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Entre a arte e o design

ANTENA - Avesso às convenções, o espanhol Jaime Hayon já é apontado como sucessor do francês Philippe Starck

Por Marcelo Lima
Atualização:

  Tudo lhe interessa e nada parece escapar de sua atenção. De sua fina ironia, de seu enfoque singular de criação. Aos 34 anos, o designer espanhol Jaime Hayon reúne um currículo de respeito: de brinquedos a interiores; de móveis a exposições. Estrela em ascensão no cenário internacional, e dono de um estilo autoproclamado como "barroco mediterrâneo digitalizado", ele já foi apontado como legítimo sucessor de Philippe Starck. Em particular, por sua habilidade em transitar por diversos domínios sem se prender a convenções; mas também sem abrir mão de um genuíno senso de elegância. Algo perceptível, por exemplo, nos salões do La Terraza del Casino, em Madri - restaurante no qual sua visão espetacularizada do décor, empenhada em harmonizar passado e futuro, remete diretamente ao designer francês. Esbanjando requinte - e também paixão -, a obra de Hayon, porém, prefere navegar por outros mares. Para ele, cada projeto parece ainda se constituir em oportunidade rara para a criação, para se ir além do convencional. "Jogo com a fantasia para conquistar clientes e entreter os consumidores dos meus produtos. Mesmo para uma audiência habituada ao novo, é uma receita que sempre dá certo", resume. Sempre pronto para transgredir os limites entre arte e design, entre interiores e instalação artística, Hayon aponta a experimentação como elemento-chave na sua trajetória como designer, desde sua primeira incursão no circuito comercial, em 2005, com o lançamento da polêmica linha AQHayon, criada para a Artquitect, que tratava cada um dos equipamentos sanitários como peças de mobiliário. "Desde o início, procurei me afastar da ideia de conceber o espaço banho como algo todo branco, clínico, quase imaculado. Por que não pensar cada um de seus componentes como um móvel avulso, capaz de ser usado em qualquer lugar da casa?", argumenta o designer, seguro hoje de ter sido um dos precursores de uma nova atitude em relação à decoração do ambiente. Nascido em Madri, em 1974, Jaime Hayon estudou design na capital espanhola e em Paris. Ano referencial na sua carreira, 1997 marca sua chegada na Fabrica, o concorrido centro de pesquisas montado pela Benetton, em Treviso, Itália, onde, em um ano, ele assume o departamento de design a convite do presidente Luciano e sob as bênçãos de Oliviero Toscani, responsável pela área de criação. Projetos ecléticos Definida pelo designer como uma escola em sentido amplo, lá Jaime se envolve em uma cartela de ecléticos projetos - desenvolvimento de interiores de lojas, espaços de exposição, restaurantes, livros, anúncios para revistas e de logotipos - que lhe garantem plena vazão a seu talento multidisciplinar, até o início da carreira solo como designer de produtos, em 2004. De lá para cá, Hayon já desenvolveu luminárias para a Metalarte italiana, como a Funghi Collection, com cúpulas de cerâmica baseadas no formato dos cogumelos, móveis como a linha Showtime, com estofados e mesas inspirados nos musicais da Metro-Goldwyn-Mayer, para a espanhola BD Ediciones de Diseño, e, mais recentemente, uma série de vasos de cerâmica e metal para a Gaia & Gino, da Turquia. Desde 2006, Jaime é também diretor de arte da Lladró, tradicional fabricante de porcelanas de Valência, para a qual acaba de conceber mais uma extravagante série de objetos: vasos, candelabros e pequenas esculturas de formato estilizado e visual surrealista, que passeia pelo imaginário circense, flutua em meio a naves espaciais e desembarca no centro da cena familiar. Assíduo também nas coleções da Bisazza, a célebre fabricante italiana de mosaicos, nos últimos anos ele tem se esmerado em apresentar os lançamentos da empresa em Milão, por meio de instalações de grande porte - com bonecos gigantes e jatinhos em escala natural - onde, no melhor estilo Hayon, pretende sugerir experiências inexploradas. "Trata-se da minha intuição alterando a realidade", diz ele, enquanto apresenta seu avião dos sonhos. E ensaia voos ainda mais altos.

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