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Com alma de galeria

Em apartamento de 105 metros quadrados em Bruxelas, galerista belga encontra condições ideais para viver e expor

Por Marcelo Lima
Atualização:

A atmosfera é leve – ainda que densa de memórias – neste apartamento localizado no centro de Bruxelas, na Bélgica. Projetado para abrigar um dos mais respeitados galeristas locais, ele é depositário de um acervo exclusivo. Mas, igualmente, de condições superiores de distribuição e luminosidade. Quase irreais, digamos, para quem o conheceu há menos de dois anos atrás, quando atravessou a mais radical de todas as suas reformas.

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“Quando conheci, o imóvel estava mesmo em péssimas condições. Tudo estava muito deteriorado ou era muito antigo. A cozinha, fechada, não era mais adequada para os dias de hoje. Os quartos não tinham armários. Sem falar dos banheiros: mal posicionados, sem janelas”, conta o autor do projeto, o arquiteto belga Michel Penneman, que recentemente esteve em São Paulo para proferir palestra no Centro Universitário Belas Artes.

Com dois pavimentos, uma planta bastante recortada e 105 m², o apartamento, situado em um edifício construído no início da década de 1970, havia passado por diversos locatários. Até ser adquirido em 2012 pelo galerista Jean-Claude Jacquemart, que imediatamente solicitou ao arquiteto – e amigo – uma proposta de reformulação do espaço.

“Meu maior desafio foi colocar nele tudo o que Jean-Claude precisava para viver – incluindo seus magníficos objetos – e, ainda assim, oferecer boas condições de conforto”, analisa Penneman. Como agravantes, o orçamento era reduzido e existiam ainda outras necessidades urgentes. Como aprimorar as condições de iluminação natural, bastante deficientes. 

“Concentrei minhas atenções na área de estar. De certa forma, tudo gira em torno dela”, diz o arquiteto, resumindo o centro nervoso da casa: um ambiente com pé-direito duplo, abertura total para a cozinha e visualmente conectado aos dois andares do imóvel. “Providencialmente, com o pequeno escritório de Jean-Claude parecendo flutuar sobre ele”, brinca ele. 

Em termos gerais, as intervenções mais radicais ocorreram no primeiro pavimento. A cozinha, além de se abrir para o living, foi totalmente reformulada, recebendo novos armários equipados com geladeira, freezer, máquina de lavar, secar e até aquecedor vertical. 

No segundo piso, o apartamento ganhou finalmente uma sala de banho à sua altura. Sem falar de dois novos quartos, separados entre si por seus próprios closets e armários, para economizar espaço. Como característica comum, todos os ambientes do pavimento foram equipados com pequenas janelas de telhado, visando aprimorar as condições de luminosidade. 

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Também nesse sentido, frente à cada uma das esquadrias de alumínio, o arquiteto providenciou a instalação de persianas especiais para possibilitar o ajuste fino do nível de transparência e luz que penetra nos interiores do apartamento. Uma solicitação expressa do proprietário, preocupado em não prejudicar as muitas obras de arte expostas no local. 

“Em função disso, optei pelo branco puro em todas as paredes, incluindo as da sala de banho. Me pareceu a escolha mais natural. Nesse trabalho, sempre me pareceu que as cores deveriam surgir em função de seus muitos objetos, móveis e livros”, sintetiza o arquiteto. 

Para ele, mais importante do que imprimir coloridos às paredes foi ocupá-las bem – de fato raras são as paredes que não exibem ao menos uma obra de arte – e instalar luminárias com foco dirigido em quase todas elas. 

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Claro, interconectado, arejado. Quase integralmente branco – condição mitigada apenas pelo onipresente piso de madeira, alguns poucos móveis, além das muitas prateleiras –, o apartamento de um dos mais conceituados galeristas belgas emana uma simplicidade espartana. Uma atmosfera quase asséptica. 

“Este é um dos meus menores projetos, mas um dos que mais gosto”, admite Pennneman, para quem contar com a cumplicidade de Jean-Claude em todas as etapas do trabalho foi fundamental para um desempenho satisfatório. “É totalmente diferente trabalhar para quem você admira, como aconteceu aqui. E o resultado salta aos olhos”, conclui.

Decorando com arte

Maximizar a ocupação das paredes foi a solução encontrada pelo arquiteto Michel Penneman para acomodar a imensa coleção de óleos, gravuras e quadros acumulados pelo galerista belga Jean-Claude Jacquemart em toda a sua vida.

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No entanto, ao contrário da abordagem convencional, os trabalhos não aparecem apenas em função de sua visibilidade. O potencial decorativo também pesa. Haja vista a distribuição do piso ao teto, em quinas pronunciadas e até em pontos inacessíveis à visão. Ou, ainda, o tamanho e posicionamento, quase desproporcionais, de luminárias de apoio.

“Foi um trabalho realizado a quatro mãos. Para Jean-Claude, é o conjunto e não as obras separadamente que contam. Sem dúvida que é mais difícil expor assim, mas o impacto visual, em geral, compensa”, afirma Penneman.

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