Em casa, em Londres

O design dá o tom nesta reforma conduzida por Fernanda Marques no bairro de Belgravia

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Por Marcelo Lima
Atualização:

Estamos em Belgravia, centro de Londres. Uma das locações mais exclusivas da cidade, vizinha do Palácio de Buckingham. Endereço dos mais desejados, suas propriedades, construídas ao longo do século 19, estão hoje cotadas entre as mais caras da capital britânica. Mais não fosse, pelo seu raro padrão de ocupação, quase integralmente residencial.

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“Desde o início deste século, muitas das casas que até então eram ocupadas por escritórios voltaram a funcionar como residências. Isso coincidiu com a chegada de imigrantes muito ricos à cidade, sobretudo dos russos, o que fez com que a disputa pelos imóveis se acirrasse e os preços, que já eram altos, explodissem de vez”, conta a arquiteta paulistana Fernanda Marques.

Hoje, quase uma especialista em se tratando de Belgravia, dadas suas muitas visitas ao bairro para supervisionar a implantação de um de seus mais ambiciosos projetos: a remodelação, em tempo recorde, de uma residência com três pavimentos e área total de 310 m², adquirida por um casal de brasileiros, à época com data marcada para se transferir para Londres.

Uma oportunidade que, por tudo o que representava, se prenunciava única. “Londres é uma cidade fascinante, que conta com algumas das galerias de arte e de design mais influentes do mundo. Confesso que trabalhar em meio a tanta informação, em um imóvel de época como este e ainda tendo como clientes pessoas tão afinadas com meu universo estético foi mais do que eu poderia sonhar”, conta. 

Assim, compreender a legislação local para, na medida do possível, contornar as restrições impostas, foi fator determinante para o sucesso da empreitada. “O imóvel já havia sido reformado pelos antigos proprietários, responsáveis, por exemplo, pela abertura das claraboias no último pavimento e pela construção da escada helicoidal. Não vi maiores inconvenientes em integrar a escada à nova configuração. Apenas providenciei outro revestimento”, diz ela.

No mais, tudo se resumiu a ajustar a planta à dinâmica de funcionamento familiar. O primeiro piso ganhou duas suítes – incluindo a do casal – e teve suas condições acústicas aprimoradas. No intermediário, ficaram o home theater, a suíte dos dois filhos e a de hóspedes. No último, Fernanda optou por concentrar a área social da casa propriamente dita, com cozinha, sala de jantar e living.

Tarefa das mais delicadas, selecionar, peça a peça, cada um dos móveis e objetos que comporiam os interiores da residência foi, sem dúvida, a etapa que mais atenção exigiu da arquiteta. “Meus clientes foram muito exigentes. Faziam questão de se reconhecer no projeto. De se sentir em casa, mesmo a milhares de milhas do Brasil e ainda que debruçados sobre uma bucólica praça londrina”, conta a profissional que, contrato fechado, concluiu as obras em oito meses.

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Isso, claro, mobilizando todo o seu escritório na missão. “Desloquei um dos arquitetos de minha equipe para lá, para acompanhar o projeto in loco. Em Londres, qualquer alteração tem de ser imediatamente comunicada aos órgãos competentes e determinadas soluções demandavam decisão imediata”, conta. 

“Meu maior desafio foi encontrar o ponto de equilíbrio entre o acervo de arte e design garimpado por nós em Londres e o cotidiano agitado da família, em especial de seus dois filhos pequenos”, afirma ela, que, tendo como inspiração a luminosidade local, concebeu interiores generosos, de perfil minimalista, que viajam por tons de gelo e azul, chegando até ao lilás. E não poupou esforços para fazer deles uma verdadeira ode à arte e ao design contemporâneos, duas de suas permanentes inspirações. 

“Por mais conceitual que possa parecer, cada objeto presente neste projeto foi escolhido para integrar o cotidiano da família”, comenta Fernanda, diante de um living apenas esparsamente mobiliado, que, ainda que desprovido de um padrão convencional de organização, emana uma lógica própria, claramente perceptível ao primeiro olhar. “Vale a pena investir em design. Determinadas sensações só ele pode proporcionar: proximidade, possibilidade de interação, ou, se preferir, real intimidade”, sintetiza. 

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