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Em meio à arte

Transformada em galeria, casa projetada por Rino Levi é aberta à visitação

Por Marcelo Lima
Atualização:
O pergoladoestrutural projetado por Rino Levi Foto: Zeca Wittner/Divulgação

Algo muito particular acontece cada vez que adentramos uma casa modernista. A sensação de amplitude e a luminosidade proporcionadas pela integração entre os espaços interno e externo e pela abolição de divisórias e de espaços de transição, como corredores, são perceptíveis ao primeiro olhar. Bem como sua elaborada concepção estética e estrutural.  Situada na Avenida 9 de Julho, a residência Castor Delgado Perez, projetada na década de 1950, por Rino Levi, um dos expoentes do movimento moderno na arquitetura brasileira, se insere nessa categoria. Tombada como patrimônio cultural, ela testemunha o desejo do arquiteto em alinhar o caráter universalista do modernismo às condições locais. Particularmente, àquelas decorrentes de nosso clima e natureza. 

Além disso, como em outras obras de Levi, seu paisagismo leva a assinatura de ninguém menos que Burle Marx. Um detalhe que não passou desapercebido ao olhar da galerista Luciana Brito que, após 15 anos na Vila Olímpia, havia decidido mudar de endereço. “Desde que foi construída, em 1958, o imóvel era habitado pela mesma família. O que mais me atraiu, fora a beleza da casa, foi justamente o contraste com o espaço da minha antiga galeria. Depois, me agradava a ideia de franquear o acesso do público a um espaço de incontestável valor histórico como esse”, conta Luciana, que logo se decidiu pelo imóvel. Mesmo sabendo que, uma vez efetivada a troca de endereço, ela abriria mão do clássico modelo expositivo do cubo branco (paredes, piso e teto) tão em voga em galerias de todo mundo. “O novo espaço me possibilita uma abordagem na qual a herança arquitetônica e a questão da cidade se integram permanentemente à produção veiculada pela galeria. “Sob um certo aspecto, sinto reviver preceito modernista de integração entre arte e vida”.

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“Creio que o atual interesse despertado por casas como esta se deve à integridade conceitual que o movimento moderno defendia”, comenta José Armênio de Brito Cruz, do estúdio Piratininga, que, ao lado de Bruno Rossi, se encarregou dos trabalhos de revitalização da residência. A recuperação do paisagismo original e sua complementação, apenas em espaços não tombados, ficou a cargo de Klara Kaiser, Koiti Mori e André Paollieloeto.  “Uma casa modernista é um sistema integrado. A implantação, os jardins, a estrutura, tudo está interligado. Partindo da prospecção das cores originais da construção -com a paleta tendo sido submetida à diversas incidências de luz- procuramos identificar toda e qualquer divergência em relação ao projeto original. E, após dezoito meses de reforma, me sinto à vontade em afirmar que o resultado nos agradou bastante”, afirma Rossi.

À dupla de arquitetos e também a Luciana, que mesmo antes da inauguração de seu novo espaço, já fez dele um palco de intervenções, convocando artistas como Caio Reisewitz, Héctor Zamora, Pablo Lobato, Rafael Carneiro, Regina Silveira, e Rochelle Costi, entre outros, para conceberam ainda durante as obras, distintas formas de ocupação da casa.  Uma experiência que acabou desaguando na mostra Residência Moderna. “A concepção da exposição deu-se de forma experimental e orgânica, a partir da interação prolongada dos artistas com esse espaço repleto de referências”, conta a galerista, que hoje inaugura seu novo espaço. Data na qual, São Paulo ganha sua mais nova galeria e a Castor Delgado Perez, volta a integrar, oficialmente, a lista de endereços da cidade.

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