PUBLICIDADE

Caso de amor

Paulo Rea transforma a madeira em peças que levam à reflexão

Por Bete Hoppe
Atualização:

Respeito e carinho são a base do casamento de sete anos do designer Paulo Rea com a madeira. "Cada pedaço tem sua particularidade de dureza e tonalidade. Especialmente em marchetaria, esse conhecimento da matéria-prima é fundamental para criar a partir da combinação das partes", explica. Assim, a madeira torna-se leve, quase maleável, nas mãos do artista, que explora nós e veios para dar contornos orgânicos às peças - as bordas ganham curvas muitas vezes imperceptíveis ao olhar. A mesa de centro retangular (R$ 2 mil), por exemplo, exige paciência para unir inúmeras folhas de louro-faia sem que a colagem seja visível. Tudo isso para tirar proveito das marcas semelhantes a minibolas dessa madeira. Paulo também se vale de elementos exteriores, como a incidência da luz, para realçar efeitos. Assim, cubos de diferentes alturas na prancha com quadrados também de níveis distintos fazem do tabuleiro de xadrez (protótipo em MDF) maquete de prédios. "Não é para jogar, é para refletir", adianta o criador. Outro tabuleiro - esse, sim, para jogar (de R$ 300 a R$ 600) -, traz figuras incas esculpidas em cedro ebanizado. "As peças originais, que eram bolivianas, se perderam. Pesquisei então a cultura do Peru para criar", explica. Em sua tradução, o cavalo acaba por se tornar lhama; e a torre, pirâmide. Formado em Psicologia na PUC-SP, em 1990, Paulo Rea fez uso dessa especialização durante quatro anos. E só. Porque a freqüênciade cursos de artes plásticas, marcenaria - e, em especial, marchetaria - logo deixaram de ser hobby. Entretanto, esse virginiano não jogou a carreira para o alto em troca da paixão: a mudança foi gradativa. Começou presenteando amigos e parentes com o que produzia; depois, passou a vender para eles. "Na época, fazia móveis de madeira maciça, só com encaixe", diz. Reinventar peças sem abrir mão da função a que se destinam é o objetivo do designer. "Tento dar um caráter artístico, que fuja do lugar comum", diz. No caso da cadeira Catedral (estrutura de pequiá e assento de compensado,por R$ 1.500), percebe-se um quê de exótico no desenho. "Queria fazer uma cadeira sem encosto, mas que não fosse um banco. Resolvi então criar arcos, que recuperam a distribuição de forças, à semelhança da obra de Gaudí. É como se a cadeira ?vestisse? o corpo", lembra. Móveis e objetos incomuns são a forma de Paulo Rea expressar seus questionamentos. "Fica difícil, por exemplo, ir além do cubo, uma forma tão equilibrada", afirma. "Para tirar o máximo dessa forma é preciso suavizar pela torsão, aproveitando o desenho impresso na madeira". O freijó foi a opção do designer na produção da série Cebola (a mesa lateral custa R$ 980, na Elementos da Terra), composta por mesa lateral e revisteiro (à venda na mesma loja). "Os veios e a cor não interferem no ambiente, adaptam-se a qualquer decoração", justifica. "São peças em que cheguei ao limite da envergadura da madeira."

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.