Conceito brasileiro

Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, da Brasil Arquitetura, tiram partido do terreno difícil para construir uma casa, no Morumbi, com materiais naturais,soluções arrojadas de luz e muita cor

PUBLICIDADE

Por Olivia Fraga
Atualização:

A chuva que acabou de cair deixou o ar úmido e perfumado, e as plantas do quintal parecem mais vivas. Da rua é possível sentir o aroma das flores. Lá dentro, três crianças brincam no jardim. Trocam fácil o apelo da TV e o conforto do sofá pela diversão ao ar livre, porque a casa é deles e para eles - que correm num pega-pega entre as visitas, como se a sala fosse quintal. E é. No living integrado à paisagem, a parede azul logo destaca as obras de arte e o contraste com a pedra Góias branca do piso. Foto: Zeca Wittner/AE Encantada, a publicitária Isabela de Castro é só elogios para os arquitetos que realizaram o sonho da família. "Sinto o cheiro da dama-da-noite", diz ela, orgulhosa. Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, da Brasil Arquitetura e da Marcenaria Baraúna, assinam o projeto da casa no Morumbi. Conheceram o casal por meio de um amigo e, em 2000, Isabela e Marcelo Brandão, donos de uma produtora de publicidade para TV, viraram clientes. "Era um lote difícil", conta Marcelo Ferraz. Numa esquina "redonda", na ponta de duas ruas e à frente de uma praça abandonada, a obra teria de resolver o problema do desnível do terreno - mais elevado nos fundos, desbarrancado na frente. "Havia algo de anômalo no lugar e o projeto precisava ?esconder? a casa", lembra. Assim, em razão do brusco desnível, a planta está a serviço da privacidade. A entrada social fica na parte mais alta do terreno, no jardim lateral esquerdo. Degraus dão acesso à porta, que se abre para a construção semelhante a um leque: a "curvatura" é a própria varanda, onde estão o jardim e a piscina, que à noite fica toda iluminada por dentro. Nem sequer se vê sombra dos carros na garagem. Eles ficam num subsolo, encaixados do lado oposto à entrada social. Pilotis e assimetria Com a garagem "isolada" da construção de 420 m², as crianças parecem ter entendido a ausência de limites nesta espécie de bangalô com recortes assimétricos. O recurso arquitetônico faz com que o jardim invada a sala de estar, e não só pelo olhar: ali, no pé da escada que conduz ao pavimento superior, o espelho d?água atravessa um caixilho envidraçado (m² do vidro custa a partir de R$ 200, na Vidroarte), terminando ao lado da mesa de jantar, quase como um jardim aquático. A residência, apelidada pelos vizinhos de "a casa azul" (já que uma das empenas, parede externa, é de um azul forte), traz da arquitetura modernista dois pilotis à frente do jardim, que sustentam uma lâmina de laje na varanda. Rompem a curvatura e marcam o projeto com o que Marcelo chamou de "impressão de ordem". "A casa parece um ?negativo? na tentativa de aproveitar a topografia e a iluminação natural. Daí que essa análise dá origem às curvas da fachada, mas há, também, as linhas retas e a verticalidade das colunas."Assim, a varanda prolonga-se para abrigar os moradores, criando outra área de estar. O resto é estilo autêntico do Brasil Arquitetura: o colorido das paredes (com acabamento tosco, só com massa grossa), a madeira nos painéis de treliça dos quartos, o concreto aparente e a pedra São Tomé no térreo (de 27 cm x 57 cm, recortes livres, por R$ 132 o m², na Karina Pedras). Marcelo faz questão de mencionar a escada de estrutura metálica pintada de branco. Ela organiza o espaço e, entre tanta cor e luz, funciona quase como um "farol", dividindo o living em estar e jantar. No andar superior, os quartos saem do convencional, com paredes angulosas, sendo também invadidos pela luz natural graças aos painéis treliçados. Isabela gosta de decoração e o marido chegou a estudar arquitetura - ele mesmo desenhou o mobiliário da cozinha, que tem ilha central, bancos Girafa (design de Lina Bo Bardi, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, feitos de araucária, R$ 700 cada um, na Marcenaria Baraúna), estante aberta para utensílios (de inox, modelo semelhante na Tok & Stok, por R$ 686) e a bancada da pia debruçada sobre a janela. Móveis do antigo apartamento do casal vingaram na casa nova, como as poltronas Costela, do arquiteto Martin Eisler (R$ 1.680 cada uma, na Desmobilia) e as chaises Lounge e Ottoman, de Charles e Ray Eames (R$ 6.740, na Casa 21). Mas o destaque fica mesmo com a mesa de jantar: o casal trouxe da velha casa os pés de inox e, com R$ 500, comprou o tampo de madeira - "o melhor móvel que tenho", garante Isabela.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.