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Da África para o mundo

Curadora do segmento de design do festival This is Africa, que aconteceu há dois anos em Lagos, na Nigéria, Titi Ogufere comenta o novo design africano

Por Marcelo Lima
Atualização:
A curadora nigeriana Titi Ogufere Foto: Essential Interiors

No ano passado, o Salão Satélite de Milão saudou o design africano como uma das principais forças emergentes da cena atual. Nesta edição, diversas marcas presentes ao Salão do Móvel incorporaram o trabalho de profissionais africanos às suas coleções. Curadora do segmento de design do festival This is Africa que aconteceu há dois anos em Lagos, na Nigéria, Titi Ogufere é mestra no assunto. “Nosso design corresponde a uma perspectiva cultural mais energética, ousada, audaciosa, cheia de vida”, afirma ela, que concedeu esta entrevista exclusiva ao Casa, pouco antes de partir para São Paulo, onde participa, esta semana, de um talk promovido pela IFI, International Federation of Interior Architects and Designers – Federação Internacional de Arquitetos e Designers de Interiores –, e organizado pela Associação Objeto Brasil (ver programação no site). 

A África é um continente. Sendo assim, considera válida a expressão ‘design africano’? Acredito que o design é universal, mas todos têm o direito de projetar sua própria cultura e geografia. Por exemplo, se você mora em uma região tropical, seja na Nigéria, ou no Brasil, suas necessidades de conforto serão, basicamente, as mesmas. No entanto, as respostas a elas podem ser dadas de maneira diferente, devido a outras peculiaridades. Região, cultura e patrimônio desempenham papel chave nesse processo. Em se tratando do design africano diria que é, simplesmente, o design originalmente adaptado ao estilo de vida das pessoas na África. O que não quer dizer que por suas qualidades ele não possa ser adotado e amado por qualquer pessoa, ou possa ser colocado dentro de uma caixa, uma vez que vai se transformando com o tempo. 

Espreguiçadeira de madeira, do estúdio nigeriano Mimimat Foto: Essential Interiors
Luminária metálica do estúdio Lani Foto: Essential Interiors

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A quais fatores a senhora atribui o atual interesse despertado pelo design ‘Made in Africa’? A África foi fonte de inspiração para a arte moderna no início do século passado, com a escultura africana influenciando alguns dos maiores artistas da história, como Picasso, Modigliani e Matisse. Desde então, o continente nunca mais deixou de ser uma fonte de referência. Acredito que o mundo está sempre em busca de novas ideias e expressões criativas, mas, graças à tecnologia e as redes sociais, a estética africana, com seus materiais e técnicas particulares, ganhou novo impulso, dando à África uma plataforma de visualização mais ampla, além de uma narrativa forte, não obstante nossos desafios.

Muitos críticos argumentam que os designers africanos operam no terreno do “mais é válido” em oposição ao “menos é mais” ocidental. A senhora concorda com essa visão? Eu concordo que, em geral, os africanos tendem a se inclinar para uma estética mais opulenta. Seja na moda, na dança, na música, na culinária e também no design. Dentro desta perspectiva, o viver comunitário desempenha papel fundamental. Em um estilo de vida onde minha casa é sua casa, tendemos a produzir móveis e objetos mais afeitos a essa realidade. Um jantar na casa de meu avô, por exemplo, pode incluir nossa família, que já é grande, mas também nossos amigos próximos. A casa tem de estar preparada para isso.

Móveisda linha Taboo, de Ayse Birsel e Bibi Seck, produzidos no Senegal com plástico reciclado Foto: Essential Interiors
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