentes de obras para experimentar. Com o tempo, incorporei cores e formas ao material e acabei descobrindo um caminho de pesquisa. Por ser um artista de formação, meu interesse na área é mais conceitual, menos na questão da funcionalidade ou da ergonomia, e mais na experimentação, sobretudo com os materiais. Vejo meus móveis como “esculturas funcionais”, que são capazes de transmitir profunda expressão, enquanto exploram as tensões entre o abstrato e o concreto.

Mesa lateral, outra das estruturas funcionais de Pettersen Foto: Divulgação

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Como avalia o programa de imersão que realizou em São Paulo? A realidade nacional foi um verdadeiro choque em um primeiro momento. Os contrastes eram extremos: entre riqueza e pobreza, entre enormes edifícios e favelas, ruas em péssimo estado, lotadas de carros luxuosos, intenso calor e fortes chuvas. Tudo muito intenso para um habitante de uma cidade com 750 mil habitantes, como Copenhague. Mas o bom da residência é isso: você tem tempo para transformar a experiência de turista em algo mais aprofundado. Cria hábitos que te fazem compreender uma outra realidade. Provavelmente foi o que me fez soltar um pouco do rigor geométrico, de base minimalista, das minhas criações e a explorar novos materiais. Como o ferro, que conferiu um desenho mais orgânico e livre às minhas peças.

O que encontrou de mais interessante na cena do design local? Comparativamente, achei a cena bem menor do que a que encontrei em outros centros urbanos, inclusive menores. Tive a sorte, porém, de conviver com jovens designers como Antonia Almeida e Fabio Esteves, da dupla 80e8, e também de visitar mostras e ateliês. Com alguns dos quais, inclusive, teria enorme prazer em desenvolver trabalhos conjuntos.

Cadeira de concreto criada pelo designer e, ao fundo, corpos de prova Foto: Divulgação
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